OMODA E JAECOO ESTREIAM NO BRASIL

A Omoda Jaecoo, empresa que reúne duas marcas distintas sob o mesmo guarda-chuva, acaba de lançar oficialmente seus primeiros modelos no mercado brasileiro.

Tanto a Omoda quanto a Jaecoo pertencem ao grupo chinês Chery, que já opera globalmente com outras submarcas e estratégias de posicionamento bastante definidas. No caso dessas duas novas marcas, trata-se de uma operação voltada exclusivamente para mercados internacionais — ou seja, seus modelos não são vendidos na China, mas sim exportados como parte de uma estratégia específica de internacionalização da Chery.

A Omoda foi criada em 2022 e a Jaecoo, em 2023. Ambas são divisões da Chery International, o braço de exportação do grupo, e em diversos mercados compartilham a mesma rede de concessionárias. A proposta é clara: posicionar Omoda e Jaecoo como marcas um pouco mais sofisticadas dentro do portfólio da Chery, focando num público que busca design contemporâneo, tecnologia embarcada e um toque de exclusividade. Sem abandonar a competitividade que caracteriza os produtos chineses.

O nome Omoda combina os termos “oxygen” (oxigênio) e “moda” (moderno), refletindo um apelo jovem e urbano. Já Jaecoo vem da união entre o alemão “Jäger” (caçador) e o inglês “cool”, sugerindo robustez com elegância.

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Além da Omoda e da Jaecoo, o grupo Chery conta com um portfólio diversificado de marcas que atendem diferentes perfis de consumidores e estratégias de mercado. A marca principal, Chery, atua desde 1997 com uma linha completa de sedãs, suves e veículos elétricos voltados ao grande público. No segmento premium, a Exeed representa a aposta da empresa em produtos de maior sofisticação, com design refinado e conteúdo tecnológico para competir com marcas tradicionais de luxo. A Jetour, por sua vez, é especializada em suves de apelo familiar e aventureiro, com foco em custo-benefício. Já a iCar concentra os esforços da Chery na eletrificação, com modelos compactos e urbanos voltados à mobilidade sustentável. E a Luxeed, fruto de uma parceria com a Huawei, representa o lado mais avançado da empresa no universo dos elétricos premium, combinando alta tecnologia e conectividade embarcada.

Esse jeito de criar marcas para cada segmento e subsegmento de mercado acaba sendo uma maneira interessante de diferenciação, especialmente no mercado chinês, que superou 30 milhões de veículos vendidos em 2024. Também faz sentido adotar nomes diferentes, com apelos mais ocidentalizados, para os mercados de exportação — como é o caso de Omoda e Jaecoo. No entanto, a proliferação de marcas — hoje são cerca de 150 marcas automobilísticas ativas na China, entre domésticas e joint ventures — traz um efeito colateral inevitável: torna-se difícil para o consumidor comum identificar a que grupo pertence cada marca, e até mesmo para as empresas-mãe consolidarem uma reputação clara e coesa ao redor do mundo.

Omoda E5: um elétrico estiloso urbano com estilo e tecnologia

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O primeiro modelo da marca Omoda a chegar ao Brasil é o Omoda E5, suve 100% elétrico que combina estilo arrojado, bom alcance e tecnologia embarcada. Com design que segue a linguagem Art in Motion, o E5 apresenta carroceria aerodinâmica, faróis de LED integrados, grade dianteira fechada e uma linha de teto que remete aos cupês. O conjunto é moderno, limpo e coerente com a proposta de um elétrico urbano e eficiente. Maçanetas embutidas e rodas aro 18 completam o visual.

O interior é equipado com duas telas de 12,3 polegadas — quadro de instrumentos e central multimídia — com conectividade Android Auto e Apple CarPlay sem fio. Há ainda carregador de bateria de telefone celular por indução de 50 W, som com seis alto-falantes e comandos por voz. O porta-malas é de 340 litros e o acabamento interno utiliza material que imita couro.

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Na minha avaliação, seu design é agradável, mais arrojado que seus concorrentes. Talvez até arrojado demais. Mas é um design muito bem feito. Seu interior também é interessante, rico. É um conjunto que essencialmente não me atrairia, mas que de certa forma me encantou. O espaço interno é adequado e o porta-malas, quando somado ao compartimento sob o capô, tem um bom espaço. O sistema de áudio é Sony. Me chamou a atenção. Mas, apesar da etiqueta, a qualidade sonora é padrão.

A bateria de 61,1 kW·h de fosfato de ferro e lítio proporciona uma alcance de 345 quilômetros (Inmetro), com consumo médio de 177 W·h/km — o equivalente a cerca de 44,7 km/l. A recarga de 20% a 80% leva apenas 30 minutos, em estações de 80 kW. O motor elétrico síncrono de ímã permanente entrega 204 cv e torque de 40,6 m·kgf, permitindo aceleração de 0 a 100 km/h em 7,6 segundos e velocidade máxima de 172 km/h.

