Saindo para devolver o Fiat Fastback depois de 30 dias de convívio, um vizinho me captura na porta de casa e pergunta, à queima roupa, se estou gostando do carro. Ele sabe que veículos, de duas ou quatro rodas, fazem parte da minha vida profissional há décadas. Respondo que sim. Na sequência, vem outra pergunta: “Por quê?” Cheio de pressa, peço desculpas, digo estar atrasado, e afirmo: “Por que é muito econômico!”
Escapo refletindo sobre a resposta dada, tentando lembrar que carro tem este vizinho. Uma picape Nissan, talvez? Não demorei duas esquinas para me convencer que o que respondi, mais que para cortar o papo, é a mais pura verdade. Como vocês puderam ver nas semanas que antecederam este final de teste, o Fastback alcançou marcas expressivas de consumo médio, se confirmando um veículo de pouca sede seja qual for o combustível, álcool ou a nossa gasolina batizada.

Ponto, portanto, para o sistema adotado pela Fiat, no qual um moderno aparato elétrico cumpre expediente triplo: providencia a partida do motor convencional, alimenta as baterias de chumbo-ácido e de íons de lítio e, de quebra — aí está um grande mérito — oferece impulso em situações críticas, auxiliando o motor tricilíndro turbo de 999 cm³, a vencer a inércia e tracionar a massa do Fastback adiante, 1.234 kg (Audace).

Salvo engano, uma consulta aos arquivos do Teste de 30 Dias feitos aqui para o AE mostra que o Fiat Fastback Hybrid alcançou a quarta melhor média de consumo dentre os 36 carros testados no arco de quase dez anos, excelentes 11,6 km/l, perdendo apenas para dois híbridos “puros”, o Toyota Prius (16,3 km/l), seu irmão Corolla Altis (12,3 km/l), e o pequeno Peugeot 208 1,2 Puretech, (11,7 km/l). Premissa IMPORTANTE para analisar tais cifras é lembrar que os dados, para terem efetivo valor na comparação, deveriam considerar o percentual de uso em rodovia/estrada e o do combustível, álcool/gasolina. Encurto a história lembrando que o recordista Prius só bebeu gasolina, que o Corolla quase que só rodou na cidade, e que o 208 andou em rodovia na maior parte do tempo. Aliás, como o Fastback.

Todavia, mesmo com a imprecisão decorrentes de tantas variáveis, resta o fato de que o teste de 30 Dias do AE tem um padrão de uso com elementos fixos: o motorista (sempre eu), e o tipo de trajetos (os meus). Sinto frustrar os que gostariam de um maior rigor científico nos dados sobre consumo, coisa possível somente em laboratório. Qualquer tipo de medição — computador de bordo, marcador de litros na bomba x hodômetro, bureta — oferece uma indicação aproximada, serve de referência e jamais pode ser tomada como um número absoluto sobre o qual não paire dúvida. Aos mais ansiosos, recomendo a leitura da Teoria do Erros, interessante capítulo da física aplicada que, resumidamente, diz que toda a medição está sujeita a erro e incertezas. Poderia ter outro título a teoria: “Conforme-se”.
Portanto, caros leitores (e vizinho…), apesar da certeza da incerteza, dá para lacrar que o Fiat Fastback foi um dos veículos mais econômicos a passarem pelo crivo do Teste de 30 Dias, com um custo por quilômetro rodado bem abordável. Tal declaração ganha fôlego ao lembrar o quanto ele é grande, espaçoso para passageiros e suas bagagens. Certamente uma ótima escolha para famílias que precisam de um carro para viagens, mas também um vetor esperto no uso urbano, cenário no qual itens como o bem-acertado câmbio CVT e a pronta resposta do motor em uso para e anda se alia ao conforto de marcha oferecido pelas suspensões bem acertadas, a boa altura em relação ao solo e a mais do que razoável cabine, onde a grande tela multimídia é muito útil especialmente na hora de estacionar (a câmera de ré é uma das melhores, senão a melhor, dentre todos os carros testados no 30 Dias).

