Desde sua apresentação em março último e início das vendas, o novo Toyota Corolla Cross vem despertando a atenção do mercado e fica inevitável a comparação dos números de vendas com o consagrado sedã homônimo. O novo suve vende praticamente o mesmo que o sedã com pequenas variações para cima e para baixo no mês a mês, provavelmente pela disponibilidade de produto, visto que as fábricas da Toyota em Sorocaba, onde o modelo Cross é fabricado,, e Indaiatuba, ambas no interior de São Paulo, também tem sofrido paradas devido à falta de semicondutores e outros materiais.

Nesta semana o teste foi com a versão XRV, que é a de entrada quando se fala de motorização híbrida, e o vídeo foi gravado na região de Joaquim Egídio em Campinas, SP, portanto, se preferir assista primeiramente ao vídeo:

Versões e preços

Os valores foram majorados desde sua apresentação em março, e também desde a gravação do vídeo 10 dias atrás, portanto segue o cenário de preços atual para a maior parte do Brasil, lembrando que para o Estado de São Paulo há uma diferença adicional de 5% relativo ao ICMS desse estado. Todos têm câmbio automático CVT:

XR flex 2,0                       R$ 150.290
XRE flex 2,0                     R$ 160.990
XRV Hybrid 1.8-l flex      R$ 185.790 (veiculo testado)
XRX Hybrid 1.8-l flex      R$ 193.390

Motorização

Nesta versão híbrida o motor de quatro cilindros flex trabalha dentro do ciclo Atkinson com 1,8-l, 16 válvulas entregando 98/101 cv a 5.200 rpm e 14,5 m·kgf a 3.600 rpm. Associado a dois motores-geradores elétricos (MG1 e MG2) que entregam a potência adicional de 72 cv e 16,6 m·kgf de torque. Na combinação de torque e potência a resultante é 122 cv de potência máxima e 16,6 m·kgf de torque máximo.

O desempenho geral do veículo agrada ao usuário familiar ou corporativo que não tenha pretensões esportivas ou aventureiras com o veículo. São cerca de 13 segundos para atingir 100 km/h e a velocidade máxima está limitada em 170 km/h. Porém, é nas acelerações leves e médias, principalmente nas arrancadas de semáforo 0-40 km/h, quando há a maior ajuda dos motores elétricos, que o carro agrada mais.

No anda e para dos grandes centros urbanos o conjunto híbrido faz sua grande diferença para o consumo de combustível. É sabido que tirar o carro da condição de parado gasta-se a maior parte do combustível, e com a ajuda dos motores elétricos esse grande esforço fica por conta deles, poupando de trabalho o motor a combustão. Com essa estratégia o consumo homologado junto ao Inmetro é substancialmente melhor no ciclo urbano com 17/11,8 km/l, e no ciclo rodoviário fica próximo, mas ainda assim melhor que outros suves médios, com 13,9/9,6 km/l. No meu roteiro padrão de 110 quilômetros entre São Paulo e Campinas o consumo médio foi de 13,0 km/l com álcool. Nada mau!!!

O que desagradou e assustou foi a resposta do computador de bordo na função alcance. Devido ao ótimo consumo de combustível em trajetos urbanos, o alcance remanescente é atualizado muito rapidamente — ao transitar por trechos urbano, o alcance é irreal, por não considerar a média de utilização. Ao retornar para uso rodoviário a 110-120 km/h esse valor decresce aceleradamente (o oposto dos carros normais, em que ao sair da cidade e pegar a estrada o alcance aumenta).

Nessa semana de teste aprendi que não é possível confiar na indicação de alcance e que deveria voltar a atenção ao ponteiro indicador do volume do tanque, — que também desce rápido, pois o tanque é de apenas 36 litros, mas é mais confiável.

O câmbio CVT das versões híbridas da Toyota tem uma resposta diferente ao CVT do motor a combustão, porém no transeixo híbrido estão incorporados os dois motores elétricos e a variação contínua de relação é feita pela atuação alternada dos motores elétricos sobre as engrenagens do câmbio. Não se percebe troca de marchas como no CVT de 10 marchas e tampouco há opção de troca de marchas em modo manual. A resposta do sistema é linear sem causar ansiedade pela falta de troca de marcha ou a percepção de que alguma marcha errada foi engatada. A inexistência de conta-giros no quadro de instrumentos e sua substituição por indicador de energia sugere estarmos dirigindo um carro puramente elétrico.

São dois modos de condução adicionais ao normal. No modo ECO nota-se uma resposta mais suave do pedal de acelerador, enquanto no modo POWER a resposta é mais imediata, porém ainda longe de trazer grande esportividade à condução do veículo. E adicionalmente há o modo EV, puramente elétrico, que tem velocidade e alcance limitados.

Conforto geral

Na avaliação inicial realizada na pista de testes da Toyota em Sorocaba percebi o foco no conforto dado à calibração da suspensão, e agora, ao rodar em nossas vias do dia a dia foi possível confirmar essa vocação do suve para o conforto. O equilíbrio de movimentação da suspensão dianteira versus a traseira é muito bem feito e mesmo com quatro ocupantes foi possível notar que o conforto segue igual, sem aumentar excessivamente o balanço.

