Muito se fala em “paz no trânsito” como objetivo a perseguir, há até campanhas a respeito de tempos em tempos, mas tudo começa por simples atos de cortesia. Ou por perdoar quem faz manobras que nos irritam ou ofendem. Como dia a oração de São Francisco de Assis, entre outros sábios ensinamentos, “é perdoando que se é perdoado.”. Aliás, para nós que passamos boa parte do nosso tempo ao volante, independente de crença religiosa a leitura desta oração deve ser feita com frequência.
Por algum motivo que não sei explicar, mas há de ter, uma explicação, quando se é cortês recebe-se o troco em forma de cortesia conosco. É como se outros motoristas percebessem nosso modo de ser. Um exemplo que não há quem não vivencie é estarmos no entroncamento de uma rua com uma avenida de tráfego intenso e lento e nos deixarem entrar nela. Por sempre facilitar o acesso para os outros nessa situação,, sempre me deixam entrar.
Acho incrível minha cortesia com os pedestres ser retribuída quando paro para lhes dar passagem em qualquer situação (não só nas faixas de travessia) e eles me gesticularem para seguir — exatamente o que faço quando pedestre.
Outra situação bastante comum é numa rodovia um veículo pesado (caminhão ou ônibus) indicar que vai ultrapassar outro, para isso indo para a faixa em que estamos. Isso já me irritou muito, mas hoje entendo a necessidade dele e aguardo calmamente o pesado concluir a sua ultrapassagem. O mais curioso é, ao contrário da minha calma, a pressa do pesado em voltar para a faixa em que estava.
Algum temo atrás eu viajava com um colega e amigo jornalista quando à nossa frente ocorreu um fato igual ao descrito acima. Ele dirigia e esbravejou forte. Aconselhei-o a repensar sua reação. justificando que era apenas um veículo dirigido por um ser humanos como nós. No resto da viagem — a estrada estava com movimento intenso — o fato dinâmico se repetiu, mas ele agiu de maneira totalmente diferente.
Outro exemplo de meu hábito em relação a veículos pesados é ver que lhe surgiu oportunidade de ultrapassar e imediatamente dar seta direita, acompanhado quase instantaneamente por ele ao dar seta esquerda e iniciar sua ultrapassagem.
Faz parte da cortesia bilateral agradecr, mas isso fica difícil com o nefasto hábito do carro-esconderijo e seus vidros da condução escurecidos. A comunicação interpessoal de motoristas é muito importante para ser deixada de lado só para ficar na moda ou achar que o carro fica “lindão” com os “sacos de lixo” nos vidros. Não sou o único a achar que um carro assim esquipado fica é horroroso.
Esse tipo de comunicação é particularmente importante para ciclistas e motociclistas, veículos mais vulneráveis no trânsito. É incompreensível que vidros com transparência inferior à mínima não seja alvo de fiscalização sistemática e intensa, verdadeiro crime de omissão do poder executivo dos três níveis de administração.
Tão grave quanto essa omissão é as seguradoras fazerem vista grossa para vidros com transparência em desacordo com a legislação de trânsito, potencial causador de acidentes, especialmente no período no noturno. Mas, estranhamente, essas mesmas seguradoras são inflexíveis com a altura de rodagem dos carros, chegam a medir a altura da parte superior do arco dos para-lamas em relação solo.
Pratique a cortesia. É por ela que começa a almejada paz no trânsito.
BS
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