Eu já havia mencionado brevemente Jim Farley aqui na minha coluna. Tenho acompanhado suas publicações no LinkedIn, onde ele se destaca pela comunicação ativa. Gosto muito do seu estilo de gestão, da clareza em suas mensagens, da transparência e da autenticidade. Além disso, é um grande autoentusiasta.
Recentemente, ele compartilhou no LinkedIn um podcast em que relata sua trajetória de vida. Quem quiser ouvi-lo diretamente em inglês, aqui está o link: https://podcast.ausha.co/impossible-possible-english-version/ford-motor-company
Abaixo, está a versão traduzida e em texto.
Como se tornar CEO da Ford Motor Company? Paixão, assumir riscos, liderança. Descubra a empolgante jornada de Jim Farley.
Meu avô, Emmett Tracy, foi o 389º funcionário da Ford. Ele era órfão em Dearborn e conseguiu um emprego, mentiu sobre a idade — acho que tinha 14 anos. E conseguiu um trabalho com o Sr. Ford na fábrica. Foi no mesmo ano em que o Sr. Ford mudou a produção de um processo artesanal para a linha de montagem. Então, meu avô trabalhou para a empresa a vida toda como funcionário horista. Depois, começou seu próprio negócio quando estava nos seus 50 anos. E o emprego na Ford permitiu que minha mãe fosse para a faculdade, a primeira da nossa família.
Meu apelido quando eu tinha três ou quatro anos era Jimmy Car Car. Eu sempre tinha um carro de brinquedo na mão. E quando pude, arrumei um emprego. Com o dinheiro do trabalho, comprava revistas de carros. E ia aos postos de gasolina e outros lugares para aprender sobre mecânica com os mecânicos, observá-los trabalhar, talvez ajudá-los com ferramentas. Depois nos mudamos para Connecticut, e o distribuidor da Ferrari nos EUA ficava na minha cidade. Então, sempre que podia, eu ia de bicicleta até a concessionária da Ferrari para aprender com os mecânicos, que eram italianos, sobre este ou aquele Ferrari. E fui me educando mais sobre Ferrari, automobilismo, mecânica. E isso me interessava—não sei por que, não tenho explicação.
Meu amor por carros era puro. E eu não queria trabalhar para um fabricante porque isso era comercial e poderia arruinar meu amor por carros. Talvez eu tivesse que trabalhar em um carro pelo qual eu não me importasse. Talvez eu perdesse o encanto pelos carros. Então eu queria manter isso puro, como um hobby ou uma paixão. Meu trabalho era trabalho, e os carros eram uma forma de prazer.
Comecei a comprar e vender carros. Chamamos isso de flipping. Eu fazia flipping de carros — comprava, consertava, vendia com lucro. Comprava, consertava, vendia. Fiz isso desde os 15 anos, antes mesmo de poder dirigir. Quando fiz 16, atravessei o país dirigindo sem seguro, com um carro que comprei por 500 dólares na Califórnia, de volta para Michigan, contra a vontade dos meus pais. Eles não sabiam.

Então, sim, acho que tudo de importante na minha vida eu defino pelo carro que eu tinha ou pelo que estava dirigindo. E não eram carros sofisticados. Eram carros simples.
Quando decidi, depois da pós-graduação, entrar para a indústria automobilística — contra minha lógica — ouvi uma palestra de alguém na escola que disse: “Você deve correr um risco. Não faça o que todo mundo faz.” Meu pai era banqueiro, e eu trabalhei em um banco durante a pós-graduação, no verão entre os dois anos. E odiei. E isso foi o mais importante. Lembro de estar em uma reunião com um cliente. Depois de um verão inteiro trabalhando, finalmente me deixaram participar de uma reunião no banco. E eu realmente gostava das pessoas. Elas eram muito inteligentes e amavam o que faziam. Mas eu não. E adormeci na reunião. Os banqueiros ficaram muito bravos comigo. Disseram: “O que você quer?” E foi então que percebi — deveria seguir minha paixão.
