A Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo) e a Polícia Militar Rodoviária do estado parecem não conversar.
A agência divulga diariamente vários boletins (imagem de abertura) sobre as condições de trânsito das principais rodovias concedidas do estado, tanto as que levam ao litoral paulista, quanto as que ligam a capital ao interior, um trabalho de real utilidade. Em geral, essas informações referem-se a lentidões e congestionamentos. Os trechos sempre são informados, como do quilômetro “x” ao quilômetro “y”
Por exemplo (6ª feira 30/8, início da tarde):
“Sistema Anhanguera-Bandeirantes
A Rodovia Anhanguera (SP-330) apresenta lentidão do km 12 ao km 11+360 e congestionamento do km 223 ao km 220 para quem segue em direção à capital. Para o motorista que está indo para o interior o tráfego é normal. A Rodovia dos Bandeirantes (SP-348) tem lentidão do km 16 ao km 13+360 no sentido capital, no sentido interior o tráfego flui normalmente.”
Com aa demais rodovias concedidas é igual, somente esse tipo de informação. Aliás, dizer que no outro sentido o tráfego flui normalmente é desnecessário já que não há ocorrência nele citada.
A impressão que passa é a agência focar apensas na informação de quem constatou o problema, sem entrar em detalhes como sua causa e o que foi feito para eliminá-lo ou ao menos mitigá-lo.
Supondo que a informação tenha partido da Polícia Militar Rodoviária, esta explicou ou não a situação à Agência? Se o fez, por que a Agência não o repassou?
Perturbações de fluxo não acontecem do nada, sempre têm causa. Uma bastante comum é um veículo em velocidade inferior à da maioria. Já contei aqui há muito tempo que quando houve o embargo do petróleo aos EUA pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) em 1980, o governo impôs um limite nacional de velocidade (55 milhas por hora/88 km/h), com o objetivo de conter o consumo de gasolina. Por ser velocidade baixa demais, a maioria desobedecia, mas alguns motoristas, não, ocasionando congestionamentos. Um veículo da polícia rodoviária então emparelhava com o veículo “lento” e mandava acelerar mesmo que o limite fosse ultrapassado.
A polícia rodoviária daqui tem capacidade para esse tipo de análise para o caso dos “donos da última faixa da esquerda” que não raro andam em velocidade inferior, às vezes em muito, à do limite, conhecida causa dos congestionamentos. A polícia rodoviária pode usar o acostamento para chegar ao local onde ocorreu um acidente ou outro problema mesmo com o tráfego parado.
A polícia rodoviária precisa ser implacável com quem trafega pelo acostamento, pois é única maneira de polícia, socorro médico e bombeiros poderem prestar assistência nos congestionamentos sem precisar interromper o tráfego na pista contrária. Fora essa questão óbvia, quem trafega pelo acostamento precisa voltar para a faixa de rolamento adjacente, piorando ainda mais a situação.
Note-se que na nota da Artesp reproduzida acima havia uma lentidão do km 12 ao km 11,360 — 640 metros! É claro que no curtíssimo trecho havia alguma irregularidade.
Reconheço que o trabalho de policiamento de qualquer natureza, rodoviário inclusive, é altamente complexo, com muitas variáveis, mas entendo que o trabalho do policial rodoviário deve incluir “desmanchar os nós” do trânsito nas estradas. E a Artesp precisa dar informação completa da causa dos problemas. Não custa nada.
BS
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