Um Mitsubishi que nunca chegou ao Brasil foi o Starion. Nome controverso, uns dizem que se trata de um japonês falando stallion (garanhão), outros que não passa da contração de “Star of Arion” estrela de Arion, que se refere a uma estrela e ao cavalo da mitologia grega, Arion, a montaria de Hércules.
Na verdade pouco importa o nome, mas o carro interessa verdadeiramente por alguns motivos.
Começa, para mim, pelo estilo muito, mas muito bom. Proporções corretas, detalhes interessantes como o vidro traseiro em partes laterais ligados com a posterior, concordâncias de elementos e principalmente o ângulo da dianteira totalmente particular e inovador. Além do visual, tinha versão com turbocarregador de série, alargadores de para-lamas muito bem desenhados, e alta tecnologia para o começo dos anos 1980, quando surgiu.
Outra coisa que o torna importante é o fato de ser pouquíssimo popular, sendo por isso mesmo, raro. A partir de 1984 passou a ter versão Chrysler, batizado Conquest, devido a uma associação entre as duas empresas que durou alguns anos e gerou carros bastante interessantes sendo comercializados nos Estados Unidos.
Teve também os emblemas Dodge e Plymouth, todos com nome Conquest, na típica situação confusa de marcas que a Chrysler — hoje Stellantis — sempre teve com seus modelos, notadamente nas últimas décadas, onde trocas de “dono” eram frequentes.

A configuração básica mostra motor dianteiro longitudinal, com tração traseira. Diferencial de deslizamento limitado e freios com ABS apenas nas rodas traseiras, eram aplicados.
O que pode ser chamado de chassis em um carro monobloco, suspensões, direção, freios, eram pré-existentes, usados no Mitsubishi Sapporo e no Galant Lambda, carros exclusivos do mercado japonês — o popular JDM. Japanese Domestic Market — mas melhorados em vários detalhes para o Starion.
Dependendo do país, o motor era diferente, No EUA, o SOHC (comando de válvulas único no cabeçote) Astron G54B de 2,6 litros. A Europa tinha o SOHC 2 litros Sirius G63B, depois com duplo comando de válvulas no cabeçote (DOHC), que foi usado também posteriormente no Lancer Evolution. Apesar das potência serem similares, o 2-litros era mais girador, enquanto que o 2,6 tinha mais potência em menores rotações.
Nos EUA, o melhor dos motores aplicados foi o 2,6 litros, quatro cilindros com 0,5 de sobrepressão relativa, podendo chegar a 0,7 bar.
Câmbio manual de cinco marchas era básico, com tração traseira. Havia a bendita opção de automático de quatro marchas, sempre necessário nos EUA e Canadá.
Já no país de origem usava o motor 4G63B, mesmo que depois veio a ser utilizado no Eclipse . Teve várias versões, desde um de apenas 104 cv até um dotado de turbocarregador e com interresfriador ar-ar de 145 cv, depois com 173 cv, com o ano de 1987 trazendo o 2,6-litros de 200 cv.
Depois de 1987 o 2-litros deixou de ser oferecido, já que as emissões de poluentes ficaram mais restritas e a fábrica escolheu o motor que deveria apresentar melhores resultados e, consequente, redução de custos de desenvolvimento, já que apenas um motor seria trabalhado — e o motor passou a ter injeção eletrônica de gasolina mais avançada. Menor desempenho foi consequência de menos poluentes, e o carro perdeu força de mercado.
Os modelos mais leves pesavam 1.260 kg, e o mais completo, com os para-lamas alargados, 1.340 kg, este acelerando de 0 a 100 km/h em pouco mais de 7,5 segundos.
Interessantemente, apenas para o mercado japonês houve de 1984 a 1987 o motor 2 litros com comando de válvulas único mas de três válvulas por cilindro, duas de admissão e uma de escapamento, chamado DASH (Dual Action Super Head). A segunda válvula de admissão operava acima de uma certa rotação, e tinha também interresfriador ar-ar. A faixa vermelha do conta-giros ia a 7 mil rpm. Gerava 200 cv.
Para quem estava no Japão e queria um carro desse tipo mas com preço contido, a versão GX era sem turbo, sem vidros elétricos, nem ar-condicionado, sem injeção de combustível e sem suspensão traseira independente e nem mesmo direção assistida hidráulica. Básico mesmo.
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No uso geral, o Starion não podia acomodar adultos atrás. Bancos dianteiros tinham ajuste de altura e de ângulo do assento, apoio lombar regulável e suporte para as coxas. Muitas possibilidades de conforto para diferentes usuários, algo excelente.
A partir de 1989 começou a ser oferecido o pacote de opcionais mais esportivo, Sports Handling Package, código SH para Mitsubishi e AGA para os vendidos como Chrysler, com amortecedores ajustáveis nas quatro rodas, rodas uma polegada mais largas (de 7×16 para 8×16 na frente e de 8×16 para 9×16 atrás), com pneus mais largos também (225/50 R16 e 245/45 R16, respectivamente).
A carroceria apresenta coeficiente de arrasto 0,32, melhor que dos principais concorrentes, o Mazda RX-7 e o Nissan 300ZX.
Indo para além do trabalho para os carros de rua, a Mitsubishi começou a desenvolver um carro para o Grupo B do Campeonato Mundial de Rali, mas com o fim desse ficou apenas em protótipo, que utilizava uma das diversas caixas de transferência da família Pajero, e que tinha distribuição de peso melhor do que um Audi quattro, que tem o motor localizado à frente do eixo dianteiro. Os faróis escamoteáveis foram removidos sobrando espaço e podendo encurtar o carro em 152 mm, além de menos peso. O cardã foi feito em compósito de fibra de carbono, usado também o protetor de cárter, capô, tampa de porta-malas, painel externo das portas, cobertura de para-choques e defletores, para peso final a seco de menos de 1.000 kg, absolutamente excelente.
O motor de dois litros tinha turbocarregador e interresfriador ar-ar alterado para entregar 355 cv, utilizando o Sistema DASH a partir de 2.500 rpm.
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Se o grupo B foi cancelado pela FIA e determinou o fim do desenvolvimento, já o Grupo A tinha seu Campeonato Ásia-Pacífico, e o Starion foi vencedor em 1987 e no ano seguinte.
Também nos Campeonatos Mundial de Rali , japonês e britânico de Grupo A houve participações do Starion, com varias vitorias, bem como em provas de circuito, como a americana SCCA (Sports Car Club of America), quando o Starion foi campeão em 1990.
Na sua produção de 1982 a 1989, foram contados pouco menos de 50 mil carros no total, fazendo dele uma real raridade depois de três décadas. Sem dúvida um clássico do futuro.
JJ