O centro de gravidade mais alto do Corolla Cross em relação ao sedã não prejudicou o nível de rolagem da carroceria, e mesmo a adoção de suspensão traseira com eixo de torção não pode ser condenada, visto que o suve não tem muito apetite para curvas em altas velocidades que justifique suspensão multibraço. O eixo de torção com barra antirrolagem integrada mostrou-se bem robusto para esta aplicação.

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Posição de dirigir e conforto dos bancos são outros itens que em conjunto com a suspensão deixam o carro com rodagem macia e bem equilibrada. A visibilidade 360 graus é muito boa desde o posto de comando, e os passageiros do banco traseiro ficam em posição elevada, trazendo bom conforto para todos.

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O acesso aos comandos é facilitado pela atenção à ergonomia que foi dada, deixando todos os comandos em distância compatível com o tamanho do braço do motorista, seja menor ou maior estatura. A visibilidade de quadro de instrumentos e central multimídia é muito boa, pois tem caracteres de bom tamanho e bem iluminados. O mesmo não pode ser elogiado quanto ao comando do sistema de ar-condicionado e ventilação interna, onde faltou um maior cuidado com o contraste de cor e tamanho dos símbolos para uso diurno.

Por outro lado, o funcionamento do ar-condicionado com comando digital e automático tem ótimo desempenho, e mesmo sem ter duas zonas, a saída de ar climatizado na extensão do console central para o banco traseiro ajuda no esfriamento rápido da cabine. O ventilador interno tem baixo nível de ruído e o fluxo de ar não traz incômodo em nenhum dos difusores frontais.

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A central multimídia montada de modo flutuante no centro do painel de instrumentos tem ótimo tamanho, fácil leitura, operação intuitiva e botões físicos que facilitam a navegação entre as diversas funcionalidades, sem aquele inconveniente de errar a pontaria dos botões virtuais com o balanço do carro. O espelhamento de telefone celular pelo Android Auto e Apple CarPlay exige a utilização de cabo USB. O carregador de bateria por indução é um dos 37 acessórios anunciados pela Toyota no lançamento do carro, não sendo portanto equipamento de série.

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O Toyota Safety Sense que equipa a versão XRV é uma coletânea de sistemas interligados que além de aumentar a segurança, também proporciona maior conforto ao dirigir. O controle de velocidade de cruzeiro adaptativo  mantém distância segura do veículo que vai à frente. O assistente de permanência em faixa é ativo e faz pequenas correções no volante sem ser muito intrusivo. O alerta de ponto cego nos retrovisores externos tem indicação na face do espelho. Aviso de obstáculos à frente com frenagem autônoma de emergência é outro item disponível que em breve deve ser obrigatório em todos os veículos.

Estilo atraente

Não podemos dizer que o Corolla Cross é um suve superatraente, principalmente ao pegá-lo após devolver o Peugeot 3008, um dos suves mais atraentes que já avaliei, mas o novo Toyota tem seu charme e certamente está cativando os apreciadores da marca, e provavelmente puxando alguns proprietários do Jeep Compass para si. Sem dizer da dúvida na cabeça dos compradores de suve médio com o lançamento quase simultâneo do VW Taos e Compass, este com novo motor turbo. Logo teremos o #savethesedans.

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De todo modo, o Corolla Cross tem seus atributos e vem criando seu público. Os recortes das caixas de roda em formato trapezoidal com molduras plásticas dão destaque à silhueta lateral, ornando com as rodas 18” de pintura escurecida e face diamantada. As linhas frisadas nas laterais são realçadas pela larga moldura na parte inferior das portas, e se interligam com as molduras das caixas de rodas. No para-choque dianteiro o formato imita o quebra-mato dos veículos fora de estrada, e no traseiro tem um extrator de ar, que poderia esconder melhor o silenciador do sistema de escapamento.

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Os elementos de efeito joia (jewell effect) são limitados nesta versão XRV e se concentram no friso cromado que circunda o conjunto de vidros laterais finalizando na coluna traseira onde aparece a inscrição ‘Corolla Cross’. A moldura da grade frontal e os insertos nos para-choques dianteiro e traseiro aparecem pintados na cor cinza. As lanternas traseiras, faróis e repetidor de seta na carcaça do espelho retrovisor substituem o brilho da inexistência dos frisos cromados, tornando o conjunto bem agradável visualmente.

Conclusão

Enquanto o mercado todo crescia na oferta de modelos suve, a Toyota era criticada pela demora em apresentar um suve médio derivado da plataforma do Corolla. Agora o faz utilizando a plataforma global TNGA (Toyota New Global Architeture) que traz muita tecnologia e modularidade de construção com os outros produtos da linha.

O compartilhamento de vários sistemas eletroeletrônicos e do conjunto propulsor com a versão sedã é uma vantagem competitiva, pois isso elimina custos adicionais em ferramentais internos e de fornecedores, além de permitir a flexibilidade de aumentar ou diminuir o volume de produção de um modelo ou do outro, seguindo sempre a demanda do mercado.

A oferta de mais um modelo híbrido produzido localmente é outra sinalização para o mercado e para os demais fabricantes de que o caminho da eletrificação não tem mais volta e que não será possível atingir os níveis desejados de eletrificação apenas com produtos importados. É necessário investimento para produção local de carros eletrificados, sejam eles híbridos ou puramente elétricos.

GB