O Brasil dos curtos ciclos econômicos, ou não, a escalada dos juros Selic, que vem sendo executada pelo Banco Central (Bancen) para conter a persistente inflação, enfim fez-se sentir no mercado de automóveis e comerciais leves. O aviso de mudança de tendência que vinha sendo anunciado por meses seguidos nas reuniões mensais da Anfavea não era à toa. Ligados a todos os sinais do mercado, os executivos da Anfavea já viam com certa apreensão, apenas esperando quando a alta dos juros dos financiamentos iria impactar nas vendas. A hora veio.
Em março tivemos ligeira queda no volume de vendas no varejo, coisa de 5%, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) avisara que a queda total de veículos financiados, novos e usados, estava em 3,5%, na mesma base de comparação, março contra mesmo mês do ano passado. Quem segurou as pontas, mais uma vez, foram as vendas diretas. O crescimento no varejo no acumulado do trimestre ainda está positivo, por conta de janeiro e fevereiro, em 3% apenas. Como há zero esperanças de que o Bacen reduza a Selic este ano, podemos esperar por três trimestres restantes de empate técnico com o ano passado, ou mesmo ligeira queda.
Produção também caiu em março, segundo a Anfavea. O recuo foi de 12,8% com relação a fevereiro, muito por conta das exportações e ajustes de estoques das fábricas. A crise no comércio mundial causada pela mudança da política americana não deve adicionar mais água no chope, mas vejo alguns poucos efeitos sim. A fábrica da VW na Argentina, que faz hoje a Amarok e o Taos, a partir de agosto ficará somente com a picape, pois o suve médio da marca passará a vir do México, que teve um golpe abaixo da linha da cintura de 25% com as tarifas impostas para vendas aos EUA.
Por outro lado, nossos hermanos da VW passarão a fabricar uma nova geração da Amarok daqui a menos de dois anos, o que é muito bom para todos. Outra mudança importante no país vizinho é a Nissan deixará de fabricar a Frontier, que também passará a vir do México. Estes planos já vinham sendo discutidos há mais tempo, portanto não há relação com a crise das tarifas americanas.
No total, licenciaram-se 195.536 autoveículos, sendo 184.371 leves, 9.372 caminhões e 1.793 ônibus. O ritmo de emplacamentos diários bateu quase nos dez mil, 9.704 para ser preciso, o que é um bom número, mas volto a ressaltar que as vendas diretas ficaram com metade desse bolo. Para os fabricantes que priorizam o varejo, por questões estratégicas de receitas, o bolo ficou ligeiramente menor, o que deve forçá-los a rever planos. Não por menos a GM havia anunciado paralisação de produção na fábrica de Gravataí, que já voltou ao normal agora.
Há também um aumento do número de importados, coisa que vem sendo discutida entre Anfavea e governo, principalmente por conta de China. Enquanto as duas fábricas da BYD e GWM não iniciam produção, essas duas marcas detêm conjuntas quase 50% do segmento híbrido (Fiat tomou um naco com seus modelos semi-híbridos) e 80% dos elétricos puros, porém estes tiveram queda de 22% com relação a março do ano passado.
Vendas no varejo estão em patamar mais baixo dos últimos 12 meses, mas as vendas diretas vão bem, obrigado.
O quadro abaixo mostra vendas varejo e diretas por fabricante, comparando os trimestres acumulados com o ano passado.
RANKING DO MÊS E DO TRIMESTRE
Fiat, VW e GM nas três primeiras posições, com respectivamente 37.363, 27.424 e 15.998 unidades, Toyota em 4º, mas desta vez bem perto da GM, com 15.894 emplacamentos, depois Hyundai, Renault, Jeep, Honda, BYD, Nissan fechando os dez primeiros.
No acumulado do trimestre, a mesma ordem do mês, Fiat com 110.587 unidades licenciadas, alta de 9% sobre 2024, VW com 78.824 (+3%), Chevrolet com 55.808 (-2%), Toyota, Hyundai, Jeep e Renault, Honda, BYD e Nissan fechando os dez primeiros.
Nos automóveis, o Argo (foto de abertura) superou o Polo, com 8.247 unidades vs. 8.120 , em seguida o T-Cross, com 6.512, depois HB20, com 6.122, Corolla Cross surpreendendo, com 5.834, em seguida Onix, HR-V, Kwid, Mobi e Kicks. No trimestre também mexidas na ordem do ranking, Polo liderando, com 21.882 unidades, Argo, 19.727, T-Cross, 18.379, Onix, Creta, HB20, Mobi, HR-V, Tracker e Corolla Cross.
Nos comerciais leves, Strada num distante 1º lugar, 10.256, Saveiro assumindo de vez a 2ª posição, 5.692, Toro em 3º, 3.629, Hilux, Ranger, S10, Rampage, Fiorino, Montana e Master. No trimestre a ordem muda pouco, Strada com 29.299, Saveiro com 13.304, Toro, 10.729, Hilux, 10.217, Ranger, S10, Rampage, Montana, Fiorino e L200/Triton (soma dos dois modelos).
Este mês tem o novo VW Tera e Nissan Kicks de nova geração para disputar os compradores de suves de entrada e compactos, respectivamente. O ritmo de lançamentos será menos intenso que ano passado, mas ainda assim interessante.
Até mês que vem!
MAS