Então, como americano, me inscrevi na GM, Ford e Chrysler. E também me inscrevi na Toyota. A Toyota nos EUA era muito pequena. Recebi ofertas de emprego de todas elas, mas decidi ir para a Toyota. Porque me lembrei daquele cara dizendo: “Corra um risco.” Fiz minha pesquisa e sabia que a Toyota era um ótimo fabricante, mesmo sendo pequeno.
Meu avô foi um dos primeiros funcionários da Ford. Então, quando liguei para ele, estava muito nervoso. Ele disse: “Ouvi dizer que você recebeu uma oferta da Ford.” Eu disse: “Sim, também da Toyota. E vou aceitar a da Toyota.” E ele disse, mais ou menos assim: “Fico feliz por você, mas não é mais bem-vindo na minha casa.”
Meus pais em Michigan ficaram muito envergonhados com minha escolha. Meu pai foi oficial da Marinha na Segunda Guerra Mundial. Ele ficou muito chateado por eu ir trabalhar para uma empresa japonesa. Porque ele era americano e perdeu amigos na guerra. E tinha essa visão sobre os japoneses. Eu não tinha essas ideias.
Então, talvez eu fosse um rebelde, indo contra a vontade da família. E essa foi a decisão mais importante da minha vida profissional.
Depois tive a oportunidade de ser o número dois na Toyota na Europa, e nos mudamos para Bruxelas. Gostei muito de morar na Europa. Viajava para o Japão o tempo todo. Estava sempre trabalhando em novos carros. Era muito feliz. Morava na Califórnia. Podia andar de mountain bike, dirigir meus carros, trabalhar neles todo fim de semana. Era perfeito.
E então… algo aconteceu na minha vida pessoal, que não vou entrar em detalhes, e decidi mudar. Quinze anos atrás, durante a Grande Recessão — um pouco antes — decidi sair. Depois de 25 anos na Toyota, percebi que nunca saberia quão bom eu era sendo estrangeiro na Toyota. E queria testar minha verdadeira capacidade. Pensei: “Posso ir para a Ford? Posso ajudá-los? A economia está muito ruim. Talvez eu possa ajudar.”
Então mudamos nossa vida da Califórnia para Michigan, o que era bem fora do convencional. E, mais uma vez—talvez a verdade da minha vida — acabei voltando para Michigan, sem conhecer ninguém, mas sentindo uma conexão com a empresa através do meu avô. E pelo propósito do meu trabalho como americano.
Aconteceu que evitamos a falência — fomos a única empresa a conseguir isso. Mas foram dias muito difíceis. Sou o único remanescente daquele time que, trabalhando junto, salvou a empresa da falência. Sou o único que restou da equipe de liderança.
Muitos amigos da faculdade, que me conhecem há anos, dizem: “Você teve sucesso porque ama carros.”Isso é falso.
Quando você chega a um cargo sênior em uma empresa, não se trata mais de carros. Claro, trata-se de carros. Mas os carros me ajudam a passar pelos dias difíceis.
E sem esse amor pelo que faço, acho que não teria sido bem-sucedido. É porque acho isso muito motivador.
Por outro lado, essa paixão me permitiu lidar com demissões, reestruturações — com empatia e compaixão. E sem essa paixão, acho que não teria sido bem-sucedido.
Mas nem todo mundo tem essa sorte. Nem todo mundo nasce para ser Jimmy Car Car.
Às vezes, isso acontece tarde na vida. Às vezes, nunca acontece. Às vezes, você encontra, mas não consegue ganhar a vida com isso. Ou você encontra, e isso prejudica outras pessoas.
Então você tem uma escolha difícil a fazer. Sigo minha paixão e machuco as pessoas ao meu redor?
É difícil.
Acho que não sou ingênuo sobre seguir uma paixão. Mas se você tem essa sorte — como meus filhos, se encontrarem algo, não importa o que seja — se realmente amarem mais do que qualquer coisa, e acharem que podem fazer a diferença — vá em frente, cara!
Achei a história motivadora! Não?
