A imagem de abertura, mera ilustração, induz à ideia que temos “uma nova gasolina no país”, o que é tão falso quanto uma nota de 30 reais. Na verdade, temos mais uma jabuticaba em terra brasilis, que é mais álcool na gasolina do que o absurdo que já era a partir de 16 de fevereiro de 2015, no governo de dona Rousseff.
Se você tem carro flex (absoluta maioria da frota nacional), o aumento do percentual de álcool anidro na gasolina de 27% para 30%, anunciado pelo governo, não muda o funcionamento do motor. Aliás, automóveis flex nem foram testados, pois foram projetados para qualquer percentual de álcool. ou mesmo álcool puro. A dúvida está apenas no comportamento do motor que só queima gasolina, pois com o poder calorífico diminuído o consumo dela forçosamente aumentará.
Os estudos
- Os estudos para o novo percentual de álcool foram conduzidos pelo Instituto Mauá de Tecnologia, de São Paulo que o elevou — nos testes – para 32% (1% acima da tolerância oficial) e os motores mais modernos, com injeção eletrônica, não apresentaram nenhum problema.
- Mas as motocicletas testadas com o E32, segundo a Abraciclo, entidade que representa o setor de duas rodas e acompanhou os testes, “a avaliação dos resultados e ensaios indicaram pontos de atenção”. A entidade não detalhou o problema encontrado, mas sabe-se que algumas motos apresentaram dificuldade no arranque a frio.
- Além das motos, rodam ainda milhões de carros mais velhinhos produzidos antes de março de 2003 (início do flex) com motores a gasolina. E desprovidos da central eletrônica capaz de adequá-los a percentuais variáveis de álcool.
- A gasolina do tipo premium continuará com “apenas” 25% de álcool. Boa e alentadora notícia para quem tem automóveis importados. Mas, nada boa para quem tem motos e carros nacionais mais idosos, pois ela chega a custar 50% mais que a comum/aditivada.
- O ministro Alexandre Silveira (MME), ao anunciar que o governo vai encaminhar à CNPE (Comissão Nacional de Politica Energética) a proposta de aumento do percentual, frisou que a nova mistura terá seu preço reduzido na bomba, pois o álcool é mais barato. Novidade no nosso histórico de combustíveis, pois no passado, acréscimo do álcoo jamais reduziu — como deveria — o preço da gasolina no posto.
- Os problemas detectados nos testes acenderam uma luz amarela que recomenda extrema cautela para percentuais ainda mais elevados de álcool etílico anidro. A Lei do Combustível do Futuro prevê 35%. Mas o teor de álcool é limitado pela relação estequiométrica da combustão (relação ar-combustível). O que torna impossível aumentar indefinidamente este percentual.
- No frigir dos ovos, nada muda para quem tem carros importados e que já abastece com a premium. Mas vai complicar a vida de quem roda com carros mais idosos e a maioria das motos.
- O foco energético do governo brasileiro deveria se concentrar no álcool, que vem sendo subutilizado nos motores flex (apenas 30% deles são abastecidos com o derivado da cana). E um dos caminhos viáveis é estimular o motor a álcool pela tributação. Vários já estão prontos nas fábricas. Stellantis entre elas e até a Cummins, que transformou um motor diesel para queimar álcool.
- Sopa no mel seria incentivar um hibrido bem brasileiro, que teria um motor a bateria e outro a combustão queimando apenas álcool. Uma motorização com emissões de CO2 (gás de efeito estufa) inferiores até que o próprio carro elétrico.
BF
A coluna ‘Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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