Junto da fumaça que emana de postos-chaves da F-1 e da Federação Internacional do Automóvel (FIA), a categoria mais importante do automobilismo mundial segue sua cruzada em busca de tornar uma operação utópica e carimbada com a marca de carbono zero. Isso inclui a mudança de data do GP do Canadá (foto de abertura) a partir do calendário de 2026 e a reestruturação que envolve tais organizações não deixam dúvidas que há muito para ser analisado no próximo fim de semana, quando o resultado do GP de Las Vegas poderá coroar Max Verstappen como o novo tetracampeonato mundial.
Interesses comerciais, tradições locais e outros inúmeros interesses sempre estiveram presentes na elaboração dos calendários da F-1. A história do GP do Brasil, por exemplo, começou com a corrida sendo disputada no início da temporada para permitir que custos de transporte e logística fossem divididos com a Argentina e que o clima de verão garantisse corridas em tardes ensolaradas. A primeira parte disso foi cumprida sem problemas durante uma década, entre 1972 (quando a corrida não valeu para o campeonato mundial) e 1981.
O início de uma fase mais difícil da economia portenha impediu a realização da prova em Buenos Aires a partir de 1982, quando a segunda versão do autódromo de Jacarepaguá passou a receber a categoria. Desde então e até 1989 o circuito carioca abriu a temporada; em 1992 Phoenix, nos Estados Unidos teve essa primazia e em 1993 o GP voltou a Interlagos para estrear um circuito descaracterizado — mutilado? —, reduzido quase pela metade e órfão de um traçado clássico, singular e espetacular.
A presença brasileira entre os primeiros três GPs do campeonato durou até 2001 e em 2002 a corrida passou a fechar a temporada em várias ocasiões. Isso durou até que alguns países aceitaram pagar pelo privilégio de promover a prova final do campeonato: em 2003 o calendário encerrou na China e após uma sequência que alternou Interlagos, China e Abu Dhabi como encerramento da disputa pelo título. Desde 2014 o circuito de Yas Marina encerra a temporada, privilégio que está garantido até 2030.
A extensão cada vez mais dilatada do campeonato traz muito mais que lucros para a Liberty Media, empresa que detém os direitos comerciais da F-1. A cobrança cada vez maior do politicamente correto e a necessidade de engajamento na busca pela emissão zero de carbono faz surgir um quebra-cabeças complexo para definir a ordem das corridas a cada ano. Em 2025 o calendário tem uma sequência de GPS das mais complicadas: Após a quarta etapa em Jeddah (Arábia Saudita, 18/4) haverá os GPs Miami (2/5), Ímola (16/5), Mônaco (23/5), Barcelona (30/5), Montreal (13/6) e Áustria (27/6).
Para evitar que o circo cruze o Atlântico Norte duas vezes em pouco mais de um mês, as corridas no Canadá e no Principado de Mônaco serão invertidas: a canadense, tradicionalmente disputada na primeira quinzena de junho, será antecipada para a segunda quinzena de maio, enquanto a monegasca será no início de junho. Num mundo onde as tradições sofrem cada vez mais ritos de desconstrução, isso implica em alterar um evento coincidente com o Festival da Lagosta em Montreal, verdadeira avant première do início do verão local. A data do GP de Mônaco há tempos segue o feriado de Corpus Christi, 60 dias após a Páscoa.
Para complicar ainda mais a reestruturação do calendário, essas mudanças poderão provocar uma coincidência de datas entre Canadá e Estados Unidos. A tradicional 500 Milhas de Indianapolis é evento de primeira grandeza disputado no domingo anterior ao Memorial Day, feriado fixado na última segunda-feira de maio.
Em meio a tantas controvérsias, o vai e vem de dirigentes segue intenso. Nos últimos sete dias foi anunciado que o americano Greg Maffei deixará o cargo de executivo-chefe e presidente da área de F-1 da Liberty Media no final do ano, anúncio que fez renascer a dificuldade da Família Andretti em conseguir uma vaga entre as equipes da categoria. Maffei ocupou o posto desde 2017, quando substituiu Chase Carey.
Na FIA, prosseguem as renúncias e demissões em postos importantes, desta vez a mudança inclui o alemão Niels Wittich e o português Rui Marques. O primeiro ocupava o cargo de diretor de provas na F-1, posição que o segundo exercia nas provas de F-2 e F-3. O inusitado dessa troca é que a FIA divulgou que Wittich pediu para ser desligado, algo que o alemão nega, inconsistência que reforça o estilo de administração do atual presidente da entidade esportiva, Mohammed bin Sulayen.
Já o mercado de pilotos continua disparando indícios de que Sergio Pérez poderá, efetivamente, deixar a Red Bull no final da temporada e até mesmo encerrar sua carreira. A F-1 assinou contrato de publicidade com três dos seus patrocinadores pessoais: os chocolates Kit Kat, a tequila Patron e a rede latino-americana do McDonald’s.
Decisão pode ficar em Vegas
Uma vitória de Max Verstappen garantirá o quarto título do holandês, que atualmente lidera Lando Norris por 62 pontos de diferença Tal resultado aumentaria essa diferença para 87 pontos, um ponto a mais do que está em jogo nas três últimas etapas da temporada — três vitórias (75 pontos) e três voltas mais rápidas (3) em Las Vegas, Lushail e Abu Dhabi e o triunfo na corrida Sprint na pista do Catar (8).
WG
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