Está no Wikipedia: “Combustível é uma substância que reage com o oxigênio (ou outro comburente) liberando energia, usualmente de modo vigoroso, na forma de calor, chamas e gases”.
Os veículos atuais (com exceção, lógico, dos elétricos) queimam gasolina, álcool, diesel ou gás. Que reagem com o oxigênio e explodem (“de modo vigoroso”) liberando energia que vai até as rodas. É assim há mais de 100 anos, desde o final do século 19, mas só agora decidiu-se enfrentar dois graves problemas:
– o combustível utilizado é de origem fóssil (petróleo, carvão, gás) e libera o carbono acumulado há milhões de anos nas profundezas. E gera o combatido gás carbônico (CO2) que provoca o efeito estufa e assim aumenta a temperatura média da Terra, o que estaria ocasionando mudanças climáticas;
– o projeto dos atuais motores é tão antigo que sua eficiência térmica é mínima. Mais de 50% da energia contida no combustível é transformada em calor, atrito, etc.
Biodiesel, uma solução problemática
Como se evita a carbonização da atmosfera provocada pelos atuais motores que queimam combustíveis derivados do petróleo? Substituindo-os pelos biocombustíveis, produzidos a partir de óleos vegetais e gorduras animais.
No caso dos motores de ciclo Otto, uma opção é o álcool, que foi um dos primeiros combustíveis dos automóveis no final do século 19, mas substituído pela gasolina no início da terceira década do século 20. Só na década de 1970 surgiram as primeiras questões em relação aos problemas ambientais, principalmente por ela conter chumbo tetraetila (naquela época) para aumentar a octanagem. O álcool etílico combustível é uma excelente opção à gasolina, por ser mais limpo, ter maior octanagem (equivalente, por não ter a iso-octana) e teor muito inferior de carbono. Além disso, a cana-de-açúcar, da qual ele deriva, ainda absorve CO2 da atmosfera enquanto cresce no campo. Não há complexidade para se adequar o motor a gasolina ao álcool, apenas alguns ajustes mecânicos e eletrônicos para que funcione com ele também (flex) ou só com o álcool.
Já no caso do ciclo Diesel as coisas se complicam, pois o biodiesel tem características que exigem um zelo adicional para evitar problemas graves no motor. Quando se vai aumentando seu teor no diesel acima de 10%, (no Brasil, hoje está em 14% e vai a 20% em 2030), forma-se uma borra no fundo do tanque, que entope o que encontra pela frente: filtros, bomba, bicos, etc. Há meios de se atenuar o problema, como aditivos, limpeza de tanques, estocagem por tempo limitado, etc. Os motores sofrem também no caso de temperaturas muito baixas, pois o biodiesel se cristaliza. Por isso, dificilmente se adiciona biodiesel em outros países em porcentuais superiores a 10%.
A solução de fato está no HVO (Hydrotreated Vegetal Oil), um biocombustível também produzido a partir de óleos vegetais ou gorduras animais, porém utilizando hidrogênio (H2) no processo, resultando em moléculas semelhantes às do diesel fóssil. Uma excepcional alternativa energética, pois praticamente não emite CO2, reduz as emissões de outros gases poluentes e é totalmente compatível com os motores atuais, sem provocar nenhum dos problemas do biodiesel.
Entretanto, os produtores de biodiesel desconversam quando se sugere o HVO, pois sua fabricação exige investimentos mais elevados. E pior, forçam o governo federal a homologar seu produto a partir de critérios mais políticos que técnicos.
Futuro é carro elétrico sem bateria!
Outro problema dos atuais motores a combustão está em sua absoluta ineficiência, pois é mínimo o aproveitamento da energia contida no combustível. Sua eficiência varia entre 30% e 40% em média. O “resto” é perdido em calor, atrito, um inexplicável desperdício de fontes energéticas. Só como referência, a eficiência do motor elétrico varia de 90 a 95% (a porcentagem indica quanto da energia utilizada é transformada em energia mecânica).
O combustível do futuro não será, portanto, utilizado por estes motores arcaicos (mas maravilhosos) que já deveriam estar há décadas no museu, embora sem eles, com toda certeza, não teríamos a excepcional mobilidade que tanto apreciamos.
Será, por exemplo, o hidrogênio, presente em toda a natureza (a começar pela água) e que contém muito mais energia (por volume) do que os atuais. Os motores elétricos dos veículos podem ser alimentados por energia elétrica produzida a bordo por meio de pilha a combustível (fuel cell), dispositivo já existente que, alimentado com hidrogênio, gera energia elétrica. Ou seja, roda eletricamente, mas sem bateria! Não é teoria: já existem carros e caminhões circulando assim, como o sedã Toyota Mirai (foto de abertura), apresentado no Salão de Tóquio em 2014 e vendido nos EUA e Europa partir de 2015. O que Mirai significa em japonês? Futuro…
Outra opção (que diz muito respeito ao Brasil) é a possibilidade de este sistema operar com hidrogênio extraído do álcool. O processo está em desenvolvimento por algumas das nossas universidades e seria “sopa no mel” num país que já tem uma rede capilarizada de postos com bomba de álcool há mais de.30 anos.
O problema das alternativas energéticas no Brasil é que o governo, pressionado pela bancada do agronegócio, se restringiu a estimular os biocombustíveis, apenas parte da solução ambiental e mais voltada para combustíveis do passado que do futuro.
BF
A coluna “Opinião de Botis Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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