MUSTANG MACH 1, O PRAZER DE CONHECER E DIRIGIR UM ÍCONE

Que o Ford Mustang é um ícone, acho que ninguém duvida. Mas quando esse ícone tem atributos realmente entusiasmantes, essa percepção muda, e muito, para melhor — para muito melhor se a agora importadora Ford Motor Company na América do Sul trouxesse o modelo Mach 1 com os dois tipos de câmbio oferecidos nos Estados Unidos, onde é produzido em Flat Rock, estado de Michigan, cidade de pouco mais de 10.000 habitantes: manual de seis marchas e automático de dez. Desnecessário dizer qual o escolhido para o Mach 1 rodar em terras brasileiras…

Mas é certo que, mesmo automático, o Mach 1  empolga, Dirigi-o semana passada num evento para a imprensa no autódromo Velo Città. Chega ser desconcertante, no bom sentido, um carro americano que tem todo o jeito de carro europeu. Só o motor já diz tudo, a que veio: som borbulhante, e rasgado do V-8 de virabrequim cruzado, uma sinfonia para os ouvidos. E que vai a 7.500 rpm

Esse V-8 a 90° é o Coyote de 5 litros (5.038 cm³) a gasolina, aspiração atmosférica, diâmetro e curso 93 x 92,7 mm, bloco e cabeçotes de alumínio, arquitetura de duplo comando para as 32 válvulas, acionamento por corrente, variação de fase na admissão e escapamento, taxa de compressão 12:1, injeção direta e no duto, tudo resultando em 483 cv a 7.250 rpm e 56,7 m·kgf a 4.900 rpm. Seu funcionamento é absolutamente suave, para o que há a contribuição decisiva da relação r/l 0,307 obtida pelas bielas de 150,7 mm.

A potência específica é  95,8 cv/l, excelente para um motor de aspiração atmosférica a gasolina, e o torque específico, 11,2 m·kgf/l, um dos altos. A aceleração 0-100 km/h é feita em 4,6 segundos e a velocidade máxima, 270 km/h. A relação peso-potência de 3,7 kg/cv responde por esse desempenho.

A potência vai para as rodas traseiras por meio um câmbio automático epicíclico denominado Selectshift, de projeto conjunto Ford e General Motors, de 10 marchas, via um conversor de torque que bloqueia em todas as marchas. Como eu disse no começo, há nos EUA para o Mach 1 o câmbio manual de 6 marchas Tremec com aceleração interina automática.

O automático é um “7+3”, com a velocidade máxima de 270 km/h atingida em sétima a 7.036 rpm, ou 214 rpm abaixo da rotação-pico. A 120 km/h nessa marcha o motor gira a 3.130 rpm. Para ideia do efeito sobremarcha, a 120 km/h as rotações são 2.658 rpm em 8ª, 2.158 rpm em 9ª, e 2.001 rpm em 10ª.

Note no gráfico, que até à 6ª parece um câmbio e a partir daí, outro. Os alcances, no corte a 7.500 rpm, são 61 km/h em 1ª, 96 km/h em 2ª, 134 km/h em 3ª, 163 km/h em 4ª, 189 km/h em 5ª e 225 km/h em 6ª. Em 7ª, como visto acima, 270 km/h/7.036 rpm.  A trocas manuais sequenciais são feita pelas borboletas somente

Se na reta é um desempenho que agrada em cheio, nas curvas é igual. Suspensão dianteira McPherson e traseira multibraço, com calibração perfeita e com pneus dianteiros 255/40ZR19 e traseiros 275/40ZR19 (Michelin Sport 4S), fazem-no rápido e preciso nas curvas, com pronta resposta aos movimentos de mudança de direção. A relação de direção 16:1 é apropriada e são 2,5 voltas no volante de Ø 370 mm.

Para desacelerar ou deter toda essa massa em alta velocidade, potentes freios a disco nas quatro rodas com pinças fixas Brembo de  6 pistões de Ø 36 mm na dianteira e pinças flutuantes monopistão de Ø 45 mm na traseira com mecanismo do  freio de estacionamento.

