Três dias atrás (11) recebi um comunicado à imprensa do Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran-SP), o que órgão faz habitualmente para divulgar suas atividades de interesse público. Título do comunicado: “Detran-SP cede veículos para curso de Salvamento do Corpo de Bombeiros.” (foto de abertura) e explica que “carros removidos aos pátios como ‘sucata’ são fundamentais para formação e especialização dos profissionais.”
Uma ótima notícia, sem dúvida, principalmente por mostrar inteligência. Mas o que chamou minha atenção foi o emprego de palavra ‘salvamento’ em vez do famigerado — e errado — ‘resgate’.
Na minha coluna de 3/12 do ano passado falei sobre termos errados ou estranhos que vêm e ficam, e ‘resgate’ é um deles. A foto de abertura daquela matéria mostra um veículo do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal com a correta palavra Salvamento nele escrita em vez do corriqueiro Resgate. Minha opinião é que alguém leu ‘Rescue’ em alguma literatura em inglês e achou que era ‘Resgate’ na língua de Camões.
A imprensa escrita, falada e televisada adotou-o e o termo pegou, por exemplo, como em “O resgate foi chamado.” Tivessem os redatores desses meios de comunicação conhecimento do que ‘resgate’ significa, teriam rejeitado o termo. A explicação está na coluna supra mencionada.
É isso a que se refere o título desta matéria É nossa missão, como jornalistas, informar ao mesmo tempo em que ensinamos o correto. Senão acontece o que vem sendo publicado nesses dias que antecederam a corrida deste domingo (em andamento enquanto escrevo esta coluna), a Rolex 6 Horas de São Paulo, matérias falando em “briga de montadoras” só porque há fabricantes como Ferrari, Porsche, Peugeot e Alpine disputando. Tudo consequência da imprensa propalar tal aberração. De tanto ouvir e ler ‘montadora’ as pessoas acreditam ser essa a atividade das empresas que fabricam automóveis e demais veículos automotores, montar em vez de fabricar.
Outra aberração é chamar veículos de polícia de viatura, padrão das forças armadas e, por extensão, da polícia. De termo genérico passou a especificar carro de polícia. Chegou ao ponto de nas rodovias de pista dupla com retorno junto aos postos da polícia rodoviária haver a placa de proibido retornar (R-5A) com a informação complementar “Exceto viaturas”— com se todo mundo soubesse o que é viatura! (palavra originária do francês voiture, veículo). A informação complementar tinha que ser “Exceto veículos policiais”, nada mais simples. Por sua vez, a imprensa deveria ter o cuidado de nunca escrever ‘viatura’, da mesma forma ‘montadora’.
A repetição do engano forma o hábito. Caso típico é o total absurdo de achar que cilindrada é unidade de volume, quando é um substantivo. Já não é tão frequente como há cinco anos, mas ler “mil cilindradas”, por exemplo, ainda se vê. Pior, em tabelas de fichas técnicas compiladas por fabricantes de automóveis, como “Cilindradas – 1.585” O que o hábito não faz!
Poe falar em ficha técnica, há também as listas de conteúdo dos carros, em que se lê “Faróis dianteiros – Full LED”, como se houvesse faróis traseiros…. Mas nada é mais irritante do que ler — o AE poupa os leitores disso —, tanto nos textos do releases de produto quanto na lista de conteúdo, a siglas, em inglês, dos itens que o veículo tem, como Controle de cruzeiro adaptativo (ACC), Frenagem autônoma de emergência (AEB), Controle de descida (HDC), controle de tração (TC), assistente de partida em aclives (HSA), direção eletroassistida (EPS) e tantos outros. Para quê? Será para o leitor adivinhar como é o item em inglês?
É lendo que se aprende. Eu que o diga!
BS
A coluna “O editor-chefe fala” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.