Meio na base da mineirice brasileira, dois grupos canadenses estão provocando mudanças significativas no ambiente da F-1. Mal terminou a temporada de 2018 e a família Stroll parece disposta a seguir movimentando os bastidores, desta vez alterando um processo até então dos mais complicados, a mudança do nome de uma equipe. Paralelamente, o clã Latifi, que tem base em Ontário, ocupa espaços outrora dominados pelos compatriotas da região francesa do país. Trata-se de duas das famílias mais ricas do Canadá: uma dedicada ao ramo de confecção e outra na indústria alimentícia.
Lawrence Stroll é, entre outras coisas, um colecionador de Ferraris e sua paixão pelos carros de Maranello ajudou a posicionar seu filho Lance (foto de abertura) no automobilismo esportivo. Sempre protegido por estruturas supercapacitadas, o ex-companheiro de equipe de Felipe Massa acabou ganhando uma fama que ofusca suas reais qualidades como piloto. Indiferente a tudo isso, quando o acordo com a equipe Williams começou a naufragar, os Stroll não tiveram dúvida em aproveitar a oportunidade que o indiano Vijay Mallya há tempos vinha tentando postergar e lideraram um consórcio que assumiu a equipe Force India no meio desta temporada.
Entre os GPs da Hungria (29/7) e da Bélgica (26/8), a Force India finalmente trocou de donos e passou a ser controlada por um consórcio liderado por Lawrence Stroll e completado por Andre Desmarais (Power Corporation, serviços financeiros e Performance Sports Group), Jonathan Dudman (Arena Wealth e Cattella Financial Office), John Idol (Michael Kors Holding, grifes de moda), John McCaw Jr. (Telecomunicações), Michael de Picciotto (Engel & Volkers, mercado imobiliário de alto luxo) e Silas Chou (Moda). O primeiro passo do grupo foi renomear o novo empreendimento para Racing Point with Force India, nomenclatura que dias atrás a Federação Internacional do Automóvel deixou vazar que seria simplificada para apenas Racing Point em 2019. Já não é bem assim: o romeno Otmar Szafnauer, diretor esportivo do time, já admite que poderá ser alterado brevemente. Não deixa de ser curioso já que até então essa alteração demandava concordância de todas as equipes e, invariavelmente, acordos pouco claros entre seus dirigentes.
Ainda durante a temporada deste ano o presidente da Sofina Foods, equivalente canadense a grupos de poder econômico como a JBS ou BR Foods (comparação apenas de faturamento, nenhuma alusão à práticas comerciais) adquiriu 10% das ações do Grupo McLaren. Demorou muito pouco para que o investimento de Michael Latifi, canadense de origem iraniana, gerasse especulações sobre a possível incorporação do seu filho Nicholas, que já foi ligado à equipe Renault, como piloto de provas da equipe McLaren. Tal possibilidade foi desmentida e refutada, o que não causou surpresa, ao contrário da notícia anunciada ontem pela equipe Williams: Nicholas Latifi será o piloto de testes da equipe para 2019. Cabe lembrar que nesta temporada ele foi piloto de testes da equipe Force India (chegou a participar do primeiro livre para o GP do Brasil), a equipe que pertence a um consórcio liderado por Lawrence Stroll…
Após dois anos de aprendizado na Williams, Lance Stroll deixa o time de Grove para assumir a vaga que era de Estebán Ocón na Racing Force Force India, a mesma onde Latifi foi piloto de testes em 2019. Ironicamente, Latifi estará ao volante de um dos carros de Grove — cidade onde fica baseada a Williams —, em seis sessões de treinos livres de GPs e em algumas sessões de testes de pneus e de novatos durante a temporada. Caso o polonês Robert Kubica não corresponda às expectativas em seu retorno à categoria, não será surpresa se Latifi acabe ocupando a vaga no meio da temporada. A carreira de Kubica foi interrompida precocemente no início de 2011 em consequência de um acidente num rali na Itália: após chocar-se contra o guard-rail o braço direito do polonês foi severamente afetado e, apesar de resultados razoáveis conseguidos em treinos livres, ainda há dúvidas quanto à sua real competitividade.
WG