Ao ver tantos acidentes ultimamente, culminando com a recente e absurda colisão aérea de um helicóptero e um jato comercial na capital dos EUA, resultando em 67 mortes, veio-me à mente o fato de que toda mobilidade tem risco, é inerente dela. No caminhar, quer haver obstáculos não vistos desde um buraco na calçada a uma ponte que se esperava haver e não existia mais porque desabou, quer qualquer coisa que venha de cima, como um marquise que cai. Na locomoção sobre rodas ou aparatos deslizantes como esquis de neve o perigo sempre ronda, seja por erro de operação ou qualquer tipo de obstáculo. Na locomoção aérea, vai das máquinas aéreas aos meios de sustentação individual como os paraquedas, passando pela locomoção coletiva sobre trilhos e marítima/fluvial.
Quedas ao cavalgar, maneira primitiva de o Homem se locomover iniciada aproximadamente em 5.000 a.C. registram lesões permanentes ou óbito. Permanece na nossa lembrança a queda de Christopher Reeves em 1995, ator americano que teve seus melhores dias personificando o Super-Homem no cinema, que o deixou tetraplégico até seu último dia de vida em 2004, quando seu coração parou de funcionar no dia 10 de outubro.
No mundo motorizado sobre rodas, duas e quatro, nos acidentes o fator humano é tido como 70% ou mais como causa. É daí que vem a busca incessante (embora aparentemente esfriada hoje) pelo carro autônomo, mais apropriadamente condução autônoma: para reduzir acidentes por falha humana. Só que ainda falta muito para se chegar ao chamado Nível 5 dessa condução, a que suprime totalmente comandos de direção, aceleração/velocidade e de freios. E não há certeza de se chegar lá.
Enquanto isso
Enquanto os sistemas de condução totalmente autônoma não chegam, 1,2 bilhão de veículos autopropelidos circulam no planeta conduzidos pelo Homem. A lógica diz que ele precisa se reprogramar, seja por educação/convencimento ou por obediência total aos códigos de trânsito, sob pena de sofrer punições pecuniárias de alto valor e/ou reclusão em caso de descumprimento. Nada melhor há para convencer o transgressor da lei deixar da fazê-lo — códigos de trânsito são leis — que o medo da punição severa.
Todos sabem que a manobra de ultrapassar em vias de mão dupla, como as incontáveis rodovias país afora, é perigosa em si mesma. Por isso, cálculos de engenharia rodoviária baseados em espaço x tempo determinam zonas onde é proibido ultrapassar pelo simples fato de a manobra ser impraticável devido ao alto risco de colisão frontal com veículos que trafegam em sentido contrário.
Um parêntese. Sei, e muitos motoristas também, que é comum encontrar veículos à frente, em vias de mão dupla, em velocidade muito baixa, bem inferior à máxima permitida, que nos levam a ultrapassar em zona proibida. Essa questão é técnica e se chama relação peso-potência. É necessário, faz tempo, determinar essa relação de modo a acabar com tamanha lentidão, especialmente dos caminhões. É tarefa para o Ministério dos Transportes.
Colisões frontais são cada vez mais frequentes e de letalidade impressionante. Não só por ultrapassagens indevidas, mas também por invasão da faixa contrária , nesse caso por velocidade incompatível com a segurança nas curvas, associada, mais nos veículos pesados, a excesso de peso.
A lógica diz também que o poder executivo dos três níveis de administração não pode fugir do dever de manter todas as vias por onde estes veículos circulam em condições de uso absolutamente corretas no que tange princípios basilares de engenharia rodoviária.
Temos um longo caminho a percorrer para acertar esses pontos? Não tenho a menor dúvida disso, mas ele terá que ser percorrido. Não é favor, é obrigação dos condutores do país, ou continuarão praticando crime de omissão impunemente.
Ouviram bem, ministérios públicos?
BS
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