Inglês foi o único piloto campeão em motos e F-1. Venceu na F-1 com Ferrari azul e branco. Foi patrão de Môco e Luizinho.
Faleceu nesta sexta-feira (10/3/2017) o inglês John Surtees, filho de um vendedor de motos de Forest Hill, bairro nobre de Londres e único piloto a conquistar o título de campeão mundial no motociclismo (1956/1958/1959/1960) e no automobilismo (1964). Natural de Tatsfield, no condado de Surrey, Surtees também tinha conhecimentos de mecânica amplos o suficiente para receber o título de doutor honoris causa em engenharia pela Universidade Oxford Brookes em 2015. Igualmente, era conhecido por suas posições irredutíveis, como puderam comprovar dois brasileiros que pilotaram seus carros de F-1: José Carlos Pace e Luiz Pereira Bueno.
A estreia de Surtees no motociclismo inglês foi marcada pela vitória e pela desclassificação da dupla que formou com seu pai, Jack: nessa ocasião ele tinha apenas 14 anos e não poderia ter disputado a prova de sidecar. Uma vez atingida a idade legal para competir, ele disputou e venceu várias provas no motociclismo inglês e garantiu um lugar na equipe oficial da Norton em 1955. Em dificuldades financeiras, a marca não teve como evitar sua transferência para a MV Agusta, onde escreveu seu nome na história do esporte: entre 1958 e 1960 o binômio venceu 32 entre 39 provas. Nesse período ele se tornou o primeiro motociclista a vencer três edições consecutivas da clássica prova Tourist Trophy, na Ilha de Man, e venceu inúmeros títulos nas categorias 350 cm³ e 500 cm³.
Sua passagem para o automobilismo aconteceu de forma impressionante: após algumas experiências com um GTS da Aston Martin, ele estreou na F-Júnior vencendo em Goodwood ao volante de um Cooper inscrito por Ken Tyrrell. No mesmo ano foi convidado por Colin Chapman para integrar o Team Lotus e alinhou no GP de Mônaco 1960 ao volante de um modelo 18. A estreia na F-1, dia 29 de maio de 1960, foi menos que discreta: entre 24 inscritos ele foi o 15º em um grid de 16 carros e abandonou com problemas de transmissão após 17 das 100 voltas do percurso. No dia 16 de julho ele voltou a disputar um GP e o resultado foi bem diferente: alinhou em 11º em um pelotão de 24 carros e cinquenta segundos depois da bandeirada de vitória do GP da Grã-Bretanha ter sido dada a Jack Brabham (Cooper Climax), Surtees completou o percurso de 77 voltas em segundo lugar.
Um período menos brilhante com as equipes Cooper (1961) e Lola (1962) precedeu um convite irrecusável de Enzo Ferrari, proposta que foi costurada pelo saudoso Franco Lini (1925-1997), provavelmente o primeiro jornalista a se tornar chefe de uma equipe de F-1, igualmente na Ferrari. Surtees venceu o campeonato de 1964 de forma, no mínimo, curiosa: ele ganhou os GPs da Alemanha e da Itália e chegou ao final da temporada disputando o título com Jim Clark e Graham Hill. Em uma das inúmeras desavenças entre Enzo Ferrari e o poder constituído, os carros da Scuderia foram inscritos pelo North American Racing Team para os GPs dos EUA e do México e, assim, devidamente pintados de branco e azul, cores oficiais dos Estados Unidos junto à Federação Internacional do Automóvel. No Autódromo Magdalena Mixhuca (hoje Hermanos Rodriguez), Surtees terminou a corrida em segundo lugar, 1’9”atrás do Brabham Climax de Dan Gurney; mesmo abandonando na penúltima volta (vazamento de óleo), Clark ficou em quinto lugar na corrida, Hill foi o décimo primeiro.
A vitória no GP da Bélgica de 1966, em Spa, marcou a despedida áspera de Surtees com a casa de Maranello, que ainda vivia os efeitos da conturbada administração de Eugenio Dragoni e Romulo Tavoni. De volta à equipe Cooper, o inglês conseguiu levar o pesado e exótico chassi T81 equipado com motor Maserati V-12 à vitória no GP do México. Em 1967 aceitou a proposta da Honda para desenvolver o RA 273, um chassi projetado pela Lola e equipado com motor V-12. A vitória na Itália, a última de sua carreira de 111 GPs, foi conquistada por apenas 2/100 de segundo sobre Jack Brabham (Brabham BT24 Repco), o ponto alto dessa união. No ano seguinte, Surtees comprovou de maneira trágica seus conhecimentos de engenharia ao se recusar a pilotar o chassi RA 302, equipado como motor V-8 arrefecido a ar. Segundo ele, o motor não funcionava de maneira confiável, mas o francês Jo Schlesser aceitou o desafio e acabou falecendo após bater com o carro na terceira volta do GP da França, em Rouen-les Essarts.
Sua carreira na F-1 prosseguiu com atuações com um BRM da equipe oficial (1969) e com um McLaren inscrito por ele mesmo na temporada seguinte, até a estreia do Surtees TS7 Ford no GP da Inglaterra desse ano. Monza, em 1972, foi o último circuito a ver John Surtees a bordo de um F-1 em um GP oficial. O brasileiro José Carlos Pace foi um dos seus pilotos (disputou 22 GPs pela equipe em 1972 e 1973), mas frequentes quebras o levaram a se mudar para a equipe Brabham na metade de 1974. Luiz Pereira Bueno disputou o GP do Brasil de 1973 com o terceiro carro da equipe e somente após Moco pilotar o TS-9B de número 23 e comprovar as queixas de Luizinho é que Surtees concordou em fazer as mudanças pedidas por Bueno.
- Surtees pilotou para várias equipes e fábricas, aqui ele está abordo do McLaren M12 da Chaparral (Chaparral History)
Além da F-1 ele construiu modelos de F-2 e desenvolveu carros da Lola e da Chaparral para a série Can-Am, incluindo um McLaren M12 comprado por Jim Hall para descobrir por que os carros de Bruce McLaren dominavam a categoria norte-americana. Em 2005 Surtees voltou às pistas como presidente de honra do Team GB na categoria A1-GP. Em 2009 auxiliava seu filho Henry no caminho para a F-1 quando uma tragédia se abateu sobre a família: o herdeiro faleceu em um trágico acidente em Brands Hatch quando, após uma batida, uma roda atingiu a cabeça do piloto.
John Surtees estava internado há cerca de dois meses no St. George’s Hospital, em Londres, com problemas respiratórios. Ele deixa esposa Jane e as filhas Leonora e Edwina.
WG