Na intrigante foto de abertura vemos um trenzinho com um logo VW com vagões lotados de crianças e um dócil elefante e seu treinador. Adiante vamos desvendar o segredo desta minilocomotiva e onde esta foto foi feita.
Trenzinho “VW” sobre trilhos
A história começa em 1955 na dividida cidade de Berlim, cuja parte ocidental estava encravada na Alemanha Oriental, mas o muro seria levantado só em 1960.
Estava sendo planejada uma grande exposição de construção a “Interbau 1957”. Para o transporte de pessoas especificamente para esta feira havia a ideia de construir dois trenzinhos sobre trilhos que circulariam num túnel do metrô entre as estações de Hansaplatz e Zoo numa linha exclusiva para a feira. A ideia foi abandonada e este percurso acabou sendo feito por “trenzinhos sobre rodas” que foram chamados de Expresso do Túnel. No caso eram Fuscas adaptados para o serviço de tração de vagões com passageiros,; adiante veremos outros tipos de trenzinhos com rodas e mecânica Volkswagen.
Arthur Franke, que era projetista, desenvolveu o desenho de uma minilocomotiva de linhas aerodinâmicas para a bitola de 600 mm. Com base em seu projeto ele encomendou um comboio, locomotiva mais dois vagões com capacidade total para 60 passageiros, na empresa construtora Lindhorst sob a direção técnica do engenheiro Horst Wollmann. A fabricação foi feita em poucas semanas e envolveu várias empresas de Berlim Ocidental.
Na foto acima se apregoa: Trem-miniatura para exposições – para rua* ou trilhos -– para a Exposição Internacional de Construção Berlim 1956.
Os dados técnicos indicam:
Propulsão: motor industrial VW de 25 cv a 3.000 rpm
Transmissão: câmbio Prometheus de duas marchas à frente e duas para trás
Velocidades máximas: na 1ª marcha 10 km/h e na 2ª marcha, 20 km/h
Carga máxima (tração): 12.000 kg
Número de bancos para passageiros: 60
Fabricado por: Konrad Lindhorst GmbH, de Berlim
(*) – Havia uma previsão inicial de se poder converter o trenzinho para trafegar em ruas por meio de troca das rodas, mas isto não se concretizou.
Para a propulsão deste trenzinho foi escolhido um motor industrial Volkswagen, fornecido pela lendária concessionária VW Eduard Winter, que também forneceu o aopio técnico necessário para a adaptação do motor ao projeto. Com isto o trenzinho ganhou o emblema-logotipo VW, e Arthur Franke passou a chamar o comboio de VW-Austellungs-Kleinbahn (Trenzinho VW para exposições). Mas, fora o motor, este pequeno trem não tinha nada a ver com a Volkswagen como empresa fabricante Chamar o trenzinho assim, convenhamos, foi um pouco exagerado, no máximo poderia ser “Propulsão VW”. Mas o nome Volkswagen tinha uma grande força já naquele tempo.
Com a finalidade de experimentar o equipamento foi decidido instalar o trenzinho no zoológico de Berlin. A área escolhida foi o cantinho de brinquedos para as crianças onde foi construída uma linha férrea com 500 metros de extensão circundando o parquinho para crianças, mais uma estação.
Mas tudo era motivo para festa, e no dia 9 de julho de 1955 foi feita a inauguração da linha de trenzinho do zoológico, com direito a batismo com champanhe.
Mais algumas fotos do Lindhorst Express em plena ação no parque zoológico de Berlim em 1955:
Este trenzinho permaneceu em operação no zoológico de Berlim até 1962 e foi então descontinuado porque o risco de acidentes foi considerado muito grande. A partir dai se perdeu a pista deste trenzinho.
O trenzinho “Porsche” sobre trilhos
A ideia de construir e operar trenzinhos para exposições, jardins botânicos, etc., partiu do empresário berlinense Henry Escher Senior. Ele teve esta ideia a partir do Lindhorst Express de Arthur Franke, que funcionou no zoológico de Berlim como trem infantil de 1955 a 1962. Disto surgiu um florescente negócio que instalou locomotivas em parques e exposições de muitas cidades alemãs e que se expandiu para outros países europeus.