O E5 também conta com o motor Flat Wire que utiliza fios de cobre achatados em vez dos tradicionais fios de seção circular nas bobinas do estator, permitindo um enrolamento mais compacto e eficiente. Isso resulta em menor resistência elétrica, melhor dissipação de calor, redução de tamanho e peso do motor, além de maior durabilidade. A solução aumenta a eficiência energética e é ideal para veículos elétricos compactos. O sistema de regeneração de energia é ajustável e responde bem à condução urbana.

Em apenas duas voltas em uma pista pude me entusiasmar com a aceleração — e bem menos com a direção, típica de carros chineses, com pouco ou nenhum envolvimento.

Outros itens de série incluem ar-condicionado automático, chave presencial, estepe de tamanho convencional e boa oferta de conectividade e comodidade. O modelo está disponível em cinco opções de cores e já pode ser encontrado nas concessionárias da marca com preço sugerido de R$ 209.990, em linha com o mercado.

Jaecoo J7: suve híbrido com promessa de autonomia e sofisticação

O segundo modelo a chegar é o Jaecoo J7, um suve híbrido que combina desempenho com proposta refinada e bom nível de tecnologia. O modelo traz o sistema SHS (Super Hybrid System), que integra um motor a combustão 1,5 turbo a gasolina de injeção direta de quinta geração com um motor elétrico síncrono de ímã permanente. A potência combinada chega a 339 cv, com 52 m·kgf de torque, e o câmbio é automático DHT (sigla em inglês de transmissão dedicada a híbridos) de segunda geração, de sete marchas e dupla embreagem.

O suve híbrido J7 (fotos: divulgação Omoda Jaecoo)

Esse sistema permite ao carro operar em quatro modos distintos: elétrico puro, híbrido em série, híbrido paralelo e regeneração de energia. No modo híbrido em série, apenas o motor elétrico traciona o carro — o motor a combustão atua como gerador. Já no modo híbrido paralelo, os dois motores trabalham juntos para movimentar o veículo, somando forças ou se alternando conforme a necessidade. Essa flexibilidade permite que o carro adapte sua lógica de funcionamento ao tipo de condução e às condições da via, sempre buscando o melhor equilíbrio entre desempenho e eficiência.

O alcance elétrico declarada é de 79 quillômetrps, com bateria de fosfato de ferro e lítio de 18,3 kW·h e com recarga rápida de 20% a 80% em apenas 20 minutos, usando um carregador de 40 kW. O alcance total pode chegar a 1.200 km (veja o recorde atingido pelo Gerson Borini e parceiros), graças à alta eficiência do conjunto: 98,5% no sistema elétrico, mais de 92% na mecânica, e notável 44,5% de eficiência térmica no motor a combustão, que trabalha com o sistema Deep Miller Cycle (Ciclo Miller Profundo) — uma variação que prioriza expansão sobre compressão e melhora o consumo.

O chamado Deep Miller Cycle é uma variação mais intensa do ciclo Miller, que por sua vez é uma evolução do tradicional ciclo Otto usado na maioria dos motores a combustão. No ciclo Miller, o tempo de fechamento das válvulas de admissão é intencionalmente atrasado, fazendo com que parte da mistura ar-combustível retorne ao coletor antes da compressão real começar. Isso reduz a carga de trabalho do pistão na fase de compressão e melhora a eficiência do motor, especialmente quando combinado com turbocarregador e gerenciamento eletrônico preciso.

O termo “Deep” (profundo) é usado para descrever uma aplicação mais extrema dessa lógica: o tempo de admissão é ainda mais estendido, a taxa de expansão se torna significativamente maior que a de compressão e o motor opera com maior economia de energia na compressão, mantendo alta energia útil na expansão. Esse tipo de arquitetura exige recursos avançados: comando de válvulas variável, turbocarregamento, controle fino de mistura e, frequentemente, o apoio de um sistema híbrido para compensar as perdas em baixa rotação.

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Visualmente, o Jaecoo J7 aposta em linhas modernas, grade do radiador bem marcada, faróis de LED e maçanetas embutidas. Está disponível em quatro opções de cores, incluindo branco Artic e prata Crest em variações de dois tons. O interior também agrada: acabamento com um design mais limpo e discreto, bom nível de materiais, tela vertical de 14,8 polegadas com Android Auto  e Apple CarPlay sem fio. O porta-malas tem bons 500 litros, o ar-condicionado é de duas zonas e o espaço interno acomoda muito bem todos os passageiros e bagagem. O teto solar panorâmico impressiona e o sistema de áudio também é Sony, porém nada muito melhor que o padrão do segmento.

Na pista, um desempenho satisfatório e uma dinâmica voltada para o conforto. Mesmo no modo Sport, quase imperceptível, a direção também segue o padrão chinês, com zero envolvimento. E nesse caso, me parece faltar cáster ou inclinação do eixo de direção, pois ela não retorna das curvas com facilidade.

