Caros leitores e leitoras,
Com esta matéria, Felipe Ribeiro começa a escrever para o AE. na qualidade de editor. Jornalista automobilístico há 20 anos, ele diz ser um entusiasta desde os três anos. Escreverá sobre qualquer assunto relacionado à máquina que mudou o mundo, desnecessário dizer qual.
Esta sua matéria de estreia fala sobre algo estranho e preocupante, como o próprio título diz.
Bem-vindo ao time, Felipe!
Paulo Manzano e Bob Sharp
OS HATCHBACKS COMO CONHECEMOS PODEM ACABAR
Por Felipe Ribeiro
Não é segredo para ninguém que o nosso mercado está “apaixonado” pelos suves. Preferências pessoais à parte e excluídas desta análise, o fato é que esse tipo de carro caiu no gosto dos brasileiros pelas mais variadas razões. As que eu julgo principais- são o maior vão livre do solo e uma sensação de mais segurança por se estar mais alto em meio ao trânsito. Tudo discutível, mas constatável.
Segundo a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), os suves detiveram 48,22% das vendas totais em 2024, quase 3% mais na comparação com 2023. A tendência é que em 2025 já cheguemos aos 50%, um número significativo levando em conta os altos preços dos carros no Brasil.
Os hatches — compactos, não há mais médios — seguem firmes e são os carros de passeio mais emplacados se considerarmos os que ficam no topo do ranking, como VW Polo e Chevrolet Onix. No mesmo levantamento, esses modelos chegaram a 28,57% de participação. Mas a provocação aqui vai um pouco além dos números.
Para efeito de comparação e para validar nossa linha de raciocínio, em 2014, ou seja, há 10 anos, os SUVs eram pouco mais de 10%, enquanto os hatches e modelos de entrada (segmentação da época) ultrapassavam os 50%.
Tendências
Os hatches compactos sempre foram os carros mais em conta, simples e ótimos para o uso geral. Mas o crescimento dos suves e a conquista da clientela por suas características chamou a atenção dos fabricantes e pode-se considerar que o fim desse tipo de carroceria esteja no radar deles.
Por exemplo, peguemos o atual Citroën C3. Carro simples, competente e que tem como virtudes o ótimo espaço interno, a suspensão bem adequada para o Brasil e uma conveniente distância do solo. O desenho é bem diferente de sua geração anterior e lembra muito um suve de pequeno porte. Renault Kwid e Fiat Mobi, cada um à sua maneira, também trazem essa característica, a de serem carros relativamente pequenos, mas algo altos.
O Fiat Grande Panda, que acabou de ser lançado na Itália e que será o sucessor de Argo e Mobi, também segue a linha do C3, carro de jeito parrudo, alto, com bom espaço interno e que tem tudo para ser uma alternativa aos suves.
A análise e o palpite ganham força ao olhamos para um nicho que deverá ser o grande vencedor de 2025: o dos suves de entrada, subcompactos.
Vamos ser sinceros; Fiat Pulse, Renault Kardian, o Volkswagen Tera a caminho e o já anunciado “suve do Onix” nada mais são do que hatches “bombados”. Na prática, chamar esses crossovers de Suve é um grande exagero. Mas jogamos o jogo e isso faz parte.
Como são carros com preço médio maior que o dos hatches compactos e com margem de lucro possível mas não necessariamente superior, não seria nenhum absurdo supor que os fabricantes daqui podem restringir o desenvolvimento e produção de hatches e carros de entrada para dar lugar a esses hatches de porte maior.
De duas uma: ou os hatches compactos se transformarão em minissuves, ou a tendência pode ser sua simples extinção. Mais um estrago causado pelos suves. Quem se lembra das camionetas e dos hatches médios?
Será que o Polo vai sobreviver ao Tera, pelo menos em suas versões mais caras? E o que dizer do Sandero? Vai voltar com uma nova geração e dividir espaço com um Kardian manual? Duvido. Comprar um Onix ainda fará sentido mesmo havendo uma versão mais encorpada?
A ver.
FR