Para a Bundesgartenschau 1959 (Exposição nacional de jardinagem 1959) realizada na cidade de Dortmund, Henry Escher juntamente com Arthur Franke encomendaram à empresa Sollinger Hütte quatro comboios, que vieram a ser a Série 1 (que depois chegou até a série 9). Os chassis foram equipados com um motor industrial Porsche arrefecido a ar de 1.600 cm³ e 40 cv, uma caixa de câmbio manual Hurth de 4 marchas, uma caixa de transferência da própria Sollinger Hütte, acionamentos por eixo da Prometheus Berlin, e freios hidropneumáticos Westinghouse nas 4 rodas.
Aqui também ocorreu o mesmo fenômeno, ou seja, a única coisa da Porsche que estes trenzinhos tinham era o motor, mas isto bastou para eles passarem a ser chamados de “Trenzinhos Porsche”…
A carroceria da locomotiva e as superestruturas dos reboques foram feitas pela empresa de Hamburgo Piotrowski (Pio Karosseriewerk) por encomenda da Sollinger Hütte e foram realizadas em trabalho manual sob a direção de Willy Zimmermann.
O então ultramoderno Trans-Europa-Express (TEE) do Deutsche Bundesbahn (Ferrovias Nacionais Alemãs) serviu como inspiração de design:
Uma curiosidade: os para-lamas, capô e faróis vinham de um DKW 3=6, outras peças vieram da construção de barcos (cobertura superior, entradas de ar, etc.).
Trenzinhos VW sobre pneus
A mecânica do Fusca foi usada em vários tipos de trenzinhos sobre pneus, fabricados por diversas empresas. Estes trenzinhos também foram usados em parques, exposições e até em aeroportos.
O Protoyp Museum de Hamburgo resgatou um exemplar, o restaurou e usa hoje em dia para diversas atividades, inclusive o aluga para passeios em grupo pela cidade. Seguem algumas fotos deste exemplar:
Já que falamos em uso destes trenzinhos com pneus em aeroportos ao vai uma foto de 1968 tirada no aeroporto de Munique-Riem:
Resgate do Trenzinho “VW” sobre trilhos
Em 2004, um trem foi oferecido no EBay, que, à primeira vista, é idêntico ao Zoo-Express. A locomotiva só difere na cor e na etiqueta “Express”, caso contrário, é idêntica. Já os vagões oferecidos são diferentes pois possuem apenas 4 entradas e alças na parte externa, de modo que pode ter havido dois trens.
O Prototyp-Museum se apressou em comprar o trenzinho para restaurá-lo, tarefa que se mostrou ser bem difícil como mostra a foto abaixo:
A carroceria foi cuidadosamente restaurada, mas sem o chassi e a propulsão. O resultado pode ser visto nas fotos abaixo:
Nesta matéria eu dei uma de “caçador de mitos” e coloquei “os pingos nos is” desta história muito interessante e controversa.
O assunto foi sugerido pelo Marco Hammerand, alemão que mora em Pomerode, SC, mas as pesquisas tiveram que partir praticamente do zero. Agradeço a ele a sugestão.
Quando eu descobri que o trem da tal foto que deu volta ao mundo pertencia ao Prototyp-Museum de Hamburgo (através de um Blog de Viagens do Eric, de Pittsburgh, PA, EUA) eu entrei em contato com o museu e obtive apoio para a minha pesquisa por parte de seu curador, o historiador Sr. Simon Braker. Registro o apoio da Sra. Carolin Peiseler também do museu. Agradeço aos dois.
AG
Para a realização desta matéria foram feitas pesquisas nos seguintes sites: http://www.porschelok.de/; https://pikabu.ru/; https://9gag.com/; http://www.saarwolf.com; http://90daysineurope.blogspot.com/ além da Wikipédia. A fonte das fotografias ou está indicada na foto ou na legenda.
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