A Porsche é a marca com mais participações oficiais na 24 Horas de Le Mans e também a que obteve o maior número de primeiros lugares na classificação geral. As estatísticas creditam 19 vitórias na competição para a marca de Stuttgart, apesar de algumas com modelos híbridos e/ou inscritos por equipes independentes, mas com equipamento Porsche.
Entretanto, durante muito tempo a marca foi mera coadjuvante em Le Mans competindo nas categorias de menor cilindrada, inclusive com vitória nas duas primeiras participações (1951 e 52) para carros com motor de até 1.100 cm³, com o 356 SL (Super Light). Por fabricar carros com motores pequenos, a Porsche não tinha a chance de disputar a vitória na classificação geral.
Isto começou a mudar após o lançamento do modelo 911, em 1963. Com base no motor de seis cilindros do seu carro esporte, a Porsche foi lentamente aumentando seu protagonismo desenvolvendo modelos especiais com o motor boxer de seis cilindros como os 906 e 910, mas ainda ficava na sombra de Ferrari e Ford, que dominaram Le Mans na década de 1960.
Com a mudança no regulamento em 1968, que reduziu a cilindrada máxima dos motores, a Porsche desenvolveu dois novos modelos: o 908, com motores de oito cilindros e 3 litros, e também o motor boxer de 12 cilindros. De 4,5 litros e 520 cv, surgia aí um dos mais espetaculares carros de corrida já fabricado: o Porsche 917.
Este modelo fez sua estreia em Le Mans em 1969, assombrando os concorrentes com velocidade superior a 350 km/h. Enquanto na pista, os dois 917 da fábrica se mantiveram na liderança, mas foram obrigados a abandonar com problemas mecânicos, um com 15 horas de corrida e o outro faltando apenas duas horas para a corrida terminar.
Para a edição de 1970, a Porsche aumentou a cilindrada do motor do 917 para 5 litros e a potência superou os 600 cv. Mas, desta vez, a concorrência estava mais forte, com 11 Ferraris 512S, motor V-12 também de 5 litros, enquanto nove Porsche 917 estavam inscritos. Os 20 carros mais potentes na prova se misturaram no grid de largada.
Apesar do tradicional procedimento de largada ter sido abolido, os carros ainda foram alinhados em posição transversal, mas com os pilotos já a bordo e de cintos de segurança atados. Somente ao ser abaixada a bandeira de largada os motores podiam ser acionados e os carros podiam sair. Este procedimento não agradou e foi abandonado em 1971.
Disputada debaixo de chuva intermitente, a corrida teve muitos acidentes, inclusive um no qual se envolveram quatro modelos Ferrari 512S ainda no início da prova. Assim, a prometida briga Ferrari x Porsche acabou não ocorrendo como o esperado e terminou de madrugada quando o último 512S se acidentou.
Após 20 participações oficiais, a Porsche finalmente venceu Le Man na classificação geral, com o 917 pilotado pelo alemão Hans Herrmann e o inglês Richard Atwood, e repetiu o feito em 1971 com o 917 pelas mãos do holandês Gijs van Lennep e do austríaco Helmut Marko, que percorreu 5.335 quilômetros, média de 222,3 km/h.
Em 1972, com nova mudança no regulamento limitando a cilindrada a 3 litros, os 917 foram alijados da competição e a Porsche, pela primeira vez em 21 anos, não participou oficialmente em Le Mans. Isso, entretanto, não impediu que a marca de Stuttgart, após as duas primeiras vitórias, se tornasse a protagonista principal na competição.
A marca de Stuttgart voltou a vencer em 1976, com o modelo 936, motor boxer turbo de 2,1 litros seis-cilindros, pilotado por Jacky Ickx e o holandês Gijs van Lennep. Pela primeira vez um carro com motor turbo vencia em Le Mans. E de novo em 1977, com o mesmo modelo pilotado pelo belga Ickx, pelo alemão Jürgen Barth e pelo americano Hurley Haywood.
Na prova de 1979, a Porsche foi representada por equipes semioficiais e mesmo assim venceu com o Porsche 935 K3, motor boxer 3-litros turbo pilotado pelo alemão Klaus Ludwig e pelos irmãos americanos Bill e Don Whittington. E, em 1981, nova vitória com o 936 pilotado novamente por Ickx, desta vez em dupla com o britânico Derek Bell.
