Na coluna desta semana irei comentar sobre uma modalidade que está se redescobrindo no Brasil e no mundo, os veículos por assinatura. Antes porém, importante citar algumas definições básicas relevantes para o correto entendimento do tema, em especial para aqueles que não estão tão familiarizados com o assunto.
Conceitos:
– Propriedade: é o conceito jurídico de usar, desfrutar e dispor do bem.
– Posse: é o conceito jurídico de usar e desfrutar do bem, ou seja, a posse não dá o direito de dispor o bem como seria, por exemplo, a sua venda.
– Aluguel de Carros (Rent a Car) é a modalidade na qual empresas disponibilizam veículos para locação, geralmente para pessoas físicas e por períodos curtos que podem variam entre horas até poucos meses.
– Na Gestão de Frotas Corporativas as empresas terceirizam a administração de seus veículos e às vezes até a frota completa. Neste caso os contratos são de longo prazo e o foco principal são as pessoas jurídicas.
– Compartilhamento de Veículos (Car Sharing) é um serviço que permite o aluguel de carros por curtos períodos de tempo, geralmente por algumas poucas horas.
A assinatura de veículos automotores era um tema em evidência até a pandemia global da Covid-19 quando quase todas as fabricantes investiam neste segmento e inúmeras startups de compartilhamento de veículos (car sharing) surgiram. Pelos motivos óbvios do recolhimento social as locadoras de veículos tiveram incontáveis casos de devolução de veículos e inúmeras startups simplesmente não foram adiante.
Os tempos são outros, novamente o assunto voltou aos holofotes e o tema aparentemente não será passageiro. Mais uma vez, quase todas as fabricantes e muitas startups passaram a investir no segmento de aluguel refletindo a mudança no comportamento dos consumidores, principalmente dos mais jovens, no que tange a mobilidade.
Conforme a definição dos conceitos exemplificados mais acima, deve ficar evidente ao leitor que o aluguel nunca garante a propriedade do veículo, mas apenas a posse. Em outras palavras, o usuário tem o direito de usar o veículo quando lhe for conveniente sem que o veículo seja dele.
O processo de aluguel de um veículo ou de assinatura (a diferença básica consiste no tempo do contrato) vêm ganhando espaço como alternativas ao financiamento, permitindo o acesso a veículos novos sem a necessidade de comprometer crédito ou pagar juros elevados.
A depender do plano escolhido para a assinatura, pode-se provar diferentes veículos de diversos segmentos com maior flexibilidade sem o compromisso formal de um financiamento ou mesmo compra de um veículo. Para muitos consumidores esta possibilidade se traduz em liberdade por permitir escolhas de acordo com o momento em que estão vivendo…
Outro ponto importante para quem assina, aluga ou compartilha é a despreocupação com certas burocracias como: seguros, documentação, manutenção preventiva, manutenção corretiva, depreciação, entre outros. Todos os serviços estão incluídos no valor mensal a ser pago pelo cliente. Questões como a venda do veículo ou mesmo a desvalorização acentuada de certas marcas ou modelos ficam sob a responsabilidade (e risco) das empresas que são os verdadeiros proprietários do bem.
A duração da assinatura e dos serviços nela incluídos podem ser ajustados conforme as necessidades do cliente. No processo de assinatura existe a previsibilidade de quanto se pagará por mês o que pode ser muito importante para determinados perfis, em especial em momentos de incerteza econômica.
Outro fator relevante diz respeito ao processo menos burocrático da assinatura em detrimento ao financiamento que exige uma liberação de crédito muito mais criteriosa por parte de uma instituição financeira sendo um impeditivo a alguns consumidores.
No curto prazo ou por períodos curtos, são claras as vantagens do aluguel em relação a um financiamento. Fatores como a ausência de entrada para o financiamento, eliminação de todas as despesas inerentes ao processo de compra como: seguros, IPVA, licenciamento, entre outros fazem do aluguel algo mais simples e vantajoso. Não é necessário dispor qualquer capital ou assumir qualquer risco no processo de compra e venda em relação a depreciação do bem. Enfatizo ser um procedimento pontualmente mais oneroso, entretanto mais vantajoso no curto prazo.
Já sob a ótica da mobilidade urbana, em especial nos grandes centros, é possível encontrar elementos relacionados a sustentabilidade, pois o aluguel permite o uso mais eficiente dos veículos reduzindo potencialmente a quantidade de carros nas ruas. Neste perfil, o aluguel diário ou o compartilhamento seriam as melhores opções.
Mas nem tudo são flores…
Muito embora existam serviços incluídos e a praticidade em tê-los todos discriminados num contrato, os custos mensais costumam ser mais altos no longo prazo do que os financiamentos conforme já descrito acima.
Existem também limitações de versões disponíveis e determinadas limitações contratuais, dentre as quais as restrições de quilometragem com custos extras normalmente bem elevados, valores de franquia de seguro superiores, proibição de uso em determinadas regiões (ou fora de determinadas áreas geográficas) ou mesmo restrições quanto a qualquer personalização do veículo. Vale recordar neste ponto que o locatário não tem a propriedade do bem e também por este motivo o veículo por assinatura não tem a (óbvia) opção da venda em momento de uma eventual necessidade financeira.
Ainda que a assinatura de veículos represente a evolução na maneira como as pessoas acessem a mobilidade demonstrando a capacidade de novos usos positivos da tecnologia, de novos comportamentos do consumidor e da viabilidade de uma economia circular, a adoção é lenta por existirem custos iniciais elevados e a necessidade de uma estrutura de suporte bem estabelecida que deve contar com uma rede apropriada de manutenção dos veículos, passando pelas seguradoras e finalmente pelo atendimento final do cliente.
É uma opção. Se será dominante no futuro, só o tempo dirá!
MKN
A coluna “Visão estratégica” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.