Aqui na coluna já falei da concessionária Volkswagen Guanauto no Rio de Janeiro por meio de uma pesquisa de Hugo Bueno. Já escrevi também sobre a Sabrico, de São Paulo, graças a um relato de Luiz Antônio Buozzi, ex-funcionário Volkswagen. hoje aposentado E agora vou falar da Lemos & Brentar que foi Serviço Autorizado VW, também do Rio de Janeiro, uma dica do amigo Fernando Fuhrken.
Há alguns dias ele me contou suas primeiras memórias automobilísticas, do tempo em que ainda estava no Jardim de Infância e passava pela rua Jardim Botânico, número 705, no bairro de mesmo nome, no Rio de Janeiro. Lá ele via um Fusca sobre a entrada de uma oficina.
Esta lembrança dele quando ainda criança me levou a fazer a foto de abertura como se fosse da maneira que uma criança se lembraria daquela cena de uma maneira mais lúdica. Mas a foto real é uma imagem icônica:
Os detalhes da foto são o Kombi tipo “Porta de Celeiro” no fundo do corredor, e o Fusca sobre o portão. Um detalhe é que em vez da “bananinha” (indicador direção tipo semáforo que saía do seu alojamento) viam-se “Orelhas de Padre” — apelido dos sinaleiros direcionais piscantes, acessório da época. Dá para ver bem na foto que o portão tinha linhas diagonais dispostas como se fosse o logo “VW” estilizado (expediente que foi necessário já que a Volkswagen não permitía o uso não autorizado de seus símbolos). A oficina ficava num galpão nos fundos.
A história e a evolução desta oficina foram muito bem relatadas por Gustavo de Lemos, filho de Aluízio de Lemos, num relato que começa comentando a foto abaixo ( tomamos a liberdade de complementar este relato com alguns esclarecimentos adicionais):

[Começo do relato do Gustavo Lemos]
“Vemos a instalação, em 1968, de um Puma no começo do corredor de entrada da Lemos & Brentar.
Ele permaneceu aí até 1980, quando foi removido, mudou de cor, e foi transferido para a fachada do prédio à direita onde está o letreiro Formad. O carro era meia carroceria que a Puma enviara de presente para os novos concessionários no Rio e substituiu um Fusca que estava pendurado no mesmo lugar.
Na época eu tinha quinze anos e estava aí acompanhando a instalação. Meu pai está de costas sobre o muro, na altura do capô do táxi DKW. A foto provavelmente foi feita pelo Albino Brentar.
Lemos & Brentar em três tempos
A primeira fase foi de 1957 a 1968, com o Fusca pendurado em 1959.
A segunda com o Puma que foi de 1968 a 1980.
A terceira de 1980 a 1986 em amplas instalações.
Em 1957, Aluízio de Lemos e seu sócio numa locadora de automóveis, Edgard Torres, compraram uma oficina na Rua Jardim Botânico nº 705, telefone 26-4351, que se chamava Auto Super, para fazer manutenção dos carros da frota de locação.
Em 1959 a sociedade foi desfeita e na partilha dos bens meu pai ficou com a oficina, que resolveu explorar com o sócio remanescente da Auto Super, Albino Brentar e Aluízio de Lemos se tornando sócios.
Foi criada a Lemos & Brentar, especializada em VW, principalmente em preparação e montagem de Kits Okrasa no motor e lanternagem (funilaria) para companhias de seguro, com as quais Aluízio tinha ótimo relacionamento.
A ideia de colocar o Fusca no alto surgiu de um carro que deu entrada na oficina com o lado direito totalmente destruído e a seguradora deu perda total. Compraram o carro no estado por uma ninharia, cortaram-no ao meio no sentido longitudinal e o fixaram no alto, na entrada, para permitir a passagem de veículos e pessoas sob ele.
Não se sabe de qual dos dois surgiu a ideia, já que ambos discutiram a autoria até à morte. O fato é que foi um grande sucesso, que atraiu a atenção da VW, que tinha acabado de inaugurar sua fábrica de São Bernardo do Campo. Isso a levou a oferecer à Lemos & Brentar nomeação como Serviço Autorizado VW, que permaneceu com esse status durante cerca de três anos.
Mas naquela época a VW não permitia que suas concessionária e serviços autorizados fizessem qualquer modificação nos carros, o que era mister da Lemos & Brentar, com modificação dos motores 1200 por meio dos Kits Okrasa que aumentavam a cilindrada e potência, e alterações na suspensão do Fusca, como, por exemplo, venda e colocação de alargadores de alumínio nas rodas traseiras para aumentar a bitola. Começou um conflito entre as partes que culminou com o cancelamento do Serviço Autorizado pela Volkswagen e subsequente ação na justiça contra a fabricante, ação essa vencedora e que resultou numa polpuda indenização aos dois sócios, que continuaram com sua atividade de oficina especializada em VW.
Em abril de 1968 a Puma passou a produzir seu esportivo com mecânica Volkswagen depois que a Vemag encerrou atividade em novembro de 1967, obrigando a Puma a mudar radicalmente seu principal produto e começou a fase Puma, na qual a Lemos & Brentar se tornou a segunda concessionária da marca no país, perdendo apenas para a Comercial MM de São Paulo, que pertencia a dois dos quatro sócios da Puma, Milton Masteguin e o piloto Mário César de Camargo Filho (“Marinho’). A Lemos & Brentar vendeu mais de 6.000 Pumas até o fechamento da fábrica do Puma.
[NR.: Foi o saudoso Jorge Lettry, que era sócio da fábrica Puma e amigo de Aluízio e Albino, quem ofereceu a representação da marca ainda incipiente e com produção e mercado pequenos, para a Lemos & Brentar]
Em 1979, compraram o contrato de locação da Formad, loja de materiais de construção que ficava ao lado do corredor de entrada da oficina, e resolveram trazer a concessionária de motos Honda que tinham na Gávea (Setemo) para o local. A nova loja foi inaugurada em 1980.

Em 1986 a Lemos & Brentar foi vendida para a Auto Modelo, que estava desesperada atrás de um local para a concessionária VW da Lagoa que foi desativada para construção de prédios de apartamentos.
Albino faleceu em 2001, faltando um mês para completar 70 anos. Aluízio, meu pai, em 2007, com 80 anos.”
[Fim do relato do Gustavo Lemos]
Uma reportagem do Jornal do Brasil (de depois de 1986) dava conta que “Albino tinha sido o sócio técnico e Aluízio o financeiro. Os dois entendiam de Volkswagen, pois inclusive o Aluízio tinha feito todos os cursos da Volkswagen, mas como ele mesmo dizia, ‘o Albino é mais profundo’. Albino também reconhecia que o Aluízio, em questão de contas e impostos, era melhor e assim foram vivendo, cada qual, porém, tinha o direito de meter o bedelho na parte alheia.
Tanto um como outro (na época daquela reportagem), ou seja, o Lemos e o Brentar, eram sossegados chefes de família. Assistiam corridas e confessavam-se inquietos quando ouviam uma motocicleta passar roncando pela rua. Sublimavam, porém, a paixão dos motores no trabalho da oficina. E concluíam: um homem deve fazer aquilo de que gosta na vida. E nós gostamos de motores.”
Fica aí mais um registro de uma empresa que foi Volkswagen e depois Puma. Agradeço ao Fernando Fuhrken pela sugestão para esta matéria. Ele já colaborou com matérias desta coluna.
Também agradeço ao Luiz D. do blog “Saudades do Rio” pela permissão do uso do material fotográfico que ilustra esta matéria. Ele também falou com o Gustavo de Lemos que gentilmente permitiu a transcrição de seu relato sobre os negócios de seu saudoso pai.
AG
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