A TÃO FALADA ESPORTIVIDADE

sf.

1. Qualidade do que ou de quem é esportivo.
2. Gosto pelo esporte.
3. Dedicação ao esporte.
4. Espírito esportivo; ESPORTIVA

[F.: esportivo + –(i)dade.]

Tenho visto com bastante frequência este termo nos textos sobre automóveis para falar de algo que remete a esportivo, tem esportividade independentemente tipo de carro. Há um ditado, salvo engano irlandês, que diz: “Palavras nos foram dadas para por elas expressarmos nossas ideias” (“Words were given us to express our ideas by.”).

Intriga-me quando leio que o volante de direção com um segmento achatado (e não ‘base achatada”, já que votantes existem para serem girados de maneira a esterçar as rodas e dar direção ao veículo), denota esportividade. Denota realmente? De uma maneira ou de outra facilita o dirigir quando se resolve ir mais rápido numa estrada repleta de curvas ou dar um contraesterço para sair de uma escapada de traseira? Você, como eu, há de convir que não. Portanto, ‘esportividade’ é um termo inaplicável neste caso.

Mas se o achatamento em nada ajuda o dirigir, por que é tão usado? Simples: desde que a posição do volante seja a de rodas não esterçadas, a distância entre o aro do volante e o assento do banco é maior do que se não houvesse o achatamento, o que facilita o acesso do motorista ao seu banco ao deixar a passagem das pernas sob ele mais fácil.

Certeza absoluta de ser essa a única razão para o achatamento num segmento do aro do volante. Conheci-o com 17 anos ao entrar no DKW-Vemag 1959 (foto de abertura) no salão de vendas da concessionária onde meu pai estava fechando negócio num 0-km. Claro, achei-o estranho, mas logo entendi o porquê disso. Porém, alguns anos-modelo depois o volante passou a ser totalmente circular. Acredito que tenha sido por ter sido nacionalizado e sendo totalmente circular tenha sido mais fácil (e barato) fabricá-lo aqui.

Outra “esportividade” que tenho visto ser mencionada é marca vermelha no aro do volante correspondente a rodas retas à frente. É comum vê-la nos carros de corrida, em especial os de rali. Ao contrário do achatamento, não vejo motivo para haver tal marca. Nunca em mais de 20 anos correndo tive qualquer dúvida quanto ao ponto em que estava o volante no seu giro. Tampouco a tínhamos no três carros de rali da Volkswagen. Creio ser mais um toque de “esportividade” do que qualquer outra coisa. Estarei enganado? Lembro que os carros de F-1 não podem ter essa marca porque não têm mais volante, mas um manche tipo aeronáutico.

O caráter “esportivo” costuma se estender a outras partes do carro. Aos pedais, por exemplo. Quem nunca leu “pedaleiras esportivas”? Redatores de releases das fabricantes costumam citá-las nos seus textos, quando na verdade cada  automóvel só tem uma pedaleira, o seu conjunto de pedais, Estes podem ter sapatas de liga de alumínio que em nada mudam ou influenciam o modo de dirigir. São apenas um pormenor decorativo.

Do mesmo modo que “dirigir esportivamente” é uma expressão, uma ideia incorreta —lembre-se do ditado irlandês. Dirige-se calmamente ou dirige-se rapidamente; condução normal ou rápida.

Outro erro comum é associar escapamento esportivo a ruído. Quem assistiu à Mil Milhas Brasileiras de 2007 viu o resultado 1-2 para os protótipos Peugeot 908 HDi FAP a diesel, e ficou admirado com o ruído de escapamento mínimo que faziam, eram praticamente inaudíveis.

BS

A coluna “O editor-chefe fala” é  de exclusiva responsabilidade do seu autor.