Foi assim que cheguei a este assunto: meu amigo Júnior Quibao me marcou numa postagem do Facebook que mostrava o cartaz abaixo, com o comentário “Mais uma sobre Kombi”:
Logo me interessei. Procurei o site deles e deixei uma mensagem com o meu WhatsApp. Logo veio a resposta de Fernando Cavallari. Pronto, caminho aberto para uma entrevista (ver adiante) e luz verde para esta matéria. Confesso que a cada passo encontrei coisas que me deixaram emocionado com este casal tão abnegado e dedicado à sua missão.
Vou começar com a história de Fernando e Roxane aproveitando o trabalho feito no segundo semestre de 2017 por Sabrina Franzol, da revista RMC.
PROJETO ITINERANTE UNE LITERATURA E CIRCO
Como a “Cia. Atitude” viaja pelo Brasil num ‘Kombi-biblioteca’ realizando apresentações e oficinas gratuitas.
Uma viagem a Bertioga, em 2008. As condições pareciam perfeitas para dias divertidos, mas na descida da Serra do Mar o carro ficou sem freio e só parou numa pedra próxima do abismo! Dentro do veículo estavam Fernando Cavallari e Roxane Souza Cavallari.
Após o episódio eles decidiram agradecer a nova oportunidade de vida levando arte e solidariedade para os quatro cantos do Brasil. Foi assim que nasceu, então, o projeto “Biblioteca na Praça Por Um Mundo Melhor”, em que o casal, que forma a “Cia. Atitude”, viaja pelo país utilizando um “Kombi-biblioteca” e apresenta em diferentes municípios espetáculos teatrais com fantoches.
Além disso, eles ministram oficinas artísticas. Tudo gratuitamente. Com narizes vermelhos e figurinos circenses, Fernando e Roxane são, durante as encenações, que na maioria das vezes ocorrem em espaços públicos, os palhaços Tampa e Panela.
Formados em arte dramática e teatro de animação, atualmente o casal mora em Saltinho, SP, 185 quilômetros a noroeste da Capital. Os espetáculos que levam às cidades abordam preservação do meio ambiente, bullying, felicidade e a importância de evitar o uso excessivo da internet.
Quando chegam aos locais de destino disponibilizam à população um “varal literário”. Os diversos livros pendurados por prendedores podem ser lidos por quem desejar.
Eles desenvolvem, ainda, oficinas de desenho, origami, entre outras artes. Há também brinquedos para as crianças, Em Piracicaba, SP, o casal já esteve em lugares como Rua do Porto, Zoológico Municipal e os bairros Santa Teresinha, Pauliceia e Monte Alegre.
“Desde o dia em que nosso Chevette 1988 ficou sem freio na Serra do Mar, começamos a valorizar um outro lado da vida. Fiquei desesperado na ocasião. Eu estava dirigindo e não havia dito nada à Roxane. Ela me falava para ir mais devagar e eu só dizia que estava tudo bem, mas pedia a Deus mais uma chance de vida. Assim que conseguimos parar na pedra, voltamos para casa e comecei a idealizar este projeto. Recebemos convites para apresentações e não paramos mais”, contou Fernando.
No início, ainda sem o Kombi, que foi comprado em 2011, as viagens eram feitas em ônibus intermunicipais, com todos os acessórios dentro de duas malas.
“Havíamos feito uma casinha de fantoches com PVC e pano. Passamos por cidades de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Certa ocasião chegamos em São José dos Pinhais, Paraná, numa comunidade muito carente. Parecia que as crianças nunca haviam visto palhaços. Elas queriam nos tocar. Uma delas, inclusive, parou para conversar conosco e disse que muitas outras tinham vontade de estar naquele local, mas não podiam porque não havia mais espaço. Então uma delas nos sugeriu termos um carro grande para nos apresentarmos em praças, e apontou para um Kombi que estava na rua. A partir disso guardamos dinheiro para comprarmos um”, relatou o palhaço Panela, acrescentando que os livros do projeto são todos oriundos de doações.
“Pedimos as obras de porta em porta e deu muito certo. Tivemos, inclusive, de dar uma parte dos livros para a biblioteca de Saltinho”.
O sustento do casal é proveniente do trabalho de Cavallari em um estúdio de vídeos, entretanto para manter o projeto precisam da colaboração das pessoas, não necessariamente em forma de dinheiro. Outra maneira de darem continuidade ao Biblioteca na Praça é por meio de patrocínios de empresas próximas aos locais onde estacionam o Kombi.
“Temos muitas dificuldades de levar o projeto adiante, mas o sorriso das crianças nos motiva a continuar”, disse Roxane.
Em entrevista, Fernando Cavallari fala sobre o Kombi deles
AG: E o Chevette 1988, que fim levou?
