Os programas de test drives agradam quem recebe o carro, mas muitas vezes exigem sacrifício, tolerância e muito bom humor de quem os administram.
As fábricas de automóveis sempre se destacaram na promoção de programas especiais de test drives em ocasiões de lançamento de veículos. Até hoje, o objetivo sempre foi dar a VIPs ou a influenciadores, como são conhecidos atualmente, o privilégio de serem os primeiros — depois da imprensa especializada — a conhecer e ter contato com os novos produtos e, naturalmente, divulgar entre os seus seguidores e aumentar o interesse do público em geral.
As fabricantes consideram que essa exposição, hoje nas redes sociais, mas no passado, simplesmente circulando pelas ruas e avenidas com essas personalidades, ampliavam o interesse e valorizavam o modelo.
Reconhecer ao volante de um novo modelo de veículo um ator ou atriz, atleta famoso, empresário importante, piloto campeão ou profissional de sucesso desperta surpresa e o impulso em conhecer ou experimentar o automóvel também.
Apesar de hoje não funcionar mais assim, até bem pouco tempo atrás, exibir as novas atrações de mercado junto a famosos aumentava o desejo dos que os viam de possuir um automóvel igual.
A Ford realizou programas VIPs no lançamento do Corcel II, Galaxie e Del Rey, e a Volkswagen, já associada à Ford, por ocasião do Santana 2000 (motor 2-litros) em 1988 e Gol GTI no ano seguinte, reforçaram os atrativos dos automóveis. Esses programas, obtiveram êxito externo junto ao público e também, internamente, porque os funcionários tiveram a oportunidade de conhecer, conversar e até receber autógrafos em programa que proporcionou alegria e entusiasmo aos que tiveram contato com os convidados famosos.
O personagem que mais se destacou nesses programas foi o ator Raul Cortez, pela elegância, simpatia e gentileza com os funcionários, além de, pessoalmente, ter ido à sede da Autolatina, no bairro de Santo Amaro, para a devolução do automóvel, transmitindo suas opiniões à avaliação do Volkswagen Santana que teve a oportunidade de utilizar pelo período de duas semanas.
Raul Cortez era considerado um dos galãs do final do século passado, ao lado de Tarcísio Meira e outros que os sucederam. Em sua visita à Autolatina, provocou entusiasmo nas pessoas que o conheceram pela postura e comportamento exemplares. Segundo muitas mulheres da fabricante, nem mesmo a calvície diminuía o charme do ator.
Além de Raul Cortez, quase nenhum famoso compareceu à empresa a cada programa para a devolução dos carros e recorreram a funcionários para essa providência.
No programa do Ford Galaxie, o motorista de um deles estacionou o carro em frente à sede da Ford, no conhecido Centro de Pesquisas, na Via Anchieta, entregando as chaves e os documentos ao engenheiro José Augusto Barbosa de Souza, responsável pela manutenção dos veículos Ford.
Minutos depois, o engenheiro da Ford surgiu em minha sala para informar que o carro parou próximo ao local em que estava estacionado por falta de combustível e que fora a um posto comprar alguns litros de gasolina que o permitisse chegar à bomba da Ford no interior do Centro de Pesquisas.
Quanto aos VW, as operações de manutenção, entrega e retiradas dos veículos foi a cargo do departamento de Competições da fábrica, chefiado por Bob Sharp, uma vez que em 1988 a Volkswagen não participou dos campeonatos brasileiros de Marcas e Pilotos e de Rali, o departamento encontrando-se ocioso.
Em outra ocasião, também no programa do Galaxie, o mesmo José Augusto enfrentou uma situação mais complicada. Bem no final do expediente, recebeu o automóvel e, ao tentar levá-lo à oficina, também ficou sem combustível em plena Via Anchieta, mas com uma agravante: chovia torrencialmente.
Sem telefone, por ainda não existir o celular para pedir ajuda e com um compromisso familiar marcado, caminhou sob a chuva forte em busca de um posto e voltou ao carro com gasolina num saco plástico que o permitiu chegar à bomba de reabastecimento da Ford.
Completamente encharcado, entrou em seu carro e, por sorte, residia em São Bernardo do Campo, próximo à fábrica Ford.
Antes de se dirigir para o compromisso, passou pela minha sala e, apesar dos problemas, demonstrando um amplo savoir-faire, com um sorriso que disfarçava a expressão de cansaço e desânimo, comentou simplesmente: hoje foi um dia muito divertido.
LCS