Não tenho certeza se o que vou dizer é uma unanimidade. Até porque a Rolls-Royce é algo muito distante da realidade de 99,9% dos brasileiros. Mas, desde que me interesso por carros, há várias décadas, sempre entendi que o Rolls-Royce (qualquer um deles) é o melhor carro do mundo. Em termos de precisão, engenharia e luxo. Por isso, tenho um respeito enorme e um interesse verdadeiro pela marca centenária, com seus 121 anos de história.
Fundada em 1904 por Charles Rolls e Henry Royce, a Rolls-Royce nasceu da união entre a visão arrojada de um aristocrata apaixonado por automóveis e a precisão obsessiva de um engenheiro autodidata. O primeiro modelo lançado pela dupla, o Rolls-Royce 10 hp, já trazia características que definiriam a marca: suavidade de funcionamento, qualidade construtiva e confiabilidade. Mas foi em 1907, com o Silver Ghost, que a Rolls-Royce se firmou como a criadora do “melhor carro do mundo”.
Desde então, o nome Rolls-Royce passou a representar o mais alto padrão de excelência automobilística — e a marca se esforçou muito para manter esse título até os dias de hoje. E não se trata só de tecnologia, mas também de uma longa história e de uma mística que a torna única e desejável, mesmo que apenas em sonhos. É mais do que uma marca de carros: é o símbolo máximo de sucesso, prestígio e história.
Entre todos os modelos produzidos pela marca ao longo de mais de um século, nenhum carrega tanto simbolismo, prestígio e relevância histórica quanto o Phantom. Criado em 1925, o Phantom foi concebido para suceder o lendário Silver Ghost e elevar ainda mais o patamar da marca. Em 2025, ao completar 100 anos de história, o Phantom continua sendo a maior referência em luxo sobre rodas, um ícone que atravessou gerações, contextos culturais e momentos históricos.
Além disso o nome Phantom é um dos nomes de carros mais legais de todos os tempos.
O ROLLS-ROYCE PHANTOM AOS 100 ANOS
Cem anos depois de sua concepção, a Rolls-Royce reflete sobre a influência global do Phantom. Como a expressão suprema da marca, o Phantom é o ápice do luxo no mundo do automóvel. Pertencente a ícones culturais e personalidades influentes, o modelo não apenas refletiu como também moldou o mundo ao seu redor.
O Phantom serviu de palco para grandes momentos da história. Sua trajetória destaca uma longa tradição de modelos sob medida, elaborados de forma altamente personalizada. Para marcar o centenário, os designers da Rolls-Royce foram inspirados a criar oito obras de arte exclusivas, celebrando cada uma das oito gerações do modelo.
“O Phantom é muito mais do que um automóvel. Por 100 anos, ele esteve no topo da produção da Rolls-Royce — um fenômeno cultural que tanto reflete quanto influencia o mundo ao seu redor. Desde seus primeiros dias, foi uma das recompensas mais desejadas pelo sucesso e um símbolo poderoso de poder e prestígio. Mais do que status, sempre ofereceu aos seus proprietários uma tela para expressão pessoal, transformada em obra de arte em movimento através do trabalho artesanal sob medida. Através da música, política, arte e além, o Phantom esteve presente em muitos dos grandes momentos da história. As histórias que o cercam — e as imagens que inspiraram nossos designers — revelam seu alcance extraordinário e sua conexão duradoura com a grandeza.”
Chris Brownridge, presidente executivo da Rolls-Royce Motor Cars
O Phantom ocupa um lugar singular na história da Rolls-Royce. A cada geração, representou o que havia de mais avançado em luxo sem esforço, engenharia refinada, materiais nobres e trabalho artesanal. Ao longo de oito gerações, o Phantom permaneceu insuperável — não apenas como carro-chefe da marca, mas como o mais elevado produto de luxo do mundo. Um ícone entre ícones.
Ao entrar em seu segundo século, o Phantom continua sendo uma afirmação de autoridade, um testemunho do conhecimento e gosto apurado de seus proprietários. Suas histórias — e as histórias das pessoas que os possuem — constroem sua própria posição na história. Desde o início, o Phantom esteve ligado a figuras famosas e eventos marcantes, sempre simbolizando poder e influência, com uma presença dominante e uma capacidade única de refletir a importância de seu dono.
Para celebrar esse legado, a Rolls-Royce resgata histórias emblemáticas em que o Phantom teve papel central. Oito obras de arte foram criadas por seus designers, homenageando cada geração do modelo — uma tradição iniciada em 1910, quando o artista Charles Sykes, que depois criaria a estatueta Spirit of Ecstasy, produziu seis pinturas para o catálogo da marca. Se naquela época os carros eram retratados chegando a casas de campo, óperas e campos de golfe, hoje eles refletem uma clientela muito mais diversa e global.
A galeria abaixo contém as oito obras modernas. Uma mais linda que a outra. Gostaria de tê-las em cards ou quadros grandes.
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PHANTOM COMO DECLARAÇÃO DE AUTORIDADE
Na Segunda Guerra Mundial, o marechal Bernard Law Montgomery, apelidado de “o General espartano” por seu estilo de vida austero, fez do Phantom sua única concessão ao conforto. Consciente do poder da imagem, Montgomery utilizava dois Phantoms para comunicar solidez e confiabilidade — um gesto claro de que permaneceria com suas tropas até o fim.
Seu carro principal era um Phantom III de 1936 com carroceria da Freestone & Webb, requisitado do executivo Frederick Wilcock, da Talbot Motor Company. Durante os preparativos para o Dia D, Montgomery usou esse veículo para transportar Churchill, Eisenhower e o Rei George VI às reuniões no Quartel-General das Forças Aliadas, em Southwick House.

