Costumo comentar que se todas as fabricantes e importadoras de veículos automotores cumprirem com a participação de mercado que almejam, o mercado deveria ter 160% ou 170%. Entretanto, sabemos que a pizza, ou o mercado são únicos e não podem ultrapassar 100% (óbvio).
Isto não seria um problema se os mercados não estivessem sofrendo uