Por volta do dia 15 de dezembro iniciaram-se alguns rumores em nível internacional sobre um possível acordo entre Nissan e Honda. Dia 18 fui consultado sobre o tema aqui no Brasil e considerei improvável tal fusão em função da necessidade de alinhamento com os franceses da Renault e da diferença cultural entre a gestão das empresas.
Entenda a situação atual. A Alliance (Aliança em português) é formada por Renault que possui participação acionária na Nissan (em torno de um terço das ações) que por sua vez é a maior acionista da Mitsubishi.
Dia 20, Carlos Ghosn, ex-presidente destituído sob muita polêmica da Nissan 6 anos atrás, preso no Japão e ‘ator’ de uma fuga provável apenas nos melhores filmes de ficção, anunciou que o potencial acordo entre Nissan e Honda indicaria que a primeira estaria em “modo pânico”. Vale lembrar que ambos travam batalhas judiciais com acusações mútuas! Entretanto Ghosn fez um comentário bem assertivo indicando que ambas empresas possuem portfólio de produtos semelhantes e atuam igualmente nos mesmos mercados.
Aparentemente esta entrevista mexeu com os envolvidos… Dia 23 uma coletiva entre os líderes globais da Honda, Nissan e da Mitsubishi, respectivamente, Toshihiro Mibe, Makoto Uchida e Takao Kato indicaram início de negociações de fusão que devem ser concluídas em junho de 2025 com a abertura do capital da holding em agosto de 2026.
Uchida foi protocolar e disse que a união irá “combinar seus pontos fortes e reduzir seus pontos fracos”.
Mibe disse que o processo ocorrerá para combater a ascensão da indústria chinesa mas que se dará no caso de a Nissan superar os maus resultados observados no último balanço.
Já Kato disse que a Mitsubishi definirá o futuro até o final de Janeiro de 2025. Não acredito… Creio que a marca irá para onde a Nissan caminhar.
Bom recordarmos que em 2023 a China deteve 32,3% da produção mundial de veículos automotores motivando uma verdadeira revolução na indústria. Lembro que 20 anos atrás não chegava a 3%! Ainda irei escrever sobre isso…
A matriz da Renault não tardou e no mesmo dia 23 publicou a seguinte nota traduzida:
“O Renault Group reconhece os anúncios feitos hoje pela Nissan e Honda que ainda estão numa fase inicial.
Como principal acionista da Nissan, o Renault Group considerará todas as opções com base no melhor interesse do Grupo e de seus stakeholders.
O Renault Group continua a executar sua estratégia e a implementar projetos que criam valor para o Grupo, incluindo projetos já lançados no âmbito da Alliance.”
Usando um pouco da semântica no mundo dos negócios, o que isso pode significar? Problema… Vejamos:
a) “ainda estão numa fase inicial”: nada foi decidido; é apenas um acordo de intenções;
b) “como principal acionista da Nissan”: indica que a Renault irá exercer os seus únicos interesses;
c) “considerará todas as opções”: considerará desde a cisão até a manutenção do negócio como está;
d) “no melhor interesse do Grupo e de seus stakeholders”: o que valerá é o que a Renault e seus investidores definirem;
e) “continua a executar sua estratégia”: mais uma vez, não importa o que a Nissan decida, Renault continuará a seguir o que ela definir como estratégico;
f) “projetos já lançados no âmbito da Alliance”: Alliance em primeiro lugar (e Alliance são as três marcas atuais) e um lembrete para a Nissan de que em breve serão lançados modelos elétricos da Nissan no mercado europeu com tecnologia Renault o que poderá ser um problema para a Nissan.
Muita energia será consumida com este assunto ainda! Só aguardar…
MKN
A coluna “Visão estratégica” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.