A atuação fria e calculista de Oscar Piastri no GP da Arábia Saudita (foto de abertura) deixou claro que a F-1 vive uma bem-vinda renovação após quatro títulos seguidos de Max Verstappen. No circuito de Corniche, em Jeddah, o australiano largou em segundo, assumiu a ponta na curva 1 e não se deixou abalar pela estratégia discutível adotada pelo holandês em assumir a liderança nesse trecho após traçar uma linha reta em trecho onde a pista tem uma curva. Ao tomar conhecimento de que o rival seria punido com cinco segundos, o novo líder do campeonato deu mostras de amadurecimento e frieza ao explorar corretamente essa punição.

Atrás dos dois, Charles Leclerc subiu ao pódio pela primeira vez no ano numa etapa em que Mercedes e Williams se destacaram, assim como Isaac Hadjar, que novamente marcou pontos. O brasileiro Gabriel Bortoleto, que derrotou esse piloto franco-argelino na disputa da F-2 2024, segue seu aprendizado explorando o que pode diante da pouca competitividade do seu Sauber-Ferrari.

Estabilidade de emprego
Uma das poucas equipes com dupla de pilotos definida para 2026, a McLaren parece destinada a reviver, de forma mais branda, o inferno astral que caracterizou a Red Bull em 2024. Enquanto Piastri evolui a cada prova, seu companheiro de equipe segue apresentando atuações medíocres. Na temporada passada Lando Norris lutou pelo título na segunda metade da temporada e pode-se dizer que foi derrotado por largadas decepcionantes e corridas erráticas. Este ano o piloto inglês iniciou a temporada vencendo na Austrália, mas nas quatro provas seguintes seus resultados foram deteriorando: segundo na China e no Japão, terceiro no Bahrein e quarto na Arábia Saudita. Essa retrospectiva é bem melhor do que a que custou a permanência de Sergio Pérez na categoria, porém em se tratando de McLaren pode ser considerada ruim.

Em comparação, Oscar Piastri foi nono na Austrália, primeiro em Xangai, terceiro em Suzuka e venceu novamente em Sakhir e em Jeddah. Diante disso pode-se dizer que há poucas maneiras mais eficientes de abalar a autoconfiança de um companheiro de equipe no início do campeonato. Contribuem para tanto dois fatores: o perfil juvenil de Norris e a frieza de Piastri. O inglês desembarcou na F-1 apresentando performances excelentes para um estreante. Perdeu para Carlos Sainz em duas temporadas: em 2019 e 2020 o espanhol foi sexto no campeonato (96 e 105 pontos, nessa ordem) e o inglês décimo-primeiro e nono (49 e 97 pontos), respectivamente. A partir de então foi sempre melhor que seus companheiros: em 2021/2022 foi sexto (164,5 pontos) e sétimo (122), respectivamente, contra um oitavo (115) e um décimo-primeiro 37) do australiano Daniel Ricciardo.

Em 2023, ano em que o time fundado por Bruce McLaren em 1966 iniciou uma reestruturação, Oscar Piastri assumiu o lugar de Ricciardo e, desde então, a cada corrida mostra evolução superior à do seu companheiro de equipe. Naquela temporada ficou em nono (97) e no ano passado, em quarto (292), contra um sexto (205) e um segundo (374) de Norris, na mesma ordem. Essa toada segue cada vez mais firme para o novato da vez e envia sinais de que Norris não tem características de campeões como Senna, Hamilton e Verstappen.

Todos esses eram agressivos e implacáveis na pista frente a rivais e, particularmente, companheiros de equipe. A relação entre o inglês o australiano ainda parece tranquila, mas Norris não consegue transformar o seu potencial em resultados, algo que Piastri faz melhor a cada volta completada. Contribui para isso o fato de ter sua carreira gerenciada pelo compatriota Mark Weber, que mostrou um caráter aguerrido em sua passagem pela F-1.
Piastri e Norris estão confirmados na McLaren para 2026, ao contrário do que acontece em outras equipes. Na Red Bull, por exemplo, fala-se do interesse da Aston Martin e da Mercedes por Verstappen, que se mantém calado sobre seus planos para o futuro próximo. Vários sites que acompanham a F-1 indicam que o holandês pode até optar por um ano sabático caso não encontre um pacote competitivo para buscar mais um título.

O contrato de George Russell com a Mercedes acaba no final da temporada e Toto Wolff considera o assunto em aberto diante da possibilidade de ter Verstappen em seu time. O lugar de Alex Albon na Williams torna-se cada vez mais atraente diante da melhora que a equipe de Grove demonstra a cada corrida e na Aston Martin não faltam rumores sobre o futuro dos seus dois pilotos. Ironicamente, o maior candidato a deixar o time é o bicampeão mundial Fernando Alonso; Lance Stroll, que já soma 75 GPs sem chegar ao Q2 nas provas de classificação, ainda é o protegido do pai e proprietário da equipe que no ano que vem terá a Honda como provedora de motores.

O Campeonato Mundial de F-1 prossegue entre os dias 2 e 4 de maio com o GP de Miami (EUA), etapa que terá a disputa de corrida sprint na tarde de sábado. O resultado completo do GP da Arábia Saudita você encontra aqui.
WG
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