Abril do segundo ano da pandemia fechou novamente de forma atípica, com muitas mudanças no ranking dos mais vendidos e com nível de emplacamentos diários ligeiramente superior a março, 8.208 vs 7.715.
Vimos também fabricantes anunciando fechamento temporário de fábricas em todos cantos do planeta, sempre pelo motivo da falta de chips. Porém chamou a atenção que na maioria dos casos essas suspensões de produção são bastante curtas, da ordem de alguns dias e a fábrica da GM de Gravataí deve ficar paralisada quase três meses.
Sempre quando não encontramos explicações convincentes para certos fenômenos, nossa mente criativa se ocupa de bolar justificativas, as quais invariavelmente acabam por tornar-se mirabolantes teorias conspiratórias, as TCs. A falta de semicondutores foi diagnosticada como fenômeno consequência do covid, com mais gente em casa, a demanda de computadores e games deu um salto e os fabricantes de semicondutores acabaram por priorizar este segmento, mais lucrativo que o do setor automobilístico. Até aí, uma TC que acabou confirmando-se não só pelos fatos, mas também por algumas mensagens sutis emitidas pelos executivos dos setores atingidos. Com volume disponível menor que a demanda global, parece houve um acordo de cavalheiros entre os fabricantes de veículos que a carência de chips deveria ser distribuída entre todos de forma igualitária, sem privilegiar um ou outro, o que parece crível. Uma TC talvez aceitável. Na sequência, como os fabricantes lidariam com a distribuição de chips entre eles mesmos?
Saiu noticiado pela agência AN (Automotive News) que GM, Ford e Stellantis haviam decidido direcionar suas produções para proporções maiores modelos com menor valor agregado, i.e., com menos semicondutores por modelo, fato. Então veio mais uma TC, na forma de rumor, de que esses fabricantes privilegiariam os modelos mais rentáveis em detrimento de outros. Assim, justificar-se-ia que a GM de Gravataí, que produz os modelos Onix e Onix Plus, foi a escolhida para o sacrifício em prol das fábricas que fazem picapes e suves, estes bem mais rentáveis.
Por mais que essa TC faça algum sentido, creio pouco provável que haverá como comprovar, tampouco aguardar confirmações oficiais, mas o que estamos vendo por aqui é a Fiat e Jeep tomando um naco do mercado de forma inesperada. Pode até ser que, uma vez normalizada a questão dos chips, o que projetam ocorra até o final deste ano, os modelos Onix e Plus retomem as suas devidas posições de preferência do consumidor, mas certamente a GM (GM Mercosul) terá sofrido estragos em seus resultados do ano.
A carência de matéria-prima também nos vem afetando, aço principalmente, em proporções significativamente mais baixas que as de chips e há a expectativa de que até o segundo semestre esta questão já esteja normalizada, porém com mais impacto nos custos totais, uma vez a commodity aço deu um salto de preços e segue subindo.
Num cenário de falta de componentes e de alta dos preços e uma interminável turbulência política, era de se esperar que os consumidores esfriassem seus ânimos e visitassem menos as concessionárias na busca por modelos 0-km, não é o que acontece na vida real. O volume de emplacamentos diários vem se mantendo na casa dos 8.000, sendo que em abril ele foi 6% superior a março e em maio as vendas estão ainda mais aquecidas.
No último dia 7, Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, apresentou os números de abril à imprensa especializada e principais cadernos econômicos quando preferiu ressaltar que as exportações vêm reagindo de forma positiva e que tecer comparações com mesmos meses de ’20 fazia pouco sentido. Nós aqui no AE já chegáramos a essa conclusão também. Abril de ’20 foi de zero produção de autoveículos e vendas foram residuais, uma vez a quase totalidade das concessionárias ficou fechada. Então, matematicamente, qualquer número dividido por zero tende ao infinito. Os embarques ao exterior também cessaram. Preferimos quebrar um pouco nossas práticas de análise e usar o ano de 2019 como referência principal, foi o último ano saudável antes da pandemia, a despeito que ele ainda era considerado como de recuperação da enorme crise que nos abateu em 2015 e ’16.
Neste ano nosso nível de produção e vendas tem-se mantido próximo ao de 2017, com tendência de se igualar ao de 2018 (veja gráfico dos emplacamentos diários ano a ano abaixo). A Anfavea projeta um salto de 25% na produção total e de 15% nas vendas ao mercado interno, considerando números do final do ano.
No total foram faturados 175.116 veículos, sendo 164.157 leves, 9.785 caminhões e 1.174 ônibus. São pouco inferiores a março, com três dias úteis a menos.
As vendas diretas também deram uma arrefecida, tanto para automóveis como para comerciais leves, porém a Fiat e Jeep vêm usando desse canal direto numa proporção maior que seus concorrentes e isso vem lhes fazendo a diferença também.
Nosso quadrimestre está 17,4% abaixo que o de 2019, com tendências de melhorar, a despeito dos chips e matéria-prima. Entendo essa uma comparação mais saudável do que com os meses parados de 2020, que apresento no final do espaço desta coluna, para efeitos de registro.
RANKING DE ABRIL E DOS PRIMEIROS 4 MESES DO ANO
A Fiat liderou o mercado novamente e aumentou a sua diferença, foram 36.405 veículos emplacados, com direito a liderar o ranking de automóveis com o Mobi e o de comerciais leves, este de forma avassaladora. A VW veio em 2º com 27.647 unidades, Chevrolet com 20.890, depois Hyundai, Toyota, Jeep num incrível 6º lugar, Renault, Honda. A Caoa Chery aparece em 11º mas em breve passará a figurar entre os 10 primeiros, ultrapassando a Ford, que deixou de produzir no Brasil.
Mobi liderou as vendas do mês, com HB20 desempatado no fotofinish, respectivamente 6.861 vs. 6849, em 3º o Renegade, depois Gol, Onix em 5º, seguido de Creta, Compass. O Corolla Cross no seu primeiro mês cheias emplacou 1.889 unidades. Em maio ele deve superar até seu irmão Corolla (até 18/5 estavam em respectivamente 2.284 vs. 2.288) e a marca líder no mundo vem aumentando a sua presença por aqui com veículos de alto valor agregado.
A Strada bateu novo recorde de vendas, com 12.581 emplacamentos, 5 vezes superior à Saveiro, sua rival direta e esse número a posiciona em 1º no ranking total. O segundo lugar de sempre para a Toro, com bom número de vendas também, 6.682, ou em 3º lugar no ranking geral. Aparentemente a Fiat e Jeep vêm ocupando a lacuna deixada pela saída da Ford do cenário de alto volume local.
Tanto o Compass como a Toro inauguraram novo conjunto propulsor, o 1.3T flex, que vem sendo apreciado pela mídia e devem reforçar a sua posição competitiva no mercado.
VW Taos apresentado (foto de abertura), vem juntar-se ao Corolla Cross para fazer frente ao Compass e suas vendas devem iniciar em junho.
Que o ritmo de vacinação se recupere logo para que o Brasil e o mercado voltem a crescer saudavelmente juntos!
Até mês que vem!
MAS