A mesma dupla voltou a vencer em 1982, mas desta vez com o novo Porsche 956, motor boxer 2,6-litros turbo. Em 1983 outra vitória do 956, com o australiano Vern Schuppan e os americanos Hurley Haywood e Al Holbert. O Porsche 956 voltou a vencer em 1984 com a equipe independente Joest Racing, sendo pilotado pelo francês Henri Pescarolo e o alemão Klaus Ludwig.
O Joest Racing repetiu a vitória em 1985, com o Porsche 956, desta vez pilotado pelo italiano Paolo Barilla e pelos alemães Klaus Ludwig e “John Winter”. Em 1986 a equipe oficial Porsche retornou e venceu a prova com o novo modelo 962, mas com o mesmo motor boxer 2,6-litros turbo. O carro foi pilotado pelo britânico Derek Bell, pelo alemão Hans Joachim Stuck e o americano Al Holbert.
O mesmo trio de pilotos voltou a vencer em 1987, com o 962, completando a sétima vitória consecutiva da Porsche em Le Mans. A marca voltou a vencer novamente em 1994, mas desta vez com a Joest Racing que recuperou e transformou o “velho” modelo 962 e rebatizou de Dauer 962 Le Mans, nome da empresa de moda que patrocinou a empreitada. Foi um artificio, com apoio da Porsche, para contornar o rígido regulamento.
Em 1996 outra vitória Porsche, mas com um arranjo ainda mais estranho. A Joest Racing comprou os carros da TWR usados do modelo Jaguar XJR–14, que haviam corrido em Le Mans em 1991, e montou neles o motor boxer 3-litros turbo que havia usado nos Dauer dois anos antes. O protótipo TWR Porsche WSC-95 venceu pilotado pelo americano Davy Jones, o austríaco Alexander Wurz e o alemão Manuel Reuter.
O mesmo carro voltou a vencer em 1997, desta vez plotado pelo italiano Michele Alboreto, o sueco Stefan Johansson e o dinamarquês Tom Kristensen. Em 1997, a Porsche desenvolveu o protótipo 911 GT1, com o motor boxer de 3,2-litros, com o qual participou oficialmente em Le Mans na edição de 1998, vencendo a prova com o trio formado pelo britânico Allan McNish e pelos franceses Laurent Aïello e Stéphane Ortelli.
Após esta vitória, a fábrica de Stuttgart só foi desenvolver um modelo específico para disputar a vitória em Le Mans quinze anos mais tarde, em 2014. O Porsche 919 Hybrid, marcou o retorno da marca à categoria principal, com a equipe oficial da fábrica, desde a participação em 1998 com o 911 GT1.
Essa volta da Porsche a Le Mans ensejou um dos mais marcantes e belos comerciais de corridas de automóveis: a Audi, que havia vencido Le Mans em 2012, 2013 2014 com o R-18 e-tron quattro, híbrido, produziu um comercial no qual seu modelo vencedor saí de sua sede em Ingolstadt, pega uma estrada, chega em Stuttgart, para diante da sede de Porsche, faz uma série de zerinhos e ao ir embora deixa escrito no solo “Welcome back” (bem-vindo de volta). O vídeo é de uma beleza ímpar, como o Audi ultrapassar velozmente um trator — Porsche! — na estrada e chegando em Stuttgart mostrar a perplexidade de todos — até de um cão — em ver aquele “estranho” na sua cidade.
Com um novo motor a combustão V-4 de 2 litros turbo, com potência em torno de 500 cv, conforme a configuração e tracionando o eixo traseiro, somado a dois motores elétricos nas rodas dianteiras, o sistema de tração integral do Porsche 919 Hybrid totalizava potência de 912 cv. Com este modelo a Porsche obteve mais três vitórias em Le Mans, consecutivas.
Em 2015, com o trio formado pelo alemão Nico Hülkenberg, o britânico Nick Tandy e o neozelandês Earl Bamber. Em 2016, com o mesmo modelo a equipe oficial da Porsche venceu a prova com o trio formado pelo alemão Marc Lieb, o francês Romain Dumas e o suíço Neel Jani. E em 2017 a equipe Porsche repetiu a vitória com os pilotos neozelandeses Earl Bamber e Brendon Hartley e o alemão Timo Bernhard, conquistando a décima nona vitória da marca de Stuttgart em Le Mans.
RM