Recordes de velocidade absoluta são pouco discutidos atualmente. Girar Nürburgring mais rápido que outro carro parece ser mais interessante para a maioria. Mas até mesmo carros elétricos podem andar rápido, então esse negócio de pista fica meio sonolento e entediante, já que toda hora alguém diz e depois mostra ter um carro mais rápido. O mundo LSR (Land Speed Record, recorde de velocidade terrestre) trata de algo completamente diferente. Quão extremo pode ser seu projeto em seu objetivo único: atingir a maior velocidade possível.
Barry John aborda o assunto de uma perspectiva histórica e técnica ao mesmo tempo, e isso é o que faz esse livro publicado em 2020 muito interessante. Com um breve histórico de pilotos, construtores e dos carros em si, o livro passa por detalhes de como e por que as arquiteturas e conceitos dos carros são definidos em cada época e lugar, além de explicar muito bem as diferenças entre os conceitos de carro de recorde. Como muitos sabem, várias dessas tentativas e marcas foram obtidas no lago seco chamado Bonneville, em Utah, nos EUA. Esse local e suas diversas categorias que lá se fazem presentes todos os anos (exceto quando chove) também são discutidos na obra.
Se há um ponto que poderia ser melhor é de que apenas desenhos ilustram todo o livro, e apesar de serem de alta qualidade, nos fazem querer fotos. Mesmo assim, os vários esquemas e explicações comparativas ajudam muito na cultura do LSR, e tendo abordado também veículos de duas rodas fazem do livro uma rica fonte de informação.
Pode-se, por exemplo, saber mais um pouco sobre Burt Munro e sua Indian, ou sobre as motos com motores NSU que atacaram várias categorias em 1956, até chegar ao curiosíssimo projeto Buddfab Streamliner, uma moto de 50 cm³ que chegou a quase 240 km/h em 2009. Sem dúvida nenhuma é uma história que se não encontra em qualquer lugar.
Obviamente os grandes monstros são mostrados, como o Goldenrod de quatro motores V-8, o Blue Flame, primeiro carro a passar dos 1.000 km/h, e o fabuloso Thrust SSC, detentor do atual recorde absoluto, com 1.227,986 km/h, o primeiro carro a romper a barreira do som, em 1997. Na escalada de velocidade se deixou de ter a potência dos motores enviada às rodas e se adotou motores a jato e foguetes, e nisso uma nova categoria foi criada, a dos carros sem tração nas rodas. Esses são os mais velozes desde 1963, e o porquê disso tudo também está bem explicado nesse excelente livro.
Não apenas de história se abastece o autor para preencher sua obra. O futuro também tem espaço, já que o próximo objetivo são as mil milhas por hora (1.609 km/h), e aí se fala dos três principais contendores, o Bloodhound — do qual já falamos aqui no AE, e cujas datas objetivas se tornam cada vez mais distantes — o North American Eagle, uma fuselagem de avião Lockheed F-104 Starfighter transformada em carro e o Aussie Invader III, um projeto australiano.
De se notar que o autor comenta sobre o acidente com o Eagle, que vitimou a piloto e apresentadora de TV Jessi Combs, em agosto de 2019. Esse projeto foi abandonado desde então, restando apenas os outros dois com o objetivo de mil milhas por hora.
Se um dia a vontade do ser humano de ser o mais rápido irá acabar duvidamos muito. E isso faz desse tipo de história algo excelente para se analisar o comportamento com o passar do tempo. Se você tem essa curiosidade e se entedia um pouco com as notícias sobre tempos em Nürburgring, esse livro pode lhe fazer esquecer o tédio facilmente.
Veja abaixo algumas fotos de partes do livro.
JJ