Como o AE nada tem de elitista quando se trata de testar automóveis, e como fazia tempo — anos — que o acessível Uno básico, com motor Fire não aparecia por aqui, solicitamos um à FCA, que prontamente nos atendeu.
Marcado o dia para retirar o Uno Attractive 1,0 (R$ 38.990), por um motivo qualquer, algo raro, o carro não estava disponível na concessionária Fiat que cuida da frota de testes na região da Grande São Paulo. Eu até já havia assinado contrato de comodato lá mesmo.
Diante da situação embaraçosa, o gerente de pós-venda, responsável pela frota de testes, ofereceu-me um “substituto”, um Cronos Drive vermelho Marsala, que custa R$ 55.990 sem opcionais. O Arnaldo o havia testado há alguma tempo (abril, confirmei no celular), achei que seria perda de tempo, mas como eu só o dirigira rapidamente quando o Arnaldo passou em casa uma noite, aceitei.
Não foi perda de tempo. Não para quem é autoentusiasta. Pelo contrário, o período em que usei esse Cronos serviu para corroborar tudo o que o Arnaldo disse no teste e usufruir esse produto que desde já classifico de belo.
Como em todo Fiat, já o disse em outras oportunidades, estranha-se a posição de dirigir, volante algo alto, parece que o encaixe no lugar de pilotagem não é o ideal, mas passados alguns quilômetros, como que por magia, tudo fica exato.
Jeitoso é o adjetivo que bem o descreve. Relativamente curto com seus 4.364 mm de comprimento e 10,5 metros de diâmetro mínimo de curva, mais um porta-malas de 525 litros cuja tampa levanta-se sozinha, e um espaço interno com aproveitamento típico da marca, em que a altura de 1.508 mm tem sua influência, me cativou.
Mais ainda seu trem motriz, em que o motor Firefly quadricilindro de 1.332 cm³ definitivamente joga por terra o conceito de que duplo comando de válvulas, quatro delas por cilindro e injeção direta são essenciais. para o binômio desempenho-baixo consumo.
A engenharia de motores da FCA, chefiada por Erlon Rodrigues, logrou definir o motor que atende tanto os “sócios do clube 2.000 rpm” quanto os que têm o prazer de sentir e ouvir um motor que grite com vigor até 6.500 rpm. E que seja frugal em combustível. Os números do Inmetro, 12,4/8,5 km/l na cidade e 14,8/10,3 km/l na cidade o comprovam.
Só utilizei álcool, é procedimento da FCA entregar os carros de teste assim abastecidos, mas cheguei a 13 km/l em rodovia sem “fazer força” para economizar. Na cidade ficou sempre entre 8,5 e 9 km/l.
A elasticidade do Firefly impressiona, e quando em baixa rotação se acelera é nítida a imediata variação de fase do comando de válvulas único ao acelerar, o motor reage de pronto e inicia uma subida de rotação marcante.
O câmbio manual de cinco marchas é bem escalonado, mesmo que a 120 km/h “GPS” o motor esteja a 3.625 rpm, não incomoda e se conta com boa retomada caso se prefira ficar em quinta. O toque da alavanca não tem nada de “Wolfsburg”, já vi reclamações de imprecisão, mas o fato é que seleção e engate são perfeitos. Desnecessário dizer que o punta-tacco é parte integral do carro.
Outro destaque do Cronos é a qualidade de rodagem, chega a impressionar pela sensação de robustez, uma suspensão que não se ouve trabalhar e com uma definição de calibração a acerto que reputo irrepreensível, em que a concorrência devia se espelhar. Dá prazer enfrentar o asfalto de quinto mundo que temos no Brasil, ao qual o Cromos é literalmente insensível, e com uma capacidade de curvar e frear admirável.
Valeu de fato essa revisita ao acaso. Todos os detalhes, ficha técnica, equipamentos de série e opcionais podem ser visto no teste do Arnaldo. Inclusive a menção de faixa degradê no para-brisa…
BS