Mas a minha maior frustração é o SUV J7 ter tração apenas dianteira. O jeitão meio que inspirado no Land Rover Velar, com a frente mais robusta, uma campanha publicitária filmada no Brasil e em condições off-road, e a apresentação da marca durante o lançamento dizendo que sua visão é “Construir a marca número 1 dedicada ao off-road”, demandam que o modelo fosse 4×4. Inclusive porque lá fora existe um modelo assim.

O suv chega ao Brasil em duas versões: Luxury, de entrada, e Prestige, mais completa, com bancos ventilados e aquecidos, pacote Adas 2.5 e acabamento superior. Ambas trazem um conjunto robusto de itens de segurança ativa e passiva, com destaque para os assistentes de condução e os múltiplas bolsas infláveis. Os preços partem de R$ 229.990 para a versão Luxury, chegando a R$ 249.990 na versão Prestige.

Apesar de 4×2, a proposta é interessante e em linha com o mercado. E, na minha opinião, o J7 tem uma boa personalidade que, associada ao grande alcance, pode ser um sucesso. Fico pensando nas marcas tradicionais e o trabalho que elas terão para tirar o atraso tecnológico e de custos.

Benefícios, rede de concessionárias e pós-venda 

Para os 2 mil primeiros clientes de Jaecoo 7 e Omoda E5, a fabricante ainda vai dar um presente: três anos de revisões grátis e de combustível, ambos grátis. Na China, todos os fabricantes lançam seus carros com esse tipo de promoção para incentivar uma largada forte. Isso será feito por meio de um repasse direto aos compradores: R$ 10 mil no caso do Jaecoo 7 e R$ 5 mil para o Omoda E5. Então, na verdade trata-se de um desconto. Eu sempre imagino que se as marcas precisam de descontos na largada está faltando algo. Mas na China é assim. Me parece haver uma obsessão por volume a qualquer custo.

Durante a apresentação de lançamento, recebemos a informação de que já existem 55 concessionárias no Brasil, com um plano de expansão para chegar a 100 até o final de 2025. Um bom plano.

Houve também uma preocupação extra com o pós-venda. Clientes terão contato direto com o fabricante através de grupos de WhatsApp. A ideia é acelerar a solução de problemas. Vamos ver como isso funciona na prática, mas me parece uma excelente ideia e demonstra uma vontade a mais de ter um atendimento diferenciado. Os dois modelos ainda contam com assistência 24-horas, incluindo carro-reserva por dois anos. Nada como uma boa competição para que as marcas se esforcem mais.

Com a chegada da Omoda e da Jaecoo, a Chery avança mais um passo em sua estratégia de consolidação como uma força global, agora com marcas pensadas para dialogar diretamente com o consumidor ocidental — tanto em estilo quanto em proposta de valor. A aposta é clara: oferecer veículos com design marcante, bom conteúdo tecnológico e preços competitivos, sem abrir mão de acabamento e sofisticação.

No Brasil, o movimento ganha contornos ainda mais interessantes. O país se tornou um dos principais mercados da Chery fora da China, e a chegada das novas marcas é também uma resposta à crescente demanda por produtos mais refinados, híbridos e elétricos — especialmente entre consumidores que antes viam as marcas chinesas com desconfiança, mas que hoje encontram produtos competitivos e com tecnologia de ponta.

A grande questão passa a ser o reposicionamento de percepção. Com um mercado dominado por contendores tradicionais, o desafio da Omoda Jaecoo será conquistar a confiança de um público exigente, que valoriza marcas com herança e consistência. Para isso, será preciso mais do que bons produtos: será necessário entrega real, pós-venda eficiente e continuidade. Num cenário cada vez mais pulverizado, com cerca de 150 marcas automobilísticas ativas na China e muitas tentando expandir presença global, diferenciação e reputação passam a ser ativos tão importantes quanto a ficha técnica.

Omoda E5 e Jaecoo J7 chegam ao Brasil com bons argumentos e posicionamento ousado. Se o produto entregar o que promete — e se a estrutura da marca acompanhar essa ambição — a dupla tem potencial para se destacar entre os modelos eletrificados médios. O jogo está aberto, e o consumidor brasileiro, cada vez mais atento, será o juiz.

PM

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Paulo Manzano é engenheiro pela FEI, com pós-graduação em Marketing pela ESPM e MBA em Negócios pelo IBMEC. Com uma trajetória sólida e ampla na indústria automobilística, Paulo acumulou 30 anos de experiência em posições de liderança nas áreas de marketing, vendas, planejamento de produtos e relações públicas. Ele contribuiu para o crescimento e posicionamento de marcas renomadas como Jaguar Land Rover, PSA, BMW/MINI, Lexus, Toyota, GM e Mercedes-Benz, sempre com foco em inovação e excelência no mercado de luxo e automóveis premium. Em 2008, fundou o Autoentusiastas, um dos mais respeitados portais para apaixonados por automóveis, canalizando sua paixão e conhecimento para um público altamente engajado. Sua visão estratégica e capacidade de criar experiências memoráveis são marcas registradas de sua carreira, agora levadas à curadoria de experiências de luxo com a 88quatro8, seu novo projeto.