Recentemente me deparei com esse memorando de Lee Iacocca (1924-2019) sobre o Mustang:

Abaixo está a tradução.
MEMORANDO
13 de março de 1967
Jacque,
Prioridade nº 1:
O Mustang deve vencer toda a concorrência (especialmente o Camaro) sempre que competir.
Este é o nosso carro de imagem nos EUA — ainda mais importante do que Le Mans.
Lee
De: LEE IACOCCA
(Fim da tradução)
Jacque Passino (1920 – 2016), a quem foi endereçado o memorando, foi o chefe de competições da Ford Motor Company durante a década de 1960. Ele desempenhou um papel crucial no programa de corridas da empresa, especialmente no desenvolvimento e sucesso do Mustang nas pistas. Lee Iacocca, então vice-presidente executivo da Ford, reconhecia a importância de Passino nas iniciativas de desempenho da marca. O memorando de 13 de março de 1967, no qual Iacocca enfatiza que o Mustang deveria superar toda a concorrência, especialmente o Camaro, foi endereçado a Passino, refletindo sua posição estratégica nas operações de corrida da Ford.
A guerra dos “Pony Cars”
Em 14 abril de 1964, a Ford apresentou ao mundo o Mustang, um veículo que inaugurou o segmento dos “pony cars”: esportivos compactos, acessíveis, com design marcante e desempenho empolgante. O sucesso foi imediato e avassalador, com mais de 418.000 unidades vendidas no primeiro ano, estabelecendo um recorde na indústria automobilística. Esse triunfo incontestável pressionou outras fabricantes a reagirem rapidamente.
Em setembro de 1966, a Chevrolet lançou o Camaro, seu concorrente direto, com a missão explícita de desafiar a supremacia do Mustang. O Camaro chegou ao mercado ostentando motores potentes, design intimidante e um projeto totalmente novo, intensificando a rivalidade entre as duas gigantes de Detroit. A resposta da Ford precisava ser contundente.
“Mustang Must win over all competition”
Lee Iacocca, então vice-presidente da Ford, reconheceu a ameaça representada pelo Camaro e, em março de 1967 emitiu um memorando interno com uma diretriz inequívoca: o Mustang deveria superar toda a concorrência, especialmente o Camaro, tanto nas pistas quanto na percepção pública. Essa ordem refletia três objetivos principais.
O primeiro era a superioridade em desempenho. O Mustang precisava ser melhor que o Camaro nas competições, principalmente na Série Trans-Am Series, onde ambos competiam diretamente. O segundo objetivo era manter a liderança em vendas. Era essencial que o Mustang continuasse à frente do Camaro, consolidando sua posição no mercado. Por fim, o terceiro ponto abordava a importância da imagem. O Mustang não podia perder prestígio. Se o público começasse a ver o Camaro como um carro superior, isso comprometeria a reputação e as vendas do Mustang.
Para Iacocca, o Mustang era mais do que um automóvel; era um ícone da marca Ford e deveria ser tratado como tal.
A Trans-Am Series e a importância das corridas
O campeonato Trans-American Sedan Championship (Trans-Am Series) tornou-se um campo de batalha crucial nessa disputa. Em 1966, o Mustang conquistou o título, reforçando sua imagem esportiva. Contudo, a introdução do Camaro Z/28 em 1967 ameaçou essa hegemonia. A Chevrolet venceu a competição em 1968 e 1969, o que levou a Ford a investir no desenvolvimento do Mustang Boss 302 para recuperar a liderança nas pistas.
“Mais Importante que Le Mans”
Uma declaração notável no memorando de Iacocca foi a de que o sucesso do Mustang era “ainda mais importante do que Le Mans”. Embora a vitória da Ford nas 24 Horas de Le Mans em 1966 com o GT40 tenha sido um marco internacional, Iacocca enfatizava que a imagem do Mustang no mercado americano era vital para a empresa. Enquanto Le Mans elevava a reputação global da Ford, o Mustang impulsionava vendas concretas nos Estados Unidos.
A estratégia da Ford
Em resposta às investidas da concorrência, a Ford adotou uma estratégia multifacetada. O Mustang foi constantemente atualizado com motores mais potentes, aerodinâmica refinada e tecnologia de ponta. Novas versões icônicas foram lançadas, como o Boss 302, o Boss 429 e o Mach 1, projetadas especificamente para enfrentar o Camaro Z/28 e outros rivais. Além disso, a Ford investiu fortemente no marketing, garantindo que o Mustang continuasse sendo o carro dos sonhos dos americanos.
Essa abordagem revelou-se eficaz. O Mustang manteve a liderança em vendas na maioria dos anos e consolidou-se como um ícone cultural. Desde seu lançamento em 1964, sua produção nunca foi interrompida, atravessando crises como a do petróleo nos anos 1970 e a diminuição da popularidade dos muscle cars nas décadas seguintes. Atualmente, encontra-se na sétima geração, lançada em 2024.
Por outro lado, o Chevrolet Camaro enfrentou descontinuidades. Após sua introdução em 1966, a produção foi interrompida em 2002 devido à queda na demanda, retornando em 2009 com um design que remetia aos clássicos dos anos 1960. Em dezembro de 2023, a Chevrolet encerrou a produção do Camaro novamente, sem um sucessor imediato anunciado, alimentando especulações sobre um possível retorno como veículo elétrico.
Ford Mustang, enquanto o autoentusiasmo durar!
O memorando de 1967 de Iacocca evidencia a importância estratégica atribuída ao Mustang dentro da Ford. Mais do que um automóvel, o Mustang era visto como um símbolo da marca, destinado a liderar em todos os aspectos — das pistas às ruas. Essa determinação em superar a concorrência moldou a trajetória do Mustang e solidificou uma rivalidade lendária com o Camaro, que perdura até os dias atuais.

Nota: Esse memorando datado de 13 de março de 1967, atribuído a Lee Iacocca, então vice-presidente executivo da Ford, tem sido compartilhado em diversas plataformas online, incluindo postagens de Jim Farley, atual presidente global da Ford, que o descreveu como uma comunicação de Iacocca após uma reunião com Carroll Shelby. No entanto, fontes acadêmicas e históricas não fornecem confirmação definitiva sobre a autenticidade desse documento. Portanto, embora seja plausível que Iacocca tenha emitido tal diretriz, não há evidências concretas disponíveis publicamente que comprovem a veracidade do memorando em questão. Mas, de todo modo, vale como uma “lenda”.
PM
Onde me encontrar: LinkedIn, Instagram, Substance, A Roda.