Acho que os motores monocilindros sofrem algum tipo de preconceito. Os V-8 são idolatrados, assim como alguns seis-em-linha tradicionais, mesmo se for em uma motocicleta. Para estas, nada menos do que um belo e sonoro quatro-em-linha seria suficiente para alegrar alguns corações. Tem também a turma do três cilindros e, um pouco menos entusiasmados, a dos bicilindros. Ah!, este tem que ser em “V” e Boxer! E os mono?
Tenho história com os monocilindros (mas também, quem não tem?). Quando eu tinha uns sete anos de idade, meu pai corria de Ducati Mark 3, que tinha um monocilindro de 250 cm3, e eu estava sempre atrás, às vezes literalmente. Se não era nas pistas, vendo-o correr, era na sua garupa, quando ele ia treinar na Cidade Universitária (não se surpreendam, era no século passado). Para mim, aquela Ducati era o que existia de melhor. E era mono!
Lá pelos anos 70, a Ducati dotou suas melhores motocicletas de um motor em “V”, que, com ângulo dos cilindros de 90o, passou a ser chamado de “L”. A marca italiana colocou toda a sua sapiência nesses motores, de forma que eles atingiram quase a perfeição. E os monocilindros foram ficando esquecidos, pelo menos em motocicletas de grande desempenho. Já foram grandiosos, lembram da Norton Manx de 500 cm³?
Com uma trajetória de sucesso nos modelos de menor cilindrada, não vimos mais os “big single”, aqueles motores com um único e enorme cilindro. Sempre imaginei o interior desses motores, com aquele “panelão” subindo e descendo compassadamente. Afinal, big singles foram feitos para baixas rotações, certo? Errado!
Olhem só a novíssima motocicleta da Ducati. A Hipermotard 698 Mono RVE tem quase tudo o que precisamos saber no próprio nome. Motard, para máxima diversão em pistas travadas de asfalto com uma configuração de moto de trilha; Hyper, porque ela tem tudo do melhor; 698, que diz que sua cilindrada é quase 700 cm3 (ok, está longe disso, é de apenas 659 cm3, mas ainda assim é uma big single); e Mono, porque tem apenas um cilindro.
Depois do choque, o de ver a Ducati voltar ao monocilindro, a verificação dos números desse motor é de impressionar. O cilindro tem nada menos do que 116 mm de diâmetro, uma “panela” extrafina na altura, com curso do pistão de apenas 62,4 mm, quase a metade do diâmetro, o que o classifica de superquadrado.
Esse motor é chamado de Superquadro Mono, mas deveria ser chamado de supersuperquadrado, pois esse termo indica que o diâmetro do cilindro é qualquer coisa maior que o curso do pistão, mas neste caso a relação é de quase o dobro (para ser exato, é de 1,86:1). Caso contrário, quando o curso é maior que o diâmetro, o motor é chamado de subquadrado.

Um motor quadrado, quando diâmetro dos cilindros e curso dos pistões são iguais ou quase iguais, já favorece a potência e a alta rotação, Imagine, então, um motor supersuperquadrado!
O motor Superquadro Mono da Ducati Hypermotard 698 Mono tem potência máxima de 77,5 cv a 9.750 rpm, mas pode virar a até 10.250 rpm, e seu torque é de 6,4 m·kgf a 8.000 rpm.
Esse motor é uma joinha, tem cilindro de alumínio de camisa úmida, encaixada no bloco, onde é fixado o cabeçote, quatro válvulas, sendo as de admissão de titânio, e dois comandos desmodrômicos, que puxam as válvulas de volta ao fechamento, função que em motores comuns é feito pelas molas de válvulas, sujeitas à flutuação em altas rotações.

A motocicleta também é uma joinha, com câmbio de seis marchas com quick shift, quadro tubular de aço de seção chata, subquadro de treliça, suspensão dianteira Marzocchi de 45 mm, com curso da roda de 215 mm, suspensão traseira Sachs com curso da roda de 240 mm e freios Brembo.
Na parte elétrica/eletrônica, a Ducati Hypermotard 698 Mono RVE parte de uma bateria de íons de lítio, quatro modos de pilotagem selecionados pelo piloto, quatro níveis de atuação do ABS, também selecionados pelo piloto, e quatro níveis de controle de wheeling, sendo que um deles só pode ser acionado com o uso do escapamento esportivo Termignoni, um acessório homologado pela Ducati que aumenta a potência em 7 cv.
Apenas 100 unidades da Ducati Hypermotard 698 Mono RVE serão vendidas no Brasil, ao preço de R$ 94.990.
GM