Pouco a pouco o automobilismo vai voltando ao normal, em alguns casos mais rápido, noutros nem tanto, mas sempre com muitas negociações para evitar tanto quanto possível a propagação do coronavírus. Ontem, em São Paulo, o Secretário da Casa Civil Orlando Faria recebeu dirigentes e promotores para conversar sobre a possível reabertura de Interlagos, conversa que faz parte de um plano mais amplo.
Na Europa, Mercedes e Ferrari se preparam para enfrentar as curvas e retas de pistas inglesa e italiana não em busca de melhorias mecânicas: com carros de 2018 essas equipes querem que seus mecânicos conheçam as limitações que vão caracterizar o modus operandi da F-1 2020.
Nos Estados Unidos a F-Indy e a Nascar movimentaram o fim de semana com provas sem espectadores, algo impensável para Roger Penske. O dono de Indy já avisou: sem público não haverá 500 Milhas de Indianápolis este ano. Não falta assunto para as infinitas lives e posts destes destes tempos de isolamento coercitivo.
A reunião com o secretário municipal teve a presença do presidente da Federação de Automobilismo de São Paulo (Fasp), José Aloizio Cardozo Bastos, representantes das Confederações Brasileiras de Automobilismo e de Motociclismo e das categorias Stock Car e Porsche Cup, além de vereador Rodrigo Goulart (PSD), cuja base eleitoral é a região de Interlagos. Ademais da apresentação de protocolos de funcionamento focados em distanciamento social, controle sanitário e presença mínima de pessoas nos boxes — as arquibancadas de Interlagos não serão abertas ao público —, foi proposta a reabertura da pista em duas fases. Na primeira, em julho, o circuito seria aberto para treinos, e na segunda, em agosto, voltariam as corridas. A medida vale também para o kartódromo paulistano.
Essas negociações deverão ganhar maior dimensão ainda esta semana: Goulart e o presidente da Fasp deverão se reunir com autoridades estaduais para pleitear a liberação de outras pistas espalhadas pelo interior de São Paulo, caso dos autódromos de Piracicaba e do Velo Città e kartódromos como os de Itu e o de Birigui, entre outros. De acordo com Cardozo Bastos “a proposta foi bem recebida e estou confiante de que a análise detalhada dos protocolos apresentados vai contribuir muito para a liberação de Interlagos.” Goulart, por seu lado, encampou a ideia de que as limitações impostas aos esportes não se aplicam ao automobilismo “pois não se trata de um esporte de contato e tampouco teremos aglomerações, uma vez que o público não terá acesso às arquibancadas”.
Na Europa o processo está bem mais avançado: ontem a DTM realizou a primeira de quatro sessões de testes “pré-temporada” no traçado GP de Nürburgring. Nove pilotos participaram do ensaio — cinco pilotando Audi e quatro, BMW — e o mais rápido foi o austríaco Philipp Eng, que fez 1’19”204, cerca de quatro décimos abaixo do tempo que René Rast gastou par conquistar a pole position na prova de 2019 nessa pista. A temporada do DTM começa no primeiro fim de semana de agosto em Spa-Francorchamps, pista incluída nas oito etapas do Mundial de F-1 deste ano, no dia 30 de agosto.
A largada do campeonato será em 5 de julho e todas as provas confirmadas até o momento realizar-se-ão na Europa: Áustria (5/7 e 12/7), Hungria (19/7), Inglaterra (2/8 e 9/8), Espanha (16/8), Bélgica (30/8) e Itália (6/9). Em recente entrevista à BBC Sport, Ross Brawn admitiu que “a situação instável em muitos países torna difícil confirmar a realização de provas neles” e citou Brasil, México e Rússia como os mais ameaçados de ficar fora do calendário 2020. Os promotores do GP do Brasil, porém, na última sexta-feira confirmaram que os planos de realizar a prova em Interlagos seguem firmes.
Em meio a tudo isso, Mercedes e Ferrari trabalham para facilitar a adaptação de seus mecânicos e engenheiros às novas condições de trabalho: a primeira fará dois dias de treinos em Silverstone e a segunda, em Fiorano. Circulam rumores de que o teste da Ferrari poderia ser em Mugello, sede da etapa italiana da MotoGP, e também porque o local é passível de receber uma segunda corrida na Itália logo após a etapa em Monza.
Se consumado, seria o cenário ideal para uma grande festa nacional: a nona etapa da temporada 2020 marca o milésimo GP da Scuderia de Maranello e celebrar esse marco em uma pista no país teria impacto bem maior do que em qualquer outro circuito.
Além do mais o autódromo situado em Scarperia, na Toscana, é de propriedade da Ferrari e o Automóvel Clube Italiano (ACI) apoia a ideia. Uma série de ilustrações com os principais pilotos e carros dessa história será lançada durante o ano.
Tal qual a esperada reabertura de Interlagos e as provas europeias, as competições nos Estados Unidos também não terão a presença de público nas arquibancadas, situação que não deverá ocorrer na 500 Milhas de Indianápolis: sem a liberação de torcedores nas arquibancadas do Indianapolis Motor Speedway a famosa Indy 500 não se realizará. A ordem veio de ninguém menos que Roger Penske, atual proprietário do icônico circuito americano onde há mais de um século é disputada uma das mais tradicionais provas do automobilismo.
Por causa da pandemia do coronavírus a competição foi transferida do feriado do Memorial Day (último fim de semana de maio) para o dia 23 de agosto; caso ainda haja restrições de eventos públicos nessa data Penske admite adiar novamente, para outubro. “Estamos nos preparando para realizar a corrida em agosto e acho que nessa época estaremos em condição para tanto. De qualquer maneira, só haverá corrida com a presença de público.”
WG