Neste dia, há 45 anos, era lançado o primeiro carro produzido em série com motor a álcool do mundo, o Fiat 147. A fabricante ítalo-mineira, como suas congêneres e a população brasileira em geral, ainda não havia sentido os efeitos da crise do petróleo de 1973, senão o aumento dos preços dos combustíveis.
A Fiat, contudo, entendeu a sinalização: um combustível alternativo à gasolina, produzido em solo brasileiro, estava a caminho, o álcool etílico hidratado combustível (AEHC), hoje “apelidado” de etanol. No dia 14 de novembro de 1975 o governo Ernesto Geisel criava, por decreto, o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), destinado a estimular, mediante incentivos fiscais e financiamentos, o aumento do plantio da cana-de-açúcar e da produção de álcool.
A visão de futuro da Fiat foi de tal ordem que no mesmo ano de lançamento do seu primeiro modelo fabricado no Brasil, o 147 L, em setembro de 1976, começou o desenvolvimento de um motor para funcionar com álcool. Importante salientar que o motor do 147, por suas características, era totalmente novo no universo Fiat, o quatro-cilindros projetado por Aurelio Lampredi com comando de válvulas no cabeçote acionado por correia dentada e virabrequim apoiado em cinco mancais. Teve o Brasil a primazia de estreá-lo mundialmente.
Em vez do motor “Lampredi” de 1.049 cm³ (76 x 57,8 mm) que marcou a chegada do primeiro Fiat brasileiro, a engenharia partiu para a versão de 1.297 cm³ (76 x 71,5 mm) do mesmo motor. O protótipo do 147 a álcool foi exposto com destaque no estande da Fiat no Salão ao Automóvel de 1976 e causou furor.
O motor entregava 62 cv a 5.600 rpm e 11,5 m·kgf a 3.000 rpm, com taxa de compressão de 11,2:1. Infelizmente esses números de potência e torque ainda eram SAE brutos, só em 1990 a indústria automobilística brasileira passaria a adotar a potência líquida — real — seja SAE líquida ou a brasileira NBR 5484. Num exercício de extrapolação, o motor 1,3 a álcool desenvolvia 54 cv de potência líquida.
Para comparação, este mesmo motor a gasolina, lançado na versão GLS em junho de 1978, era de 61 cv a 5.400 rpm e 9,9 m·kgf a 3.000 rpm. Embora as potências fossem praticamente iguais, o maior torque da versão a álcool resultava em mais potência em rotação mais baixa, o que foi bastante apreciado.
O Fiat 147 a álcool foi lançado em setembro de 1979. Hoje, em algum galpão no Polo Automotivo de Betim, da Stellantis, há um novo motor Fiat a álcool pronto para ser utilizado que — diz-se — é incomparavelmente superior aos motores flex de baixa cilindrada quando abastecidos com álcool em potência e torque e, importante, com consumo muito próximo de um motor de mesmo tamanho funcionando com gasolina.
Por que não é utilizado num modelo de produção? Mistérios da meia-noite…
Nada mais lógico a fabricante do primeiro carro a álcool do mundo ter a primazia de produzir o primeiro carro a álcool do século 21.
BS