Moro em São Paulo e viajo principalmente pelo estado de São Paulo. Então, vou me concentrar aqui, onde vivo intensamente o estresse insano do trânsito. Sei que outros lugares são mais tranquilos e não enfrentam os mesmos desafios desta cidade gigantesca.
MOTOS
Lembro-me de anos atrás ter sido impactado por fotos e vídeos do enxame de motos na China e na Índia. Aqui em São Paulo ainda não chegamos a esse estágio. Contudo, os entregadores, vitais para o funcionamento da cidade e que até ajudam a retirar outros veículos de circulação, tomaram conta das ruas.
O problema é que quase todos eles são apressados demais e acham que as leis de trânsito não se aplicam a eles porque estão trabalhando. Por não respeitarem essas leis, acabam sendo agressivos. Eles simplesmente surgem do nada e cortam nosso caminho como se fossem invencíveis. Quando ocorre um acidente, quase sempre causado pela imprudência deles, formam uma roda para intimidar o motorista do carro envolvido. Passam entre os carros em vãos estreitos a velocidades insanas. E ai de quem tentar mudar de faixa, mesmo sinalizando e com distância suficiente. Semáforos, conversões e mãos de vias também são ignorados.
Além disso, a poluição sonora que causam aumenta muito o estresse. Eles acham que a buzina é algum tipo de escudo e a usam insistentemente. Junto com as buzinas, há os escapamentos abertos, feitos para causar mais barulho e tentar chamar atenção. O pior é que só vemos o número de acidentes aumentar. O Detran-SP publicou nesta sexta-feira uma matéria alarmante a esse respeito.
Sobre os escapamentos abertos, vivemos em uma terra sem lei. Acho que todas as motos com escapamentos alterados, de entregadores ou não, deveriam ser apreendidas e só liberadas após a instalação do escapamento original. Toda vez que algum egoísta passa por mim, acabando com meus tímpanos em nome de sua diversão, mentalizo o motor da moto dele explodindo. Isso não é desejar o mal; é desejar respeito.
Sou também motociclista, mas respeito as leis de trânsito e as leis da física. Ando comportado. Sei que passar entre carros parados a mais de 30 ou 40 km/h é quase suicídio. Sofro enorme pressão da pressa desses malucos. Eles aparecem do nada, nos cortam, fazem barulho e nos assustam. Invariavelmente, acham que estão certos ou que tudo é justificável por estarem contribuindo para o funcionamento da cidade.
Eu diria que vivemos uma anarquia com os motociclistas em São Paulo. E o pior: não vejo nenhum esforço para enquadrá-los nas leis de trânsito e na convivência. A presença deles me tira a vontade de usar o carro e a moto na cidade.
Outro ponto em relação às motos é o medo de ser assaltado. Parece que os bandidos perderam totalmente o medo e o respeito pela polícia. Já sofri um assalto com arma apontada para mim em uma das pistas centrais da Castello Branco, saindo de São Paulo. Cena de cinema, com os carros parando no meio da estrada. Mesmo na cidade, em qualquer lugar, perdemos o direito de andar de moto. Isso é triste demais.
Meu desejo é que todos os motociclistas simplesmente obedecessem às leis de trânsito.
ÔNIBUS
Para suprir a necessidade de transporte coletivo que o metrô não consegue atender em São Paulo, os ônibus circulam por todos os bairros, ocupando um espaço enorme. Obviamente, não sou contra o transporte coletivo.
Contudo, vejo três grandes problemas que incomodam demais. Excluindo os corredores, que são uma boa solução, as vias ou rotas definidas muitas vezes são inapropriadas para a circulação. Muitas vias simplesmente não comportam os ônibus, e algumas rotas incluem, por exemplo, conversões inadequadas. Além disso, muitos motoristas são verdadeiros intimidadores e avançam sobre os carros.
Os articulados e biarticulados também passam por ruas e fazem conversões claramente impróprias. Parece que as linhas são esticadas ao máximo, quase sempre indo além do bom senso. Nosso famoso “jeitinho”.
Outro ponto é o barulho excessivo. Ando muito a pé, e em algumas ruas, é impossível caminhar sem protetor auricular. Mais uma vez, uma terra de ninguém.
Meu desejo é que o tamanho dos ônibus seja compatível com as vias de suas linhas e que todos se tornem elétricos, reduzindo a poluição sonora.
BICICLETAS
Reconheço que a bicicleta é um excelente meio de transporte, saudável para quem a usa e para o meio ambiente. Contudo, São Paulo é agressiva demais para ciclistas. Os mais conscientes sabem disso e não se arriscam.
Porém, há uma classe de ciclistas que acha que pode desafiar essa agressividade simplesmente porque merecem respeito. Acham que, em nome do “benefício” que causam à sociedade, têm o direito de trafegar em avenidas marginais, complicando a vida dos motoristas.
Para mim, o bom senso deve vir antes dos direitos (e deveres). Eles correm riscos desnecessários.
Meu desejo é que os ciclistas usem mais o bom senso.
CARROS
Talvez aqui estejam os maiores problemas. O primeiro é o excesso. Sobrevoando São Paulo, vemos a verticalização intensa da cidade. Os prédios continuam a subir, avançando sobre bairros tipicamente residenciais, enquanto pouco é feito para melhorar as ruas e acessos.
Com esse excesso, temos uma enorme diversidade de motoristas, com diferentes formações, idades, personalidades, temperamentos e capacidades intelectuais. Muitos se acham o centro do universo, agindo de forma egoísta no trânsito. Junta-se a isso a distração causada por telas, e o resultado é um trânsito caótico.
Placas de “estacionamento proibido” ou de “proibido parar” são ignoradas. Paradas em fila dupla para entregar o carro ao manobrista são normais, mais um exemplo do “jeitinho”.
A cereja do bolo é a incapacidade de ajustar os semáforos de acordo com o fluxo.
Meu desejo é ser mais zen para conseguir continuar dirigindo em São Paulo.
Ainda há muitos outros aspectos que tiram o prazer de dirigir. Não é à toa que muitos jovens não se interessam mais por tirar a carteira de motorista. Hoje, com os aplicativos de transporte, tudo ficou mais simples e barato do que manter um carro.
Que em 2025 e além possamos continuar a ter prazer em dirigir com harmonia, calma e respeito.
Boa passagem de ano a todos e um grande abraço,
PM
A coluna “Substance” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.