Eventualmente, também usava um segundo Phantom III — conhecido como “Butler”, por ter sido encomendado originalmente por Alan Butler, presidente da De Havilland. Este carro, com carroceria da HJ Mulliner, possuía para-brisa inclinado e aerodinâmica superior, com perfil traseiro fluido e rodas de estepe embutidas. Montgomery comprou o carro em 1958 e o manteve até 1963, transportando líderes da Commonwealth como os primeiros-ministros do Canadá, Austrália e Nova Zelândia.
PHANTOM COMO PADRÃO REAL
A realeza britânica tem longa relação com o Phantom. Em 1948, o Duque de Edimburgo visitou a Rolls-Royce e testou um protótipo experimental com motor 5,3 de oito cilindros em linha — apelidado de “Scalded Cat” (Gato Escaldado) pelos engenheiros. Pouco depois, solicitou à marca a criação de um carro mais formal para uso conjunto com a Princesa Elizabeth.
A encomenda deu origem ao primeiro Phantom IV, criado com sigilo sob o codinome “Maharajah of Nabha”. Esse carro histórico permanece até hoje em operação no estábulo real.

A Família Real britânica também encomendou outro Phantom IV, dois Phantom V e dois Phantom VI. Um deles foi o Phantom VI do Jubileu de Prata, presenteado à Rainha Elizabeth II em 1977 e usado novamente em 2011, no casamento do Príncipe William e Catherine.
Fora do Reino Unido, o Phantom também representou estados e soberanos. Em 1966, Sheikh Zayed, pai fundador dos Emirados Árabes Unidos, encomendou um Phantom V com carroceria Mulliner Park Ward. O carro esteve presente na fundação do país, em 1971, e em 1979 transportou a Rainha Elizabeth II em visita oficial aos EAU.
Ao longo das décadas, o Phantom serviu como instrumento sutil de diplomacia. Desde 1965, carros da Rolls-Royce foram usados por embaixadas britânicas em cidades como Nova York, Tóquio, Nova Délhi e Roma. Como disse o embaixador britânico Sir John Fretwell: “Meu Rolls certamente ajudava nas visitas ao Élysée. Os guardas não tinham desculpa para não reconhecer que era o embaixador.”
JOHN LENNON E SEU PHANTOM PINTADO À MÃO
Em 1964, John Lennon celebrou o sucesso de “A Hard Day’s Night” com um Phantom V preto por dentro e por fora. Com vidros escurecidos Triplex Deeplight — uma novidade para a época — Lennon explicava: “Não é só por privacidade. Quando você chega tarde em casa e já é dia, ainda parece noite lá dentro.”
Mas foi em 1967, dias antes do lançamento de “Sgt. Pepper”, que o carro ganhou fama mundial. Inspirado em um trailer cigano de sua casa, Lennon o mandou pintar de amarelo com desenhos florais psicodélicos. O carro virou um símbolo do verão do amor.

