Ontem eu tinha decidido escrever sobre essa questão, causa de tantos acidentes com qualquer tipo de veículo e compartilhar minha experiência de 63 anos (habilitado) ao volante, quando vejo um e-mail na caixa de entrada tratando do assunto. É um artigo de Sidnei Canhedo, biólogo, descrito como Mestre em Saúde Ambiental e Gestor da Optalert, biotech australiana, líder mundial em tecnologia de controle de fadiga, scanhedo@optalert.com . O artigo, como tantos e muitos outros, foi distribuído por uma assessoria de imprensa.
Li-o imediatamente, considerei-o sensato e por isso achei importante transcrevê-lo, mas ao final da matéria faço questão de compartilhar minha experiência nessa questão.
QUAO CANSADO É ESTAR MUITO CANSADO AO VOLANTE?
Por Sidnei Canhedo

Enquanto para alguns, férias é tempo de descanso, para outros é momento de enfrentar longas horas pelas desafiadoras estradas brasileiras. Em meio a essa quebra de rotina é comum sentir-se lento mesmo depois de uma boa noite de sono. Além disso, sem terem conhecimento, diversas pessoas sofrem de insônia ou apneia.
Há muitas maneiras pelas quais a nossa saúde e segurança podem ser comprometidas, seja por insuficiência ou por má qualidade na arte de dormir. Os efeitos desse quadro, quando misturados ao volante, podem ser trágicos.
De acordo com recentes dados da OMS – Organização Mundial de Saúde, os acidentes de trânsito resultam na morte de aproximadamente 1,19 milhão de pessoas em todo o mundo a cada ano, e deixam entre 20 e 50 milhões de pessoas com lesões não fatais.
Parte significativa desse impressionante drama é provocado por sonolência, cansaço e fadiga, um trio que embora seja usado, erroneamente, de forma intercambiável, elas são bem distintas.
O cansaço é um sintoma físico ou mental que está diretamente relacionado ao esforço realizado ao longo do dia. É aquela sensação de desconforto sentida ao realizar uma atividade física muito intensa. É algo pontual.
A fadiga é um sintoma médico de um desgaste que pode ser físico ou mental e que vai além do simples cansaço. A pessoa acaba não tendo energia para realizar suas atividades corriqueiras, sentindo uma imensa necessidade de repousar ou com sintomas como dores de cabeça, por exemplo.
A sonolência um estado perigoso logo antes do início do sono, em que o corpo está realmente lutando para permanecer acordado. Estar nessa fase ao volante, na qual a sua concentração e tempo de reação são severamente afetados, pode ter consequências mortais.
Como saber se está cansado demais para dirigir?
Se a pessoa dirige longas distâncias para o trabalho — ela compreende que a maneira como ela se sente no início de uma viagem em comparação com o final (ou mesmo ao longo do caminho) pode mudar drasticamente. Portanto, mesmo que ela esteja se sentindo bem no início, logo poderá se sentir cansada e entrar numa zona de risco ao volante.
Hora do dia: o perigo de dirigir à noite
Dirigir em horários em que o corpo está naturalmente programado para dormir é uma luta contra o relógio natural de seu corpo. Os trabalhadores que cumprem turnos noturnos são especialmente suscetíveis a se sentirem sonolentos no trabalho e até mesmo durante as viagens de ida ou volta à empresa.
Qualidade do sono da noite anterior
Todos nós já passamos por uma noite quase insuportável de pouco sono. Os principais estudos relacionados à quantidade mínima que o corpo precisa para se recompor apontam para um mínimo de 6 horas, sendo o ideal entre 7 e 8 horas por noite. Se a pessoa dormiu menos de 6 horas ela deve, prudentemente, evitar o volante.
Se o percurso for o de um trajeto de longa distância no dia seguinte, a recomendação é preparar a casa na noite anterior, formando um ambiente propício para uma ótima noite de sono, além de evitar refeições pesadas e o consumo de bebidas alcoólicas.
As chamadas ‘dívidas’ de sono são reais!
E antes que a pessoa perceba, ela acumulou diversas horas em débito. Infelizmente, estudos recentes concluem que não há uma receita eficaz para repor esse déficit e nem há a garantia de que uma hora não dormida pode ser matematicamente compensada. O fato é que as dívidas de sono se acumulam e as ‘cobranças’ podem aparecer justamente quando a pessoa estiver ao volante.
Longos percursos e rotas frequentes são gatilhos de fadiga
Muitos quilômetros de estrada podem se tornar chatos e monótonos, e se não houver nada que prenda ativamente sua atenção, como outros carros, pessoas, ciclistas e semáforos; a fadiga se apresentará!
Da mesma forma, rotas frequentes, percorridas diariamente, podem deixar a pessoa excessivamente confortável, sem que se envolva ativamente com o que está ao seu redor, atraindo a sonolência ao motorista.