Tem pecados o Fastback? Sim, todos têm. Um carro sempre pode — e deve — melhorar. Especialmente um como este, praticamente de 1ª geração. Caprichar no isolamento acústico para tornar a cabine mais “quieta”, isolando ruídos e vibrações do motor, reduzir a quantidade de diferentes tipos de texturas nos acabamentos internos, dotar os faróis de regulagem em altura e, se não fosse pedir muito, introduzir a regulagem do volante em distância. Convenhamos, é pouco.
Conforme prometido na semana passada, neste texto de encerramento trazemos o veredicto do “tira-teima” sobre o consumo no trecho Sâo Paulo-Sorocaba-São Paulo viagem da primeira semana de teste, estreia do Fastback comigo, na qual a marca (supostamente com álcool no tanque) foi de excelentes 17,1 km/l. Repetimos o trecho agora, com a certeza de haver 100% de gasolina no tanque (com 28% de álcool…), e alcancei 18,5 km/l.
O que concluir? Que a diferença de consumo entre álcool e gasolina é, usualmente, de cerca 25-30%; o que obtivemos está abaixo de 10%. Isto indica que ou o carro nos foi entregue com um álcool “batizado” de gasolina ou o tricilindro da Fiat consegue ser proporcionalmente mais efetivo com o combustível vegetal do que com o fóssil. Mas… esqueçam esta última hipótese, totalmente desprovida de realidade prática pela própria natureza energética destes diferentes combustíveis.

O discurso teórico agora deve ceder ao aspecto prático, a comprovação da teoria na prática, alma do Teste de 30 Dias. Portanto, quem usar um Fiat Fastback terá o prazer de dirigir um carro moderno, em boa medida mecanicamente descomplicado, com uma rede de concessionárias pulverizada por todo o Brasil, espaçoso, estável e com desempenho honesto. Ah! Alguns dizem que ele é belíssimo. Outros que ele é estranho. Que seria do azul se todos gostassem do amarelo?
RA
Fiat Fastback Turo 200 Hybrid
Dias: 30
Quilometragem total: 1.246 km
Distância na cidade: 423 km (33,9%)
Distância na estrada: 823 km (66,1%)
Consumo médio: 11,6 km/l (30% álcool – 70% gasolina)
Melhor média (álcool): 17,1 km/l
Melhor média (gasolina): 18,5 km/l
Pior média (etanol): 6,7 km/l
Pior média (gasolina): 7,4 km/l
Média horária: 35,0 km/h
Tempo ao volante: 35h44 minutos
Litros consumidos: 107,23
Preço médio litro: R$ 5,41
Custo: R$ 580,22
Custo do quilômetro rodado: R$ 0,46
Leia os relatórios anteriores 1ª semana 2ª semana 3ª semana
FICHA TÉCNICA PULSE E FASTBACK T200 HYBRID AUDACE E IMPETUS 2025 | |
MOTOR A COMBUSTÃO | GSE T200 |
Descrição | L-3, dianteiro transversal, bloco e cabeçote de alumínio, monocomando com variador de fase, corrente, controle de abertura das válvulas de admissão MultiAir III, 4 válvulas por cilindro, turbocarregador BorgWarner com interresfriador e válvula de alívio elétrica, injeção direta, flex |
Cilindrada (cm³) | 999 |
Diâmetro x curso (mm) | 70 x 86,5 |
Potência máxima (cv/rpm, G/A) | 125 /130 / 5.750 |
Torque máximo (m·kgf/rpm, G e A) | 20,4/1.750 |
Corte de rotação (rpm) | 6.500 |
Taxa de compressão (:1) | 10,5 |
Comprimento da biela (mm) | 149,3 |
Relação r/l | 0,289 |
Densidade de potência (cv/L, G/A) | 125 / 130 |
Densidade de torque (mkgf/L, G e A) | 20,4 / 20,4 |
MOTOR ELÉTRICO | |
Tipo | Alternador quando em função de motor |
Potência (cv) | 4 |
Alimentação | Bateria de íons de lítio |
Capacidade da bateria (kW·h) | 0,13 |
Tensão da bateria (V) | 12 |
TRANSMISSÃO | |
Câmbio | Automático CVT, conversor de torque, 7 marchas à frente e ré, tração dianteira |
Relações das marchas em manual (:1) | 1ª 2,27; 2ª 1,60; 3ª 1,20; 4ª 0,94; 5ª 074; 6ª 0,58; 7ª 0,46; ré 2,60 a 0.42 |
Relações das marchas em automático (:1) | De 2,60 a 0,42 |
Relação de diferencial (:1) | 5,698 |
Estol do conversor de torque (rpm) | n.d. |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, braço triangular, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal e amortecedor pressurizado |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, eletroassistida indexada à velocidade |
Relações de direção (:1) | n.d. |
Número de voltas entre batentes | 3 |
Diâmetro do volante (mm) | 370 |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 10,5 |
FREIOS | |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado / 284, pinça flutuante |
Traseiros (Ø mm) | Tambor / 203 |
Atuação | Hidráulica, ABS. duplo-circuito em diagonal |
RODAS E PNEUS | |
Rodas, Pulse | Liga de alumínio, 6Jx16 (Audace), 6Jx17 (Impetus) |
Rodas, Fastback | Liga de alumínio, 7Jx17 (Audace), 6Jx18 (Impetus) |
Pneus, Pulse | 205/50 R18H, Pirelli (Audace),195/60 R16H Goodyear/Pirelli (Impetus) |
Pneus, Fastback | 205/50 R17H Pirelli (Audace), 215/45 R18H Continental (Impetus) |
CONSTRUÇÃO | Monobloco de aço, suve, 4 portas, 5 lugares, subchassi dianteiro |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente aerodinâmico (Cx) | n.d. |
Área frontal (calculada, m²) | n.d. |
Área frontal corrigida (m²) | n.d. |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 4099 (Pulse), 4.427 (Fastback) |
Largura aem/comee espelhos | 1.776 / 1.989 (Pulse), 1.774 / 1.989 (Fastback) |
Altura | Pulse 1.553 (Audace), 1.552 (Impetus) // Fastback 1.547 (Audace), 1.548 (Impetus) |
Distância entre eixos | 2.532 (Pulse). 2.532 (Fastback) |
Bitola dianteira/traseira | n.d. |
Vão livre entre os eixos | Pulse, 213 (Audace, 212 (Impetus // Fastback 217 ambos |
Distância mínima do solo | Pulse 195 ambos // Fastback ambos |
ÂNGULOS | |
Entrada (º) | Pulse 20,5 (Audace), 20.6 (Impetus) // Fastback 20,3 ambos |
Saída (º) | Pulse 31,4 (Audace), 31,3 (Impetus // Fastback 24,2 ambos |
Transposição de rampa (º) | n.d. |
PESOS (kg) | |
Em ordem de marcha | 1.234 (Audace), 1.245 (Impetus) |
Carga útil | 400 (todos) |
Máximo rebocável sem/com freio | n.d. |
CAPACIDADES (L) | |
Tanque de combustível | 45 |
Porta-malas | 516 (Fastback), 370 (Pulse) |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO PBEV | |
Cidade (km/l, G/A) | Pulse 13,4 / 9,3. Fastback 12,6 /8,9 |
Estrada (km/l, G/A) | Pulse 14,4 / 10,2, Fastback 13,9 / 9,8 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s, G/A) | Pulse e Fastback 9,7 / 9.4 |
Velocidade máxima (km/h, G/A)) | Pulse 187 / 189. Fastback 194 / 196 |