Dá para entender muito bem por que o Mustang continua vivo.
E agora um minicurrículo que está no site corportativo da Ford.
Jim Farley
CEO da Ford, entusiasta do Mustang e do automobilismo, marido e pai de três adolescentes.
Trajetória Profissional
- Jim assumiu o cargo de CEO da Ford em outubro de 2020, com a missão de transformar a empresa, unindo veículos excepcionais, marcas icônicas e inovação em software e serviços.
- Foi o principal arquiteto do ambicioso plano Ford+, lançado em 2021, que impulsiona um crescimento mais acelerado, maior rentabilidade e eficiência de capital, tornando a empresa mais resiliente e centrada no cliente.
- Antes de se tornar CEO, Farley atuou como COO da Ford e ocupou cargos estratégicos, incluindo presidente de Novos Negócios, Tecnologia e Estratégia, além de liderar os Mercados Globais.
- Antes de ingressar na Ford em 2007, ocupou cargos de liderança na Toyota, onde foi vice-presidente do grupo e gerente-geral das divisões Lexus e Toyota. Teve papel fundamental no lançamento bem-sucedido da marca Scion.
- Leia sua biografia completa aqui.
Conquistas Recentes
- Liderou a reestruturação da Ford em três divisões estratégicas, trazendo mais agilidade, foco e responsabilidade à empresa:
- Ford Blue: veículos híbridos e a combustão icônicos.
- Ford Model e: inovação em veículos elétricos.
- Ford Pro: soluções comerciais completas, incluindo veículos, software e serviços.
- Sob sua liderança, a Ford lançou modelos inovadores, incluindo sua primeira geração de veículos elétricos:
- Mustang Mach-E, F-150 Lightning e E-Transit.
- Expansão da linha Bronco, lançamento da Maverick e do Mustang GTD.
- Alcançou um crescimento sólido e equilibrado em todas as categorias de motorização. Nos EUA, a Ford ocupa as seguintes posições:
- Marca número 1 em veículos a combustão.
- Número 2 em elétricos.
- Número 3 em híbridos.
- Dobrou os lucros da Ford Pro em 2023 e consolidou a Ford como líder global em picapes, com os modelos F-150, Ranger e Maverick.
- Criou a Ford Integrated Services, desenvolvendo e oferecendo serviços digitais de alto valor.
- Liderou uma reestruturação bilionária nas operações internacionais da Ford, tornando-as lucrativas após anos de prejuízo.
Curiosidades
- Jim é um apaixonado por automóveis. Sua coleção inclui aos carros: Bronco 1973, Lincoln 1937, Ford GT40 1965. Cobra 427 1966 e Lola 298 1978
- Como colecionador e piloto, passa boa parte do tempo sob o capô dos carros, muitas vezes ao lado de suas filhas, ou competindo nos fins de semana.
- Possui licença de piloto em diversas federações automobilísticas, incluindo ACCUS-FIA, SCCA, SVRA, HSR, IMSA e AMA.
- Em 2022, lançou o podcast DRIVE, que explora a relação emocional das pessoas com os automóveis. Já entrevistou personalidades como Bill Ford, Sydney Sweeney e Matthew McConaughey.
- É voluntário ativo e apoiador do Pope Francis Center, em Detroit. Seu avô o levou para a primeira experiência como voluntário aos 16 anos, e hoje ele leva seus próprios filhos.
- Presidiu a campanha de arrecadação para o Bridge Housing Campus, levantando milhões de dólares para combater a crise de moradia em Detroit com soluções estruturais e de longo prazo.
Destaques na Mídia
- “O que assustou o CEO da Ford na China” – The Wall Street Journal
- “Jim Farley, CEO da Ford, ama os elétricos. Isso faz toda a diferença” – Barron’s
- “Ford oferecerá carregadores gratuitos para compradores de EVs” – Axios
- “A Europa perdeu o encanto pela Ford – este homem pode trazê-lo de volta?” – Car Magazine
- “Viagem pela Europa: Jim Farley na estrada com o E-Transit” – Design News



PM