Semana passada escrevi para o AE sobre a possibilidade de o Brasil se tornar um hub de produção de veículos elétricos e também de exportação de veículos em geral.
Analisando o potencial do mercado interno, há anos falávamos que a capacidade de produção do Brasil atingia números próximos a 5 milhões de veículos para uma produção ininterrupta de três turnos em todas as fábricas da época. Com a saída da Ford e a chegada dos mais novos entrantes, hoje a capacidade está próxima deste mesmo número.
Considerando o número mágico de 70% de ocupação de uma fábrica, a quantidade de veículos produzidos no Brasil deveria ser 3,5 milhões, no mínimo. Desde janeiro de 1957 o Brasil conseguiu produzir acima deste número em apenas 16 oportunidades no acumulado de 12 meses… Muito pouco.
O período de maior produção do Brasil ocorreu entre os 12 meses iniciados em outubro de 2012 e finalizado em setembro de 2013. Naquele período foram produzidas 3.774.045 unidades, segundo a Anfavea.
Já em relação aos emplacamentos, o período que compreende os meses de junho de 2012 e maio de 2013 comercializou 3.918.800 de veículos novos. Já se passaram quase 12 anos deste duplo feito. Atualmente a indústria nacional trabalha, no acumulado dos últimos 12 meses até outubro de 2024, com a produção de 2.497.634 e vendas de 2.585.182 unidades.
A exportação de automóveis fabricados no Brasil deveria ser uma atividade estratégica para o mercado automobilístico nacional contribuindo para o equilíbrio da balança comercial e a sustentabilidade da produção industrial.
Fazendo contas…
Entre 2019 e 2023 o Brasil exportou entre 324.330 (2020) a 480.929 (2022); vamos arredondar para 500 mil unidades. Com respeito aos emplacamentos, nos últimos 4 anos eles flutuaram entre 2 e 2,3 milhões de veículos. Este ano está previsto algo entre 2,6 e 2,7 milhões de unidades vendidas.
Utilizando como referência a soma dos melhores números, chegaríamos a 3,2 milhões de veículos novos produzidos o equivalente a 64% de ocupação total da indústria ou, do outro lado da moeda, 36% de ociosidade, um número considerado alto.
A alta produção serviria para duas situações. Fomentar as vendas internas de veículos novos e o excedente ser destinado aos nossos vizinhos da América do Sul, fortalecendo nossa indústria nos casos em que o mercado interno apresentasse alguma dificuldade (bem comum por aqui). Em resumo, a exportação poderia servir como um colchão para nossa indústria.
Uma das dificuldades que o veículo brasileiro tem para ser exportado diz respeito a competitividade comparada a outros mercados globais. Apesar de contar com mão de obra qualificada e relativamente barata bem como uma base industrial consolidada, o custo Brasil, que inclui alta carga tributária, logística onerosa e infraestrutura deficiente, encarece os veículos. Além disso o Brasil em sua atual condição tributária, exporta impostos onerando ainda mais o valor final do veículo… Cada questão de forma individual ou agrupadas limitam a capacidade do Brasil em exportar veículos para qualquer outro mercado. A reforma tributária, com seus efeitos plenos acorrendo a partir de 2032, tem o potencial de corrigir algumas destas distorções.
As novas tecnologias de eletrificação também tornam o Brasil um país atraente para a produção deste tipo de veículo (o eletrificado em especial). A exportação aos países que tenham interesse na descarbonização também não deve ser desconsiderada.
Nosso mercado é tradicionalmente conhecido pela fabricação e comercialização de veículos compactos e econômicos, como hatches e os suves pequenos que atendem a demanda por veículos acessíveis e adaptados a diferentes condições de rodagem, condizentes com o que temos na América do Sul.
O Programa MOVER incentiva a produção de modelos ainda mais modernos, eficientes, sustentáveis e tecnológicos adaptando o veículo nacional ainda mais ao mercado externo.
Para que o comércio entre os países exista é mandatório que o Brasil estabeleça, de forma urgente, mais acordos de comércio bilaterais. A consolidação do Brasil como um hub regional de produção e exportação poderia ser aproveitada para consolidar a sua posição estratégica na América do Sul e, quem sabe, ajudar na expansão da nossa presença em nível global. Difícil mas não impossível.
Importante recordar que o Brasil está há anos no top 10 dos emplacamentos globais e o nosso país não pode, de forma alguma, ser desconsiderado da indústria global quando o assunto é o mercado automobilístico.
Só falta um “leve” ajuste de rota…
MKN
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