Causo recebido de Sérgio Henrique Oliveira, e que me deixou muito feliz em constatar que um jovem de 23 anos se apaixonou por um VW Fuscão 71 e isto demonstra que volta e meia surge uma nova geração de apreciadores do carro, fato que pode garantir a sua preservação pelos anos vindouros.
Meu VW Fuscão
Por: Sérgio Henrique Oliveira
Chamo-me Sérgio Henrique Oliveira, tenho 23 anos, nasci em Maceió, AL e fui criado em Arapiraca, no interior do estado. Sou estagiário e estudante de Psicologia., Conto um pouco minha história com o nosso querido Fusca, carro que ajudou tanta gente e ainda hoje ajuda, seja a trabalho ou a lazer
Minha história com o besouro se inicia na verdade com meu pai em 1972, ano em que ele nasceu. O primeiro brinquedo que ele ganhou de meus avós foi um Fusquinha dos bombeiros. Sim, aquele da Estrela! Soube que hoje em dia virou raridade e pedem alto preço por um na internet. Esse carrinho ainda existe no meu quarto e foi ele também o meu primeiro brinquedo
Em 1982 meus avós se mudaram de São Paulo para Maceió devido ao emprego de meu avô, e por ser uma família humilde, obviamente o veículo utilizado para essa viagem foi o Fusca amarelo ‘’correios’’, carinhosamente assim apelidado por eles, mas que hoje sabemos ser o amarelo Imperial. Foram três longos dias de viagem, mas engana-se quem pensa que foi só essa, foram mais três viagens iguais, mas apenas meu avô foi. O Fusca não deu um problema sequer nessas viagens, nem pneu furou! Os anos foram passando e meu pai, já um jovem adulto, começou a trabalhar e, com um bom esforço, conseguiu enfim comprar seu primeiro carro e, adivinhem? Sim, um Fusca 1980, azul Stratus. Quem conhece mais sobre as cores dos Fuscas sabe que essa cor não saiu nos Fuscas desse ano, portanto havia sido pintado. O Fusquinha que não estava lá essas coisas, mas como meu pai estava estudando para ser mecânico, pôde melhorar bastante o carro com pneus mais largos, escapamento 4×2, o famoso “capetinha, e colocou um daqueles volantes esportivos de época que eram bem pequenos. Ah, claro, as rodas também eram as que os ‘’boys’’ da época usavam.
Até que quando conheceu minha mãe, ele já com a certeza de que iriam um dia se casar, a ensinou a dirigir e a presenteou com aquele Fusquinha pelo qual ela era apaixonada. Foi nele que os dois foram para a lua-de-mel.
Mais uns anos se passaram e em 1997 eu nasci. Meus pais já não tinham mais aquele Fusquinha, com os anos eles foram se atualizando.Tiveram Passat, Uno e Gol “bola”, ainda me lembro do VW embora eu fosse bem pequeno. Como moro em Alagoas, o calor por aqui é de arrancar o couro das costas, e eu, ainda criança, penava num carro sem ar–condicionado, o que fez meus pais trocarem por outros carros– Marea e depois Palio. Lembro que na minha escola o pai de um dos alunos tinha um Fusca 1980 e alguma coisa e meu pai, louco por Fusca, dizia que ia comprá-lo. Odiei aquela ideia, às vezes criança não sabe mesmo o que diz
Cresci sem gostar dos Fusquinhas, achava-o carro muito arredondado, apertado, barulhento, como alguém podia gostar de um carro assim? Pois é, o que a vida nos prega não é?
Em 2014 houve uma exposição de Fuscas na minha cidade, acredito que para comemorar o Dia Mundial do Fusca ou apenas uma exposição no shopping, não consigo me lembrar, mas sei que tinha lá um Fuscão 72 vermelho Montana que foi paixão à primeira vista. Era completamente diferente de todos os Fuscas que eu já tinha visto — claro, o formato ainda era o mesmo, mas aquela cor, aquelas rodas, as calotas, eram algo que me deixaram sem palavras até ver o interior. Não é possível! Realmente, o dono tinha muito bom gosto para personalizar o carro assim, com painel de madeira, aquele volante fino, aqueles bancos.Mas, espera si, é tudo original!
E assim, da noite para o dia, eu não parava de pensar naquele Fusca, salvei como protetor de tela do celular, passei a pesquisar tudo que podia, conheci a história do carro, e saber que Ferdinand Porsche criou o carro foi algo incrível! Sim, a parte em que Hitler mandou construir o carrinho não me agradou, mas não há como negar que essa história é bem interessante. E passei a dizer para todo mundo que um dia teria um Fusca, falava isso direto, e obviamente era questionado pelas mesmas coisas ruins que eu pensava antes, mas e eu lá ligava mais para isso? Eu queria ter meu Fusca e se pudesse ser um Fuscão, melhor ainda!
Ainda em 2014, passei no vestibular e meu pai, empolgado, começou a procurar um Fusca para me dar, já que agora na faculdade precisaria me locomover, mas minha mãe foi contra por não ser um carro confiável e eu iria viajar muito agora. Claro que fiquei um pouco triste, mas tudo bem, um dia ainda teria o meu.
