Sob o slogan “reborn”, a marca britânica Triumph apresentou recentemente uma renovada linha de sua mais clássicas motos, as Bonneville, verdadeiramente renascidas. Elas são as mais tradicionais entre todas as Triumph e mereceram um trabalho extenso de modernização, porém com o cuidado de preservar suas características de motos 100% clássicas. Lembrando: o nome Bonneville remete ao recorde de velocidade batido nos anos 1950 por uma moto-míssil empurrada por um motor bicilíndrico da marca no homônimo lago salgado em Utah, EUA. Desde então, o nome é usado pela marca inglesa em suas icônicas — e agora renascidas literalmente — motocicletas de arquitetura mais tradicional.
Motor, chassi, suspensões, tudo é novo nas bicilíndricas, menos a arquitetura do motor, que se alterada significaria um brutal desrespeito às velhas “Bonnies” do final dos anos 1950. O motor, como eu disse, permaneceu um com dois cilindros paralelos dispostos transversalmente, mas em vez do arrefecimento a ar e de 865 cm³ de cilindrada, agora é arrefecido a líquido e vem em dois tamanhos, um de 900 cm³ para o modelo de entrada, batizado de Street Twin, e outro de 1.200 cm³ para o restante da gama. A adoção da arrefecimento a líquido pode soar como heresia para os fãs mais tradicionalistas, mas para encarar a concorrência e especialmente as restritivas normas anti-emissões de poluentes não haveria como evitar tal opção — exatamente o que a Porsche teve que fazer no 911 em 1998, pelo mesmo motivo.
Com isso, a Triumph garantiu mais torque e menos vibrações para suas Bonneville, sem, contudo, alterar o visual clássico. Quem olhar rapidamente para os novos motores das Bonneville mal notará o radiador, bem disfarçado entre as traves do chassi de aço. Além disso, os cilindros e cabeçotes continuam vistosamente aletados, como se fossem de um motor arrefecido a ar.
Segundo os técnicos da marca inglesa, no 900-cm³ há 18% a mais de torque, enquanto que nos 1.200-cm³ a cifra sobe para 54% a mais, números impressionantes mas que vieram desacompanhados das referentes à cavalaria, que será divulgada mais adiante. Aos tais números: o 900-cm³ tem torque máximo divulgado de 8,16 m·kgf a 3.200 rpm, um real passo à frente ante os 6,9 m·kgf a bem mais altas 5.200 rpm do 865-cm³ “a ar”. Como era de se esperar, nos 1.200-cm³ o ganho foi ainda mais substancial, e a “patada” divulgada é de 10,7 m·kgf a 3.100 giros.
Serão cinco as versões disponíveis destas novas Triumph. No Brasil, apenas duas motos desta família eram vendidas, a T100 e a esportiva Thruxton, diferentes apenas em detalhes. Agora, todas as cinco novidades deverão chegar às revendas nacionais a partir de janeiro. A primeira será a mais básica de todas, a Street Twin, e na seqüência, ao ritmo de uma por mês, virão as T120, T120 Black Edition e as duas Thruxton, a 1200 e a 1200R.
Todos os preços serão divulgados mais para frente e, segundo a Triumph, a Street Twin será a máquina ideal para ser customizada. Aliás, a própria marca disponibilizará kits para este fim, batizados de “Scrambler”, “Bat Tracker” e “Urban”.
Importante mencionar que o aumento de cilindrada é apenas um item do trabalho: mesmo a mais simples Street Twin tem acelerador eletrônico ride-by-wire, controle de tração e freios com ABS. Nas T120, T 120 Black, Thruxton e Thruxton R, a estes itens foi acrescentado um seletor para modos de mapeamento do motor. Diferenciador nas Thruxton é o fato de terem efetivamente uma pegada esportiva e não apenas uma aparência. O modelo Thruxton R tem, inclusive, suspensão dianteira invertida, amortecedores traseiros Öhlins com reservatório do gás separado e pinças do freio dianteiro da grife Brembo fixadas radialmente. Para quem quiser ainda mais, haverá um kit que deixa a Thruxton pronta para uso em pista.
Este forte investimento da Triumph na mais icônica linha de suas renomadas motocicletas visa não apenas o óbvio, reforçar sua presença no segmento. De fato, é uma resposta à altura diante das ações dos “inimigos” que invadiram sua “praia”: pode-se listar entre esses a Ducati Scrambler, as Harley-Davidson Forty Nine e Iron e a BMW R nineT, motocicletas — algumas mais, outras menos — que dissimulam na aparência clássica, retrô até, uma grande dose de eficiência que as coloca no mesmo patamar do que as mais modernas motocicletas da produção mundial.
Fortalecida pelo sucesso de sua linha de máxi trails, as Tiger, pelo prestígio de suas Street Triple e Speed Triple e reverenciada pela competitividade de sua Daytona, a Triumph decidiu que era hora de mexer em sua menina dos olhos, modelos “porta de entrada” da marca e ao mesmo tempo cartão de visitas histórico, imbuído de toda a carga lendária da outrora gloriosa indústria britânica de motocicletas.
Depois de um período de ostracismo seguido às portas fechadas, a Triumph foi literalmente ressuscitada por um magnata do ramo imobiliário no começo dos anos 1990 e hoje é um exemplo de sucesso no mundo da moto moderna. A fábrica de Hinckley é moderna, organizada e altamente tecnológica, exemplo claro do efetivo renascimento da indústria britânica que em meados do século 20 foi a dominadora da cena mundial. As novas Bonneville são um exemplo claro de que em vez da massificação, o futuro da moto inglesa está na qualificação e esmero, tanto tecnológico quanto construtivo.
RA