Dia 14 de janeiro a Anfavea divulgou uma nota enfatizando a alta na produção de veículos automotores, bem como a recuperação da 8ª posição no ranking global de países fabricantes retomando a posição da Espanha.
O feito por si só é grandioso, mas o que explica o tamanho de nosso mercado?
Eu sempre costumo dizer que não se pode falar de mercado automobilístico global sem citar o Brasil. Estamos entre os 10 maiores mercados há anos (veja tabela no final).
Apesar de sermos um mercado com uma população média menos abastada em relação aos mercados europeus e americano, temos uma população que ultrapassa 200 milhões e um mercado consumidor vigoroso que sempre foi motivo de atração de fabricantes globais que tenham como foco a expansão de suas operações. Nos dias recentes, inclusive, estamos passando por um processo similar com as fabricantes chinesas.
O Brasil possui uma indústria automobilística robusta iniciada com a vinda da Ford (1919) e da General Motors (1925) como montadoras, mas ainda na década de 1940 essa indústria começou a crescer, com a Fábrica Nacional de Motores em 1942 e Ford e General Motors passando a fabricar caminhões quando a II Guerra Mundial terminou. A década 1950 viu chegarem Willys-Overland, Volkswagen, Mercedes-Benz, Toyota, Scania e Simca; a Fiat demorou mais (1976). Mas antes (1945), a Vemag produziu, sob licença, tratores Massey-Ferguson, caminhões Scania-Vabis e a partir de 1956 os automóveis DKW, sob licença da alemã Auto Union.
Ao longo dos anos outras marcas chegaram, como a Chrysler em 1967 e na década de 1970 com a japonesa Honda (1971) e a sueca Volvo (1977). Em 1991 foi fundada a HPE Mgtores para representar as marcas Mitsubishi e Suzuki. No ano seguinte chegou ao país o Grupo `PSA Peugeot Citroën, em 1998 a Renault e em 2000 a Nissan., seguindo-se Hyundai em 2012, BMW em 2014 e Land Rover em 2016.
Houve joint ventures e fusões em nível mundial que tiveram reflexo aqui, respectivamente Fiat e General Motors em 2000 e Fiat e Chrysler (Fiat Chrysler Automobiles, FCA) em 2013. A sul-coreana Hyundai aportou aqui em 2012. E em 19 de janeiro de 2021 vimos nascer a Stellantis, fusão mundial da PSA com a FCA, detentora de 15 marcas.
Por aqui, assim, são produzidos todos os tipos de veículos passando por carros de entrada, veículos médios, motos, caminhões, ônibus e máquinas agrícolas, sendo umas das referências globais em transporte público e de carga.
Nossa capacidade produtiva é invejável. Nas Américas estamos atrás apenas dos Estados Unidos e do México, sendo líderes absolutos na América do Sul e servimos de hub atendendo outros países da região.
O governo brasileiro historicamente incentivou o desenvolvimento da indústria automobilística com políticas de redução de impostos, financiamentos acessíveis, incentivos à produção nacional e programas como o Inovar-Auto, que foi sucedido pelo Rota 2030 e agora pelo Mover, todos com ênfase no fortalecimento da cadeia de produção local, redução de emissões e inovação tecnológica. Importante frisar que o incentivo governamental não é uma característica única do Brasil e que vários países tiveram seu parque fabril automobilístico desenvolvido por intermédio de incentivos de seus governos.
Apenas faço a ressalva de que incentivos como a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), por estar localizado no final da cadeia produtiva, por ser mais um imposto destinado ao consumo e que serviu para regular estoques ou mesmo o mercado, não deixou qualquer legado para a indústria automobilística mesmo tendo sua importância em determinados momentos.
Interessante também reforçar que não apenas a fabricação de veículos é representativa. A cadeia produtiva como um todo está consolidada e conta com uma fornecedores fortes e diversificados com empresas nacionais e multinacionais produzindo diversos elementos para os veículos novos e para o mercado de reposição permitindo a produção local eficiente e a redução de custos relacionados à importação.
A frota circulante brasileira é relativamente grande e envelhecida e ajuda neste cenário contando, segundo números de 2024 do Sindipeças, com mais de 60 milhões de veículos automotores. Ainda são necessários investimentos em áreas de alta tecnologia, mas não se pode negar que esta é uma área de atuação forte no Brasil.
Nem tudo parece simples como o texto exemplifica e o país convive com os altos custos de produção, grande burocracia, uma infraestrutura limitada, entre outros problemas, mas o Brasil continua sendo um ator representativo na indústria automobilística global.
Ranking de países:
É aguardar nossa evolução como indústria. Sob meu ponto de vista, é questão de mais um tempo.
MKN
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