AVALIAMOS O VW TERA: UM CLARO DNA DA MARCA VW (COM VÍDEO)

Lançado oficialmente no Brasil com preços a partir de R$ 99.990, conforme matéria do Bob Sharp, o novo Volkswagen Tera chega para desafiar o segmento de suves compactos. Seus principais concorrentes são o Fiat Pulse e Renault Kardian. Desenvolvido por brasileiros na fábrica Anchieta em São Bernardo Campo e produzido em Taubaté, SP, o modelo é um dos 17 lançamentos que a marca alemã promete até 2028 e já nasce com apetite global: será vendido em mais de 20 países. Mas além do discurso de marketing, o Tera mostra substância. Na avaliação técnica e dinâmica confirma aquilo que se espera de um verdadeiro VW — com algumas surpresas positivas e um ou outro detalhe que ainda pode evoluir.

Abaixo está o vídeo gravado durante a avaliação dinâmica do veículo:

Plataforma MQB: identidade clara ao dirigir

Mesmo de olhos vendados, é possível identificar que se trata de um produto baseado na conhecida plataforma MQB. A ergonomia, o encaixe dos comandos, o comportamento dinâmico e até mesmo a sensação de rodagem entregam a identidade típica dos Volkswagen atuais – uma qualidade que agrega valor e previsibilidade ao uso cotidiano.

O destaque vai para a integração do sistema propulsor, que é quase perfeita. O motor 170 TSI de três cilindros mostrou resposta linear e entrega de torque compatível com o propósito urbano-rodoviário do carro. No entanto, há uma observação: acima das 4.500 rpm, nota-se uma aspereza adicional do motor, típica dos três cilindros turbo. Talvez um refino na calibração dos coxins de motor já resolva essa característica que destoa da suavidade predominante do conjunto.

Suspensão com personalidade própria

A suspensão do Tera é outro ponto que reforça o DNA da marca. O conjunto, composto por McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira, mostra-se muito bem acertado tanto no asfalto quanto em pisos irregulares. Em acelerações mais fortes, especialmente nas saídas de semáforo ou retomadas em subidas, nota-se que a frente do carro levanta sutilmente, o que reforça a sensação de vigor e entrega de torque.

Em curvas, o controle de carroceria é exemplar para um suve compacto. A direção com assistência elétrica tem peso adequado e progressividade, transmitindo confiança mesmo em ritmos mais elevados.

Duas versões testadas: TSI Manual e High Automático

Durante a avaliação, tivemos a oportunidade de dirigir duas versões equipadas com o motor 1,0 TSI: na ida para Taubaté, optamos pela versão TSI com câmbio manual de cinco marchas. Na volta, dirigimos a versão topo de linha High com o pacote Outfit The Town Edition, que traz o mesmo motor, porém acoplado a um câmbio automático de seis marchas com conversor de torque.

A diferença de comportamento entre elas é nítida. Com o câmbio manual, o Tera se mostra mais leve e direto nas respostas, favorecendo o motorista mais envolvido com a condução. A embreagem é leve e de fácil modulação e a alavanca de câmbio é perfeita, como se espera de um VW.

Já a versão automática valoriza o conforto e a suavidade, especialmente no trânsito urbano e em estradas com trechos de velocidade variável. Em ambas, o acerto do mapeamento da central de injeção e do controle de tração foi elogiável. Porém no trajeto urbano ainda é possível sentir um pequeno atraso de aceleração nas retomadas de baixa intensidade, item que vem desagradando vários proprietários de carros da marca que utilizam os motores TSI 200.

As trocas de marchas em modo manual podem ser feitas pela alavanca seletora deslocando-a para a direita e dali subir e descer marchas, ou através das borboletas atras do volante. Ainda pela alavanca de câmbio é possível ativar o modo Sport que torna o veículo mais ágil na condução geral.

Consumo: de campeão a mediano, dependendo do pé

No quesito consumo, o Tera mostrou duas faces. No trajeto de ida, participando de um desafio entre jornalistas, novamente ao lado de Fabiano Mazzeo do BlogAuto conseguimos vencer a prova ao atingir 26,75 km/l com gasolina na versão manual — um resultado surpreendente, digno de destaque em tempos de combustível caro. Esse número foi possível graças a uma condução focada em eficiência, utilizando o torque máximo em rotações mais baixas e explorando a inércia do veículo.

