Sabemos que o autoentusiasmo está diretamente relacionado ao prazer de dirigir. Isso é óbvio! Também sabemos que esse prazer, como o conhecemos e gostamos, está em risco. Começou com o avanço dos câmbios automáticos, passando por intervenções eletrônicas nos freios e dinâmica dos veículos, e adoção de sistemas avançados de auxílio ao motorista (Adas. a sigla em inglês) e, recentemente, pelo silêncio dos elétricos e direção semiautônoma. Ou seja: o entusiasmo se foi.
Então, é melhor cuidarmos muito bem de nossos carros para que eles durem para sempre. Pois, cada vez mais, esse prazer de dirigir será substituído por segurança, eficiência e comodidade. E a nossa espécie tende à extinção.
Talvez eu esteja sendo dramático. E, se isso acontecer, vai demorar bastante. Ainda mais em países em (eterno) desenvolvimento como o nosso.
Bem, fiz essa introdução para que não pensem que esta matéria se trata de uma apologia aos carros autônomos. Mas, como me deparei com um artigo bem escrito, sucinto e de fácil entendimento, preparado pela empresa de consultoria McKinsey, achei interessante compartilhar aqui para o conhecimento de nossos leitores.
Há informações bem básicas, mas também mostra um bom panorama do estágio em que a tecnologia está. Isso, na certeza de que, no mínimo, gerará alguma conversa.
O artigo em questão foi publicado no dia 5 de março último e pode ser lido em inglês neste link: What is a self-driving car?
Abaixo está a tradução integral do artigo. Boa leitura.
O que é um carro autônomo?
Um carro autônomo, ou veículo autônomo, é um tipo de veículo capaz de operar com pouca ou nenhuma intervenção humana.
Os carros autônomos, ou veículos autônomos (AV), têm circulado nas nossas imaginações populares por décadas. Nos últimos anos, filmes e programas de TV como WALL-E e Silicon Valley zombaram das primeiras versões dos carros autônomos — e ainda mais atrás, na série dos anos 1980 Knight Rider, um retro AVA era o irreverente companheiro de David Hasselhoff.
Mas os carros autônomos não são mais coisas de ficção científica. A empresa de software Waymo (uma empresa da Alphabet) atualmente oferece serviços de transporte por meio de seus AVs em Los Angeles, Phoenix, Austin e San Francisco. Na China, os táxis autônomos e ônibus já são ainda mais normalizados. Apollo Go, uma unidade da empresa chinesa de tecnologia Baidu, possui mais de 400 robotáxis nas ruas de Wuhan. Outras empresas estão lançando testes públicos em várias cidades da China e dos Estados Unidos, assim como em Oslo, várias cidades alemãs, os Emirados Árabes Unidos e Singapura.
No seu nível mais básico, um veículo autônomo é aquele que utiliza software, hardware e serviços avançados para operar de forma independente, com mínima intervenção humana. Os veículos autônomos têm o potencial de fornecer opções de transporte mais acessíveis e cômodos para passageiros, frete e mobilidade urbana. Porém, desafios permanecem, incluindo aqueles relacionados à segurança, viabilidade econômica e regulamentação.
O que é um AV de Nível 4?
Com o advento dos carros autônomos, todos os veículos agora estão classificados em uma escala de cinco níveis: Aqui estão os níveis:
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Nível 0 (N0) – não têm automação e um motorista humano realiza todas as tarefas.
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Nível 1 (N1) – têm capacidades de assistência ao motorista, incluindo alguns recursos automatizados, como controle de cruzeiro. Um motorista ainda tem monitorar e controlar o veículo.
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Nível 2 (N2) – têm automação parcial. O veículo pode ajudar em tarefas como frear, acelerar e dirigir. Um motorista ainda deve monitorar o ambiente e estar pronto para assumir o controle do veículo.
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Nível 3 (N3) – têm automação condicional, o que significa que o veículo pode operar de forma independente sob certas condições (nos engarrafamentos, por exemplo), mas pode pedir para um motorista assumir o controle, se necessário. Esses carros representam o nível mais alto de automação amplamente disponível hoje.
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Nível 4 (N4) – têm alta automação. Esses veículos, incluindo táxis sem motorista, podem operar sem a necessidade de um motorista pronto para assumir o controle. Os AVs de N4 estão sendo testados e implantados em ambientes específicos.
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Nível 5 (N5) – são totalmente automatizados. Esses veículos podem operar em qualquer ambiente e sob todas as condições sem um motorista humano. Eles são a última fronteira no desenvolvimento de veículos autônomos.
Onde no mundo a condução autônoma está ganhando popularidade?
Motoristas de aplicativos já podem pedir um robotáxi nas cidades americanas de San Francisco, Los Angeles e Phoenix. Na China, os robotáxis e roboônibus estão disponíveis em várias cidades, incluindo Pequim, Xangai, Shenzhen e Wuhan. Os testes também estão em andamento em muitas cidades europeias, incluindo Hamburgo, Munique e Oslo.
