Mais cedo ou mais tarde era esperado que o domínio da Mercedes fosse abalado. O que ninguém contava era o fato de que as escorregadas que prenunciam a mudança absoluta de cenário viesse da forma com o que se viu nas últimas duas etapas do Campeonato Mundial de F-1 deste ano.
O detalhe que torna mais evidente o clima dessa queda foi o desabafo de Valtteri Bottas nas voltas finais do GP da França, vencida por Max Verstappen (foto de abertura). O finlandês não se preocupou em esconder sua frustração por ter sua opinião desrespeitada quando a equipe definiu a estratégia de corrida: “Por que ninguém me ouviu quando eu falei que seria uma corrida de duas trocas de pneus?”
Mais do que o equívoco de apostar em uma única troca de pneus durante as 53 voltas da corrida em Paul Ricard, o desabafo reflete a tensão interna e dá motivo para enxergar que ambiente do time e que o ciclo do finlandês na equipe alemã está próximo do fim. Não fosse essa a mais provável situação interna a opinião de Bottas seria levada em consideração, no mínimo, na definição de sua estratégia de corrida. O saldo dessa tertúlia interna deixou a Mercedes 39 pontos atrás da Red Bull (215 a 178) no Campeonato de Construtores, Hamilton com a desvantagem de 12 pontos para o líder Verstappen (que soma 131) e Bottas relegado ao quinto lugar entre os pilotos.
A temporada mal passou de 25% — o GP da França foi a sétima das 24 provas ainda confirmadas para o ano — e certamente a Mercedes pode reagir e reverter o jogo. A tarefa, porém, será das mais difíceis: Verstappen está em ótima fase, a Honda quer encerrar este ciclo na F-1 com um título mundial, e a Red Bull segue tirando profissionais importantes da concorrente. Some-se a isso o desgaste natural de quem se manteve imbatível por sete temporadas consecutivas e as pressões que aumentam a cada temporada e emanam dos adversários derrotados. Entre as diferenças mais claras entre a Red Bull e Mercedes, a primeira leva vantagem na maior eficiência nas trocas de pneus, tem uma dupla de pilotos mais competitiva e não tem o ônus de defender o título. As virtudes da segunda são o perfeccionismo de Toto Wolff e a capacidade de Lewis Hamilton; ao passar a régua ambos são humanos, portanto imperfeitos, carregando o piano.
Sob o ponto de vista técnico, as mudanças impostas no regulamento técnico deste ano ainda são motivo de descobertas e acertos e têm na redução da área do assoalho traseiro a principal fonte de desenvolvimento. Cortesia do mago Adian Newey, a Red Bull optou por um acerto com menor pressão aerodinâmica, opção que rendeu vantagem na velocidade final sobre a Mercedes no ponto mais rápido da pista (337,0 km/h de Verstappen e 336,4 de Pérez contra 321,2 de Bottas e 320,4 de Hamilton) e na linha de chegada (309,1 de Verstappen e 306,7 de Pérez contra 307,0 km/h de Bottas e 305,7 de Hamilton). No setor intermediário¨1 o mexicano chegou a 112,8 km/h e o inglês, a 112,6 km/h, e no setor intermediário 2 Verstappen e Hamilton chegaram a 285,1 km/h. Pérez foi mais veloz que os dois (290,9 km/h) e Bottas registrou 282,4 km/h. Tais índices ajudam a entender como o holandês se aproximou tão rapidamente do inglês na antepenúltima volta da prova.
Os próximos dois GPs (Styria e Áustria) serão num circuito cujo traçado não tem retas tão longas quanto Paul Ricard. Além disso, Spielberg tem grandes variações de altitude, situação que deverá anular boa parte dessa vantagem. Outro fator a ser considerado é que a Pirelli optou por duas combinações diferentes de pneus para essas corridas: na primeira serão usados os compostos C2, C3 e C4 e na segunda C3, C4 e C5, ou seja, opções mais macias. Tudo isto poderá facilitar a recuperação da Mercedes ou aumentar a vantagem da Red Bull, situação que aumenta a emoção que já caracteriza a temporada de 2021.
O resultado completo do GP da França você encontra aqui.
Emmo estreia na Dinamarca
Filho mais novo do bicampeão mundial, Emmo Fittipaldi foi um dos destaques na segunda rodada do Campeonato Dinamarquês de F-4. O herdeiro de Emerson largou na pole position e acelerava para vencer a primeira prova da rodada, em Padborg Park, quando foi acertado pela japonesa Juju Noda, filha do ex-F-1 Hideki Noda. Juju, uma das finalistas do Girls On Track 2020, chegou em primeiro mas foi desclassificada pela atitude antidesportiva e o mexicano Jesse Carrasquedo Jr herdou a vitória. Na prova seguinte a vitória foi de William Wulf e Emmo ficou em quinto, à frente da rival japonesa. Na terceira e última prova da rodada nova vitória de Carrasquedo Jr, que cruzou a linha de chegada 1″.704 à frente de Emmo. O campeonato é liderado por Mad Hoe (123 pontos, seguido por William Wulf, Jacob Bjerring (ambos com 74 pontos), Mad Riis (65), Carrasquedo (62) e Fittipaldi (58).
WG
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