Na volta, sem qualquer preocupação com economia e em ritmo mais animado, o consumo da versão automática foi de 10 km/l com gasolina, número ainda coerente com a proposta do carro e a maneira que foi conduzido, mas que mostra o quanto o estilo de condução pode impactar.

Os consumos homologados junto ao Inmetro mostram que a depender da versão o Tera pode ter até 735 km de alcance com um tanque de combustível de 49 litros. Na versão 1,0 TSI de câmbio manual o consumo em estrada é de 15 km/l com gasolina e 10,3 km/l com álcool, ainda mantendo a relação de 70% entre os combustíveis para efeito de escolha de qual abastecer.

Conforto e isolamento acústico: soluções criativas

O Tera também surpreende positivamente na qualidade dos bancos e no conforto interno. As espumas têm densidade agradável e o apoio lateral é adequado, assim como o revestimento tem desenho moderno e exclusivo. O espaço interno, considerando os 4.147 mm de comprimento e entre-eixos de 2.566 mm, é bem aproveitado — há bom espaço para pernas e cabeça, inclusive no banco traseiro, vide foto do Bob sentado no banco traseiro.

Outro ponto de destaque é o nível de ruído interno, que foi cuidadosamente tratado. A Volkswagen adotou uma solução inteligente ao incluir nervuras na chapa externa do teto, o que aumentou a rigidez estrutural e reduziu a propagação de vibrações e ruídos parasitas. Essa decisão, de engenharia simples e eficaz, mostra o cuidado com a percepção de qualidade.

Pacote de segurança: bem servido em todas as versões

Todos os Tera saem de fábrica com seis bolsas infláveis, controles de estabilidade e tração, frenagem autônoma de emergência com detecção de pedestres, faróis e lanternas em LED. Isso posiciona bem o modelo no segmento, que ainda sofre com concorrentes que deixam de oferecer itens básicos de segurança em versões de entrada.

Como opcional nas versões mais caras ou parte do pacote de série na versão High, há ainda o pacote Adas, que inclui recursos como alerta de colisão frontal, assistente de permanência em faixa, detector de fadiga e controle de cruzeiro adaptativo — itens inéditos no segmento.

A versão TSI 1,0 com câmbio manual oferece controle de cruzeiro, um item importante para a comodidade em viagens mais longas. A partida do motor nessa versão exige a aplicação do pedal de embreagem, impossibilitando de utilizar o recurso que o Douglas Mendonça nos contou sobre como ganhou a prova de consumo de combustível.

Tecnologia e conectividade: destaque para o Otto

Outro diferenciador do Tera é a estreia do aplicativo Meu VW 2.0, que passará a contar com a primeira IA generativa desenvolvida por uma fabricante de automóveis no Brasil, a partir do segundo semestre. Batizado de Otto, o assistente virtual é capaz de responder perguntas sobre o veículo, agendar revisões, enviar alertas de manutenção e até oferecer dicas de condução.

Esse movimento mostra o compromisso da marca com a digitalização da experiência do usuário, algo que tem se tornado tão relevante quanto desempenho e design no momento da compra.

Custo de propriedade: promessa de economia

Segundo a Volkswagen, o Tera tem 4% menos custo de manutenção em relação aos principais concorrentes e conta com cesta de peças 35% mais barata do que a média do segmento. Esse dado, se confirmado na prática, pode ser decisivo para consumidores sensíveis ao custo de uso a longo prazo, e principalmente para o custo do seguro do veículo.

Conclusão: um suve racional com toques de prazer ao dirigir

O Volkswagen Tera é, essencialmente, um suve compacto com alma racional, mas que surpreende pela consistência técnica e pela dinâmica apurada. A plataforma MQB segue sendo um diferenciador competitivo, e o projeto mostra maturidade em áreas-chave como consumo, conforto, isolamento acústico e integração eletrônica.

Mesmo sem ainda termos avaliado a versão 1.0 MPI de aspiração atmosférica, o desempenho do motor 170 TSI, tanto com câmbio manual quanto automático, já é suficiente para posicionar o Tera como um dos bons suves de entrada à venda no Brasil atualmente.

Como primeiro modelo global desenvolvido em São Bernardo do Campo, o Tera honra o DNA VW e prova que a engenharia brasileira pode, sim, criar produtos prontos para o mundo.

GB

(Atualizada em 10/6/25 às 9h35, correção do torque máximo na ficha técnica)
(Atualizada em 12/6/25 às 16h35, substituição da ficha técnica)