Nem todos gostaram. Uma senhora em Piccadilly atacou o carro com um guarda-chuva, indignada: “Como ousa fazer isso com um Rolls-Royce!” O carro foi para Nova York com Lennon em 1971, foi doado ao museu Cooper Hewitt em 1977, vendido em 1985 por US$ 2,3 milhões e hoje pertence ao Museu Real da Colúmbia Britânica.
PHANTOM NO CINEMA
O Phantom brilhou também nas telas. Em “Goldfinger” (1964), o vilão usa um Phantom III preto e amarelo para contrabandear ouro pelos Alpes até ser interceptado por James Bond. A Rolls-Royce homenageou o filme com o Phantom Goldfinger, um exemplar único do Phantom VIII com pintura e detalhes inspirados na produção.

No mesmo ano, ” O Rolls-Royce amarelo”, estrelando um Phantom II de 1931, contou três histórias com diferentes proprietários — aristocrata britânico, mafioso de Chicago e socialite americana. O filme teve elenco estelar, entre eles Omar Sharif e Ingrid Bergman, e canção premiada.
ELVIS PRESLEY E O PHANTOM DE SUA MÃE
Em 1963, Elvis Presley comprou um Phantom V da James Young. O carro tinha sistema de som Blaupunkt, pneus com faixa branca, microfone e detalhes de luxo. Após sua mãe notar que as galinhas da casa bicavam o reflexo do carro, Elvis o mandou pintar em prata azul-claro. Doou o carro à instituição SHARE em 1968 — gesto que inspirou a música “Elvis’s Rolls-Royce”.

A NOVA GERAÇÃO E A ERA DIGITAL
A partir dos anos 70, surgiram novos tipos de sucesso. A tecnologia deu voz a empreendedores e criadores que, cada vez mais jovens, queriam se expressar. O Phantom VII chegou na hora certa: um Rolls-Royce clássico, mas também uma tela em branco para personalização total.

Na era das redes sociais, o Phantom virou estrela. Influenciadores o exibem em vídeos, eventos, premiações. Em 2012, três Phantom Drophead Coupé participaram do encerramento das Jogos Olímpicos de Londres — um deles com Jessie J cantando em seu interior diante do estádio lotado.
O PHANTOM HOJE
Na oitava geração, o Phantom segue como símbolo de poder, prestígio e autoexpressão. Aparece em videoclipes de Snoop Dogg e Drake, em exposições como a Serpentine Gallery e em colaborações com Hermès.



Cada encomenda personalizada é uma nova obra. E em um mundo em mudança, o Phantom permanece como constante: presença, propósito e legado. Desde 2003 a Rolls-Royce faz parte do Grupo BMW. mas sua essência foi magistralmente preservada pelos alemães.
PM
A coluna “Substance” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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Paulo Manzano é engenheiro pela FEI, com pós-graduação em Marketing pela ESPM e MBA em Negócios pelo IBMEC. Com uma trajetória sólida e ampla na indústria automobilística, Paulo acumulou 30 anos de experiência em posições de liderança nas áreas de marketing, vendas, planejamento de produtos e relações públicas. Ele contribuiu para o crescimento e posicionamento de marcas renomadas como Jaguar Land Rover, PSA, BMW/MINI, Lexus, Toyota, GM e Mercedes-Benz, sempre com foco em inovação e excelência no mercado de luxo e automóveis premium. Em 2008, fundou o Autoentusiastas, um dos mais respeitados portais para apaixonados por automóveis, canalizando sua paixão e conhecimento para um público altamente engajado. Sua visão estratégica e capacidade de criar experiências memoráveis são marcas registradas de sua carreira, agora levadas à curadoria de experiências de luxo com a 88quatro8, seu novo projeto.