A BMW está comemorando este ano seu centenário de fundação, mas foi há exatamente 50 anos que a marca iniciou o processo de transformação que contribuiu para consolidar a imagem de prestígio que tem no mercado mundial atualmente. O ponto de virada veio com uma mudança na direção comercial da empresa, assumida pelo executivo suíço Bob Lutz que havia deixado cargo na direção da Opel, então subsidiária alemã da GM.
Autoentusiasta apaixonado por automobilismo de competição, Bob Lutz assumiu o cargo na BMW em 1972 com a proposta de retorno da marca às competições de carros de turismo e para isto contratou Jochen Neerpasch, o chefe de equipe da Ford alemã, juntamente com o especialista em chassis Martin Braungart. Na época, a equipe da Ford dominava as competições com o esportivo Capri.
Na ocasião também foi criada a BMW Motorsport e iniciado o projeto de desenvolvimento do modelo CSL, versão esportiva do CS, o elegante cupê topo de linha da marca desenhado por Wilhelm Hofmeister e lançado em 1968 como 2800CS, com motor de 6 cilindros em linha, 2,8 litros, ainda com carburador e potência de 170 cv, pesando 1.420 kg. Em 1971 foi lançado o CSi, de 3 litros, injeção eletrônica Bosch D-Jetronic e 200 cv.
E foi esta versão que serviu de base para o desenvolvimento do CSL, sigla de Coupé Sport Leicht (Cupê Esporte Leve), já que para ganhar desempenho e competitividade o peso original do CSi foi aliviado em mais de 200 kg, com uso de aço mais fino no monobloco, teto, portas, capô e tampa do porta-malas em alumínio, acabamento mais espartano e redução no isolamento acústico, além de janelas laterais de plástico Perspex.
Lançado comercialmente em maio de 1972, o CSL se caracterizava por detalhes no estilo revolucionários na época como a retirada do para-choque dianteiro, que foi substituído por painel inferior incorporando defletor, enquanto o para-choque traseiro era de plástico ABS. Molduras em alumínio alargavam os arcos dos para-lamas para acomodar as rodas de liga de alumínio fornecidas pela Alpina montadas com pneus Michelin XWX 195/70VR14.
A homologação para as competições só foi oficializada pela FIA no começo de 1973 e para isso a BMW também desenvolveu uma versão exclusiva que tinha a cilindrada do motor aumentada para 3.196 cm), virabrequim de aço forjado de sete mancais e outros detalhes na preparação para pista que aumentou a potência básica do CSL de 206 cv para 345 cv proporcionando densidade de potência 107,5 cv/l e relação peso-potência de 3,05 kg/cv.
Esta versão especial também incorporava painel dianteiro mais elaborado, além de defletor na extremidade traseira do teto para direcionar o ar para a enorme asa sobre o porta-malas. Para-lamas em alumínio alargados para acomodar os pneus especiais de competição, além de curiosas barbatanas fixadas em cima dos para-lamas dianteiros. Devido a estas características a versão especial recebeu o apelido de “Batmóvel”.
Das 1.286 unidades do CSL fabricadas de 1972 a 1975, 167 foram da versão especial “Batmóvel”, que já na primeira participação na 6 Horas de Nürburgring, etapa do DTM (Campeonato Alemão de Carros de Turismo) de 1973, venceu com ampla vantagem pilotado pelo alemão Hans-Joachim Stuck e o neozelandês Chris Amon. Enquanto Niki Lauda, com o CSL da equipe Alpina, estabeleceu recorde de volta em 8m21,3s.
Como curiosidade, para enfrentar a BMW a Ford alemã inscreveu um Ford Capri para a dupla Emerson Fittipaldi e Jackie Stewart, mas eles tiveram que abandonar a prova por problemas mecânicos. Também com o CSL da equipe BMW Motorsport, o holandês Toine Hezemans conquistou o Campeonato Europeu de Carros de Turismo de 1973. Feito que outros pilotos repetiram de 1975 a 1979, com os CSL de equipes independentes.
O visual diferenciado do “Batmóvel” chamava a atenção em uma época em que até modelos esportivos de elevado desempenho tinham design discreto. E isso se destacou mais ainda quando o piloto francês Hervé Poulain, que corria com sua equipe independente em um CSL convenceu, em 1975, o renomado artista plástico americano Alexander Calder a criar uma pintura diferenciadora na carroceria. Surgia aí o primeiro BMW Art Car.
Hervé Poulain teve a ideia depois de ver o trabalho que Calder havia feito para a companhia aérea americana Brannif, dois anos antes, na pintura radical de um jato Douglas DC-8, apelidado de “Flying Colors”, serviço pelo qual cobrou US$ 100.000. Não se sabe quanto Poulain pagou pela obra de arte, mas ela fez tanto sucesso que a própria BMW se interessou pela proposta e patrocinou diversos outros artistas nos anos seguintes.
O segundo BMW CSL Art Car foi do pintor Frank Stella, a obra de arte mais rápida do mundo na época, já que a versão do CSL tinha 750 cv. E, depois, renomados artistas projetaram sua maneira de ver os automóveis BMW, com formas muito diferentes de expressão. A coleção BMW Art Cars tem obras assinadas por Andy Warhol, A. R. Penck, Cao Fei, David Hockney, Jeff Koons, Jenny Holzer, John Baldessari e Roy Lichtenstein.
RM