A receita

O Mach 1, que ressurge após 17 anos de ausência,  foi formulado lançando mão de alguns itens conhecidos de outras versões do Mustang visando  desempenho e durabilidade:

Do Shelby GT 350: coletor de admissão, corpo de borboleta, sistema de arrefecimento do motor, radiador de óleo, radiador do fluido de câmbio

Do Shelby GT 500:  defletor traseiro, suspensão com amortecimento adaptativo Magneride, barras antirrolagem de maior diâmetro (dianteira oca e traseira maciça), sistema de escapamento com quatro saídas de 4,5 polegadas de diâmetro, difusor traseiro, radiador de óleo do diferencial

Do Bullitt: barra da amarração das torres da suspensão dianteira, caixa do filtro de ar aberta com elemento do filtro de exposto

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Os modos de condução

É significativa no Mach 1 a abundância de ajustes de condução. São oito parâmetros, cada um com 6 ou 7 ajustes possíveis. O quadro abaixo, que fez parte da apresentação no salão sobre os boxes do Velo Città, dá uma ideia clara do que se pode ajustar neste Mustang:

Clique na imagem com o botão esquerdo do mouse para ampliá-la e, uma vez ampliada, clique no pequeno ícone de pausa (“) no canto superior direito para parar a alternância de imagens e poder estudar com calma as possibilidades de ajuste

Verdadeiro cupê

Fora os conversíveis, o Mustang é um autêntico cupê em sua essência desde o primeiro e que continue assim, pois tem uma presença marcante. E, como tal, tem apenas duas portas, com coluna central, e quatro lugares — mais para dois casais darem uma saída à noite do que para irem mais longe. Os vidros das portas não têm moldura — lembra-se do Karmann-Ghia? Mas é uma solução que vem sendo adotada por outras marcas, sobretudo por simplificar em muito a fabricação da porta e custar menos para a fábrica e para o proprietário ou seguradora em caso de reposição.

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Sua linhas são exclusivas  e agradam muito aos olhos, como é comum em muitos cupês. É o tipo do carro que faz seu dono sair dele depois de estacioná-lo se afastar e dar uma paradinha com meia volta só para olhá-lo.

Se parado dá água na boca, andando o novo Mach 1 mostra a que veio. Está muito mais para carro esporte do que para carro esportivo. Ele incita a acelerar, como se pedisse. A maneira como acelera, como freia convincente e sem afocinhar, como “mergulha” nas curvas, tudo evidencia o conhecimento de automóvel dos que o definiram e desenvolveram.

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Contudo, dirigi-lo foi mais um tira-gosto do que propriamente uma avaliação. O circuito completo é de 3.493 m, mas para a sessão de testes foi bastante encurtado e coalhado de chicanas artificiais, marcadas por cones de borracha, para matar velocidade. A reta principal, do boxes, foi cortada aproximadamente na metade. Tirou boa parte da graça. São compreensíveis essas medidas considerando ser um carro que anda muito e nem todos ali presentes terem conhecimento e habilidade de pilotagem. Para piorar foram apenas três voltas — duas e meia no meu caso, cuidado para deixar o freio esfriar um pouco na última volta dada mais lentamente.

Em compensação, a Ford foi magnânima em nos livrar de dois habituais incômodos nesses testes de imprensa em autódromo: uso de capacete e levar acompanhante. Capacete é para corrida, é péssimo para avaliar carro por abafar sons tão necessários escutar, e levar acompanhante, além de constranger, nos leva a sentimento de pena por submeter a pessoa ao lado às forças g nas curvas e nas freadas.

Será muito bom dispor do Mach 1 por alguns dias para conhecê-lo melhor, mas desde já dá para afirmar ser um carro excelente sob todos os pontos de vista. Desanima é seu preço: R$ 523.950.

BS

Mais fotos, em seguida ficha técnica e lista de equipamentos