Em 2018 muita coisa aconteceu e meu sonho enfim se realizou. Acontece que dois anos antes eu havia trancado a faculdade e passei seis meses trabalhando. Quando fui demitido, tinha um bom dinheiro guardado e meu primo de São Paulo disse que queria vender o Fusca dele. No começo fiquei interessado, mas ele não parecia muito a fim de me vender. Tudo bem, vida que segue, mas fiquei insistindo e insistindo até que ele me mandou um vídeo de como estava o carro e. nossa, que porcaria!
A cor parecia um branco, mas depois parecia um azul bem claro quase que apagado, as rodas enferrujadas, pneus murchos, faróis verticais, que não eram do Fuscão 71, mas que pareciam que estavam com conjuntivite, um todo preto e um amarelado, superbarulhento devido ao mau uso do carrinho. Não me interessei, tinha muita coisa para fazer e eu não iria conseguir com os recursos que tinha, mas um trecho do vídeo mostrava o interior e aquilo parecia ser mentira.
Sim, era um legítimo Fuscão! Os bancos “gomão”, o volante cálice, o painel em jacarandá, o interior estava impecável, como se tivesse saído da concessionária. Fiquei louco e insisti mais ainda para ele me vender e, dito e feito, ele me vendeu, mas teria que pôr num caminhão cegonheiro para trazê-lo para Maceió. Duas semanas depois eu, enfim, estava realizando meu sonho de ter um Fusca, ou melhor, um Fuscão
Trata-se de um Fuscão 71 azul Diamante, cor bem procurada pelos apaixonados por Fusca e um tanto quanto rara, já que nessa configuração o carro saiu por apenas três anos (peço que me corrijam se estiver enganado). Eu parecia criança em dia de Natal, não queria mais sair do carro, queria ir para faculdade, sair, mas o carro estava muito ruim, custava a pegar, mal andava, o motor estava tão cheio de sujeira que teve que ser limpo à mão.
Aos poucos fui arrumando-o junto com meu pai que, por ser mecânico, aos poucos deixou-o perfeito. Por ser muito detalhista, fui à caça das peças para deixá-lo o mais original possível. É um carro de 49 anos, precisa voltar aos dias de glória. Então, em 2019, quando consegui um estágio na minha nova área, consegui comprar as calotas, os para-lamas dianteiros e os faróis “olho de boi” e algumas peças de acabamento.
Esse ano de 2020, percebendo que o motor não ia aguentar mais por muito tempo, resolvi com meu pai envenená-lo com as modificações de época: Dois carburadores, comando e escapamento “capetinha”. Para minha infeliz surpresa, o velho motor 1500 não aguentou a dupla carburação e foi preciso mandá-lo para retífica, onde pusemos cabeçotes do 1600, mas não conseguimos pôr o comando mais esperto, a dupla carburação estava dando também certas dores de cabeça e voltamos para a carburação simples.
Já fiz muitas viagens com ele mesmo quando não estava 100%, fui à praia, saí com os amigos, com a família, com meu cachorro, foi o carro em que ensinei minha irmã a dirigir, que apesar de ela preferir o Opala de meu pai e não gostar do Fusca, ela nunca poderá negar que aprendeu no protagonista dessa história (ah, dirige muito bem diga-se de passagem) e hoje quando escrevo, acabei de chegar da viagem que fiz com ele.
Meus planos futuros são viajar bastante e aproveitar bem o que essa máquina de fazer amigos pode me proporcionar. Ah, já ia esquecendo, a história desse Fuscão é a seguinte: Em 1971 um senhor o comprou e usou para trabalho no seu sítio, depois passou-o para seu filho. Meu primo se casou e o cunhado dele era o dono do Fusca, que o vendeu para esse primo que depois vendeu para mim, ou seja, esse Fusca teoricamente está na família desde 0-km. Assim, nada mais justo que o preservar para passá-lo para meus futuros filhos ou netos.
E para terminar um breve vídeo do Fuscão do Sérgio Henrique na estrada:
AG
Agradeço ao Sérgio Henrique Oliveira por ter feito contato e enviado o seu causo. As fotos desta matéria foram enviadas por ele.
NOTA: Nossos leitores são convidados a dar o seu parecer, fazer suas perguntas, sugerir material e, eventualmente, correções, etc. que poderão ser incluídos em eventual revisão deste trabalho.
Em alguns casos material pesquisado na internet, portanto via de regra de domínio público, é utilizado neste trabalho com fins históricos/didáticos em conformidade com o espírito de preservação histórica que norteia este trabalho. No entanto, caso alguém se apresente como proprietário do material, independentemente de ter sido citado nos créditos ou não, e, mesmo tendo colocado à disposição num meio público, queira que créditos específicos sejam dados ou até mesmo que tal material seja retirado, solicitamos entrar em contato pelo e-mail alexander.gromow@autoentusiastas.com.br para que sejam tomadas as providências cabíveis. Não há nenhum intuito de infringir direitos ou auferir quaisquer lucros com este trabalho que não seja a função de registro histórico e sua divulgação aos interessados.
A coluna “Falando de Fusca & Afins” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.