Apesar desses mercados, a perspectiva para veículos autônomos é variável. Respondentes a uma pesquisa de 2023 com líderes da indústria de condução autônoma, realizada pelo McKinsey Center for Future Mobility, preveem que três ou menos empresas dominarão o mercado global de AVs. Em um nível mais detalhado, o cenário é diferente. Apenas 15% dos entrevistados esperam que o mercado americano seja dominado por uma ou duas empresas. Em contraste, 38% dos entrevistados preveem que o mercado de veículos autônomos da Europa será dominado por duas ou menos empresas.
Quando os carros autônomos estarão disponíveis?
As respostas da pesquisa também indicam atrasos esperados no cronograma de adoção: de dois a três anos em todos os níveis de autonomia. Os entrevistados agora preveem que os robotáxis de Nível 4 estarão disponíveis comercialmente em larga escala até 2030, enquanto os caminhões totalmente autônomos devem atingir viabilidade entre 2028 e 2031. Em termos de implantação, os entrevistados estavam divididos sobre se a China ou os Estados Unidos seria a primeira a implantar pilotos de Nível 4 nas rodovias, o que indica que a China está avançando com os carros autônomos, provavelmente impulsionada por seus crescentes investimentos em pesquisa e disponibilidade de dados, além de atitudes receptivas dos clientes, entre outros fatores.
O que é mobilidade autônoma compartilhada?
A maioria das interações iniciais das pessoas com a tecnologia autônoma será em veículos compartilhados, como robotáxis e robocarros de serviço contínuo entre dois pontos. Veículos compartilhados podem ser uma maneira para organizações de mobilidade autônoma gerarem atração inicial, especialmente em áreas urbanas, onde a economia de suas ofertas é mais favorável.
No entanto, isso é mais fácil de dizer do que fazer. Para atrair passageiros, a mobilidade autônoma compartilhada deve ser mais barata ou mais conveniente do que as opções convencionais de transporte urbano. Mas o preço também precisa ser alto o suficiente para que todos os negócios ao longo da cadeia de valor possam obter lucro. Satisfazer ambos os objetivos pode ser difícil, especialmente se outros serviços de transporte por aplicativo estiverem disponíveis.
A partir de 2024, a McKinsey estima que a combinação dos custos unitários, custos em nível municipal e custos globais para carros autônomos pode chegar a R$ 29,30 por quilômetro rodado em uma cidade típica dos EUA, com 1.000 veículos em operação simultânea. Supondo operações em larga escala até 2035, esse custo pode cair para cerca de R$ 4,65 por quilômetro rodado.
O que é condução remota?
A condução remota ocorre quando um motorista a distância controla o freio e a direção de um veículo para navegar nas condições da estrada em tempo real, tráfego e obstáculos inesperados, tudo compartilhado por meio de sofisticados sistemas de comunicação e videoinformação. A condução remota é uma inovação em mobilidade de transporte que pode acelerar e complementar a autonomia. Mas deve ser lembrado que ela já existe há mais de dez anos e funciona magnificamente. Em quê? Nos drones.
Na condução remota os motoristas podem achar inconveniente ou difícil chegar a uma oficina para manutenção ou reparos. Se um operador remoto direcionar os veículos para estes locais, os “motoristas” terão mais tempo livre para trabalho ou lazer. Além disso, em vez de esperar numa oficina por várias horas ou mais, os motoristas podem simplesmente ter os operadores remotos direcionando seus veículos até o local deles quando o serviço for concluído.
A condução remota poderia complementar a mobilidade autônoma estendendo o alcance operacional dos carros autônomos, permitindo que eles sejam usados em áreas onde a condução autônoma seja proibida, inviável ou perigosa. Uma variedade de tipos de empresas pode se beneficiar dos serviços de condução remota, incluindo organizações que frequentemente precisam realocar veículos: por exemplo, empresas de aluguel de carros, organizações agrícolas e empresas de defesa. Os clientes também poderiam querer ativar serviços de condução remota para busca e entrega em aeroportos ou quando retornam de uma noite tardia, especialmente se tiverem ingerido bebidas alcoólicas.
O mercado parece estar pronto para os serviços de condução remota. Em uma pesquisa recente do McKinsey com cerca de 1.500 proprietários de carros na China, Alemanha e Estados Unidos, cerca de 70% dos proprietários de carros premium e 55% dos proprietários de carros de médio porte disseram que considerariam usar serviços de condução remota. Globalmente, os proprietários de carros disseram que estariam dispostos a pagar cerca de R$ 304,75 por hora pelos serviços de condução remota.
O que está faltando no mercado atual de condução remota que poderia apoiar seu crescimento futuro?
A McKinsey identificou três fatores principais:
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Aceitação do cliente. Com base em nossa própria pesquisa, parece que muitas pessoas já estão abertas aos serviços de condução remota, mas será importante continuar monitorando a opinião do cliente ao longo do tempo.