Batalha perdida
Ao contrário do que muita gente pensa, não há como lutar contra o sono, não importa quantas xícaras de café a pessoa possa beber, quão alto aumente o volume do rádio ou quantas janelas do carro estarão abertas. Finalmente, o sono vencerá!
Mas como identificar o risco ao volante?
A verdade é que, muitas vezes, somos incapazes de determinar com precisão o quão cansados estamos, não apenas por não conseguirmos identificar os sintomas mas também por uma certa autonegação e teimosia irresponsáveis.
No intuito de proteger vidas, indústrias e governos caminham para tirar essa decisão do autodiagnóstico das mãos dos próprios motoristas e estão apostando em tecnologias de monitoramento de sonolência e fadiga, com sistemas cada vez mais avançados.
A mais eficaz delas está aplicada a um óculos sem fio capaz de medir o movimento das pálpebras de um motorista a uma incrível taxa de 500 vezes por segundo, coletando dados que são automaticamente processados em um software que tem como referência a escala de sonolência australiana chamada JDS (Johns Drowsiness Scale) desenvolvida pelo Dr. Murray Johns . Ela gera, em tempo real, uma nota de 1 a 10 de risco incluindo índices de sonolência. O sistema é utilizado em caminhões de mineradoras em um ambiente fechado e controlado.
Já para carros de passeio, ônibus e caminhões que circulam em locais abertos e em longas distâncias, há câmeras de monitoramento que também apresentam bons resultados de eficiência, tanto que, este ano, todos os veículos novos na União Europeia já estão, obrigatoriamente, saindo de fábrica com equipamentos que fazem a leitura do estado de alerta do motorista.
É possível que, num futuro próximo, com os avanços da Inteligência Artificial e com a tendência dos governos de serem mais rigorosos, o sistema de controle de segurança dos veículos não permitirá que alguém com sono ou fadiga assuma o risco de sentar à frente do volante. Será uma evolução que resultará em uma redução significativa de acidentes graves e fatais nas ruas e estradas de todo o mundo.
(Fim)
Minha experiência
Para mim o sono ataca, avassalador, ao amanhecer, acredito que cada um tem a sua hora de isso acontecer. Certa vez sai do Rio à meia-noite, com um amigo, umo a Brasília assistir a uma Mil Quilômetros. Foi em 1963, eu com 21 anos e o carro era o meu primeiro, um DKW ’61 comprado usado pelo meu pai. Na parte noturna da viagem, sem problema de sono, mas próximo a Belo Horizonte acordei com o carro aos pulos: dormi dirigindo e o rodar anormal que me despertou foi por ter saído da estrada, felizmente para um descampado, sem nenhum obstáculo. Seguimos viagem normalmente. Estava amanhecendo e aquilo foi uma lição valiosa, aprendi qual o meu limite e a agir antes de pegar no sono.
Sono vir é normal e com o passar do tempo fui aprendendo a combatê-lo. Lia muito a respeito, dicas de como se manter desperto. Uma delas funciona para mim, é Coca-Cola e em seguida, café. A combinação me dá um “alcance” de três horas, às vezes um pouco menos. Outra, algum tempo depois, foi comer carboidratos como batata frita. Aliás, o simples fato de comer espanta o sono estando onde se estiver.
Outra medida antissono é fumar dirigindo, obviamente para quem fuma. Para mim funciona bem. Há também um site que dá conselhos para afastar o sono.
Técnica
Há uma técnica para não dormir que aprendi no filme “O resgate do soldado Ryan”, de 1998. do notável diretor Steven Spielberg com o não menos superlativo Tom Hanks o ator principal (Capitão John Miller Jr). Em dado momento, o capitão diz a um soldado que uma sentinela não pode dormir, ou todo o pelotão estará em alto risco. Ele explica ao soldado que o mecanismo do sono é cruzado, em que para não dormir deve-se dar comando mental “quero dormir, preciso dormir”, e o sono é afastado, e que não adianta dar comando “não quero dormir, não posso dormir, preciso chegar em casa”, pois o sono vem inexoravelmente. Comigo tem funcionado para não ter sono e dormir ao volante. Já para dormir, não sei, nunca tive insônia.
O que o autor diz sobre preparar-se para uma viagem, estar bem dormido, é fundamental. Apreciei também a parte da “dívida de sono”, uma vez que já estive (quem não?) nessa condição incontáveis vezes. Também, ele fala de câmeras que detectam cansaço do motorista mediante um software que detecta sonolência do motorista. Muitos carros no nosso mercado já têm este inestimável auxílio por meio de uma luz amarela no quadro de instrumentos com o ideograma de xícara (de café) sugerindo uma parada..
De qualquer maneira, ao ter sono dirigindo a providência sensata é parar num local seguro (jamais no acostamento) e dormir um pouco. Em cerca de meia hora, em média, restabelece-se a condição de dirigir. Ou então caminhar um pouco em volta do carro, funciona também.
BS
A coluna “O editor-chefe fala” é de exclusiva responsabilidade do seu autor..