A instabilidade de fornecimento de semicondutores tem se intensificado a tal ponto que a Anfavea se viu obrigada a refazer projeções na metade do segundo semestre para o restante do ano. E são projeções para baixo.
Na reunião do último dia 6, Luiz Carlos Moraes, presidente da entidade, abordou o tema, mencionou também a escassez de matéria-prima que vem afetando o setor e apresentou os números do mês de setembro e dos três trimestres do ano.
O recuo na comercialização de veículos foi de 10% em relação a agosto último e de quase 28% sobre setembro do ano passado. Os níveis de estoque seguem a quase um terço do habitual, com 17 dias na soma entre fábrica e concessionários, não há carros novos disponíveis para venda e há filas de espera que se estendem por mais de 70 dias para os modelos mais procurados. A curva de recuperação do ano da pandemia não só se achatou, como recuou, voltamos aos níveis de 2017.
Ao todo foram comercializados 155.075 autoveículos novos, sendo 142.354 leves e 12.721 pesados. No parâmetro usual, tivemos 6.790 veículos leves vendidos por dia. Assustador.
À exceção da GM, que retomou a produção na fábrica de Gravataí (um turno só), o que lhe permitiu dobrar os volumes comercializados sobre agosto, e de um ou outro fabricante que conseguiu driblar a falta de chips, i.e., Mitsubishi, Peugeot e Nissan, todos os demais apresentaram forte queda nas vendas. Os números por modelo e fabricante seguem apresentados no final desta coluna.
Depois de cortar a sua produção global em 40% no mês de setembro e de mais dias de interrupção de produção neste mês, a Toyota anunciou que o pior já passou. Mas não no Brasil. A Stellantis suspendeu o contrato de trabalho de 1.800 funcionários da fábrica de Betim por até três meses, a partir deste outubro e a VW anunciou fará o mesmo com 1.500 funcionários de sua fábrica do SBC, cortando um turno de trabalho, por até cinco meses, a partir de novembro. Renault e Honda também seguem no mesmo caminho.
Os preços de veículos vêm apresentando forte elevação, para compensar as altas de custos de matéria-prima, as taxas de juros também subiram, fica a dúvida de qual será o tamanho normal de mercado assim que estas turbulências dos semicondutores ficarem para trás. Seguramente não estaremos próximos dos níveis pre-pandemia.
As vendas de automóveis a frotistas, ou vendas diretas, estiveram no seu nível mais baixo no ano, com 31,8%, algo esperado, na falta de produto, aqueles que mais barganham preço (locadoras) ficam para depois.
Voltando para a revisão de projeções da Anfavea, que em tempos normais é feita semestralmente, a falta de chips, cancelamentos de turnos de produção e reviravolta do mercado os forçou a fazer um novo cálculo no meio do semestre. Os 20% de recuperação sobre o primeiro ano de pandemia (2020, ainda estamos nela, mas felizmente perto do fim) foram por água abaixo, pulverizados, teremos agora, na melhor das hipóteses, vendas 3% acima. Tempos melhores virão.
Ranking do mês e dos três quartos do ano
A Fiat, a despeito do tombo de setembro, -26% sobre mesmo mês do ano passado, licenciou 29.038 automóveis e comerciais leves, VW em 2º, com 20.683 (-39%), Chevrolet recuperando-se um pouco da longa inatividade de Gravataí, com 17.983 (-43%), seguido de Hyundai, Toyota, Jeep. Para termos uma ideia, as marcas que faziam 20.000 carros/mês na pre-pandemia eram as do 2º pelotão, i.e., Hyundai, Renault, Toyota, Ford. Nos três trimestres a Fiat segue em 1º, e não sai mais daí, ao menos neste ano, uma alta de 64% sobre mesmo período de ’20, quando o mercado todo está em +13%. VW em 2º, com 226.962 emplacamentos (+1% sobre ’20), Chevrolet em 3º, com 160.958, seguida de perto pela Hyundai, com 139.565.
O HB20 assumiu a liderança entre os automóveis, no mês e no ano, com respectivamente 7.147 e 67.154 unidades. Compass em 2º em setembro, a troca de motorização vem lhe fazendo muito bem, T-Cross em 3º, Argo em 4º, Mobi, Creta. Novamente cinco suves na lista dos dez mais vendidos, mas seguramente esse ranking seria outro sem a falta de chips.
Foram eles também que determinaram que Toro venderia neste mês mais do que a Strada, Hilux em 3º, com 4.396 unidades, S10 em 4º. Nos três trimestres a sequencia do ranking de comerciais leves se mantém com Strada na frente, por larga margem. A Saveiro tem sido a única dos comerciais leves de grande volume a vender menos neste ano que em 2020.
Neste mês tivemos o lançamento do pequeno suve da Fiat (foto de abertura), que o AE já foi conferir. Um produto que congrega atributos que os compradores têm dado bastante valor, suve, elevado do chão, tela tipo iPad no painel, alta conectividade e a estreia do motor 3-cilindros turbo da Fiat.
Não me surpreenderá se ele for para o topo das tabelas de venda, acotovelando-se com os líderes do segmento.
Também tivemos a notícia que o Civic nacional deixará de ser produzido no mês que vem. A nova geração já estreou lá fora e aqui a sua produção tornou-se inviável dada a enorme preferência do mercado pelos suves. A Honda terá novo formato aqui, com outros modelos, esperamos mantenham-se competitivos.
Até mês que vem!
MAS