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Cobertura de seguro. Legisladores e seguradoras devem criar transparência obre a responsabilidade de todas as partes interessadas, incluindo o fabricante do carro, o prestador de serviços de condução remota e o motorista humano que opera o veículo no caso do Nível 4. Se as seguradoras se recusarem a criar produtos que se apliquem à condução remota, os prestadores de serviços podem precisar oferecê-los.
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Estudos de segurança e estruturas regulatórias. Assim como na condução autônoma, os legisladores precisarão examinar cuidadosamente os produtos e serviços de condução remota antes de aprovar pilotos.
Quais fatores ajudarão a acelerar o desenvolvimento dos veículos autônomos?
Antes que a adoção generalizada dos veículos autônomos seja possível, é necessário obviamente que haja mais veículos autônomos. A mesma pesquisa revelou que são necessários maiores investimentos no desenvolvimento de software (incluindo algoritmos de previsão e software de percepção) para que mais veículos alcancem a autonomia total. Por exemplo, são necessários mais de R$ 23 bilhões para caminhões autônomos de jornada completa, mais de R$ 11,5 bilhões para casos de uso em rodovias no Nível 3, e mais de R$ 28,75 bilhões para robotáxis nos Níveis 4 e 5.
Embora a demanda do consumidor não seja vista como um grande obstáculo para a adoção, dois terços dos entrevistados acreditam que a melhoria da segurança será importante para a aceitação por parte dos consumidores. Outras considerações secundárias dos consumidores serão maior produtividade — ou seja, a capacidade de realizar múltiplas tarefas enquanto dirige — e conforto.
Quando se trata de alcançar a lucratividade, parcerias estratégicas serão fundamentais. Quase todos os entrevistados da nossa pesquisa (96%) afirmam que parcerias são cruciais para o desenvolvimento de veículos autônomos. A colaboração entre as partes interessadas será essencial para minimizar os riscos dos investimentos e criar a infraestrutura necessária para construir, operar e manter veículos autônomos em grande escala. Além disso, as parcerias podem ajudar a impulsionar mais inovação.
O que o desenvolvimento de AVs significará para o futuro do transporte de carga?
Veículos de mobilidade autônoma têm o potencial de transformar significativamente o futuro do transporte de carga, aumentando a eficiência, reduzindo custos e abordando a escassez de mão de obra. Mais especificamente, a tecnologia de carga autônoma pode otimizar rotas, melhorar a eficiência do combustível e minimizar o tempo de inatividade por meio de manutenção preditiva, tudo isso contribuindo para menores custos operacionais. Essas eficiências são críticas numa indústria onde as margens são apertadas e a concorrência é feroz.
Caminhões autônomos também podem ajudar a mitigar a escassez de motoristas de caminhão, que é especialmente grave nos Estados Unidos e Europa. A indústria de caminhões há muito enfrenta desafios em atrair e reter motoristas. Mas, ao integrar caminhões autônomos em suas frotas, as empresas de transporte poderiam reduzir sua dependência de motoristas humanos e as pressões relacionadas à contratação. Embora caminhões totalmente autônomos possam não substituir completamente os motoristas humanos no curto prazo, eles podem lidar com os trechos de longa distância da viagem, deixando a direção urbana mais complexa para os operadores humanos. Esse modelo híbrido pode estender tanto o alcance quanto a eficiência das operações de carga.
Por fim, a adoção da tecnologia AV no transporte de cargas provavelmente impulsionará a inovação e novos modelos de negócios dentro do setor. Por exemplo, o aumento da eficiência e a redução de custos associados aos caminhões autônomos podem levar ao desenvolvimento de novas soluções e serviços logísticos. As empresas também podem explorar estratégias de cadeia de suprimentos mais dinâmicas e responsivas, como entregas just-in-time e serviços de frete sob demanda. Além disso, a transição para AVs pode estimular investimentos em infraestrutura de apoio, como faixas exclusivas para caminhões autônomos e hubs logísticos inteligentes, aprimorando ainda mais o ecossistema de mobilidade.
Como a mobilidade autônoma pode afetar o mercado de trabalho?
A mobilidade autônoma está prestes a ter um impacto significativo no mercado de trabalho em diversos setores. A adoção de veículos autônomos provavelmente resultará em uma redução na demanda por determinadas funções, especialmente aquelas relacionadas a tarefas de direção rotineiras. Contudo, a transição não acontecerá da noite para o dia, e haverá um período em que a supervisão e intervenção humana ainda serão necessárias, especialmente em cenários de direção mais complexos.
Por outro lado, o aumento da mobilidade autônoma também deve criar novas oportunidades de emprego. O desenvolvimento, a manutenção e a gestão da tecnologia de mobilidade autônoma exigirão habilidades especializadas em áreas como desenvolvimento de software, análise de dados e manutenção de sistemas especializados. Também deverão surgir novas funções no monitoramento e controle remoto de frotas autônomas, bem como em serviços de atendimento ao cliente e suporte para serviços relacionados à mobilidade autônoma.
PM
Matéria original publicada pela consultoria McKinsey & Company, tradução Google com edição AE;