FC: Vendemos o Chevette 1988 por R$ 1.950 para comprar uma câmera fotográfica (DSLR Canon), que custava R$ 2.100,00. Tivemos que colocar do nosso bolso mais R$ 150,00 para completar a compra. A ideia era usar a câmera para produzir documentários, que exibimos no telão do Kombi durante o *Cine Kombinha*, um projeto que leva cinema à comunidade. Curiosamente, o primeiro documentário que fizemos com a câmera foi sobre um circo, onde passamos dois meses filmando. Usamos a câmera, um tripé e um celular para captar o som. Incentivados por amigos, enviamos o documentário, intitulado *Artistas da Lona*, para um festival de cinema, onde fomos selecionados e premiados.
AG: Vocês pensaram em outro carro antes de decidirem pelo Kombi?
FC: O palhaço Panela, eu, sempre sonhou em ter um Kombi ou um Rural Willys, desde a infância. Esse sonho permaneceu, e, depois de casado com a palhaça Tampa, a Roxane, o desejo de ter um veículo que pudesse transportar todo o material do teatro e ainda servir como cenário ganhou força. O Kombi se tornou a escolha perfeita para atender a todas essas necessidades.
AG: Quando decidiram de vez que iriam comprar um Kombi?
FC: Depois de muito tempo economizando, começamos a procurar o Kombi ideal. Encontramos alguns fora do orçamento, outros em más condições. Até que um dia, nos encantamos com um Kombi perfeito, principalmente pela janela que abria e seria ideal para as apresentações de fantoches. Durante a conversa com o dono, o palhaço Panela pediu o número de telefone dele, mas o dono respondeu: “Não precisa, tirei o cartaz de venda para você. Me liga mais tarde, porque esse Kombi é seu”. Contamos o dinheiro, e deu certo para comprá-lo. Ficamos muito felizes!
AG: O Kombi de vocês é um modelo raro, com duas portas laterais independentes, originalmente usado para transporte coletivo. Como foi a escolha desse veículo específico?
FC: Só descobrimos que era um modelo raro depois de comprá-la. O que nos atraiu foi a janela lateral, perfeita para as apresentações de fantoches. Mais tarde, soubemos que esse modelo era usado como táxi em São Paulo, devido às portas laterais independentes.
AG: Qual o ano do Kombi?
FC: 1988.
AG: Quantos quilômetros ele tinha quando o compraram?
FC: Não lembramos exatamente, mas já rodamos muito com ela, desde 2010.
AG: Onde compraram o Kombi?
FC: Compramos de um senhor que vendia verduras com ele, na cidade de Piracicaba.
AG: Tiveram que fazer modificações para adaptar o Kombi às necessidades do trabalho?
FC: Não exatamente modificações, mas fizemos muitos reparos, como nos bancos, parte elétrica, mecânica e pneus. Ele já tinha um bagageiro, e aproveitamos para anexar a armação do circo nele. Também colocamos adesivos perfurados nos vidros, com os desenhos do projeto.
AG: Como está sendo trabalhar com o Kombi? Ele dá muitos problemas?
FC: Trabalhar com o Kombi tem sido ótimo. Sempre que necessário, fazemos revisões, e de vez em quando trocamos ou consertamos alguma peça, mantendo o Kombi sempre em dia.
AG: Há algum acontecimento especial com o Kombi que você gostaria de compartilhar?
FC: O Kombi é incrível! Onde quer que a gente chegue e monte o projeto, ele se transforma em mágica. As crianças sempre falam: “Lá vem o Kombi dos palhaços”. Ao longo dos anos, vivemos histórias maravilhosas, levando sorrisos para crianças que nunca foram ao teatro ou circo. Esse projeto tem o poder de mudar a vida delas, trazendo esperança e alegria.
E Fernando fez questão de deixar uma frase registrada:
“Acredite sempre nos seus sonhos. Semeie, que a colheita vem.”
Fernando passou os contatos da “Cia. Atitude”:
Projeto Kombi no Circo
Celular: +55 11 98452-2320
Instagram @tampapanela
Fernando Cavallari – Palhaço Panela
Roxane Cavallari – Palhaça Tampa
Segue um vídeo (03:08) de uma reportagem da TV Globo: Kombi dos Palhaços:
E eu pedi a ele que informasse o PIX deles caso algum leitor ou leitora queira colaborar com o projeto deles e no caso o PIX é o e-mail:
[email protected]
Cabe aqui o meu agradecimento ao Júnior Quibao pela dica que resultou nesta matéria. Agradeço em especial ao Fernando pela participação na matéria e desejo a ele e à Roxane muito sucesso nesta linda empreitada.
As fotos que não tiverem uma identificação ao contrário são do acervo do Fernando Cavallari.
Foto de última hora
Fechando a redação da matéria eu entrei em contato com o Fernando para ver com foi o espetáculo do dia 28 de setembro em Rafard, São Paulo, aquele do cartaz do início da matéria. Ele me disse que correu tudo bem e que foi mais um lindo espetáculo que contou com a contadora de histórias Telma Salvador (frequentemente eles convidam um pessoal amigo para participar dos espetáculos), veja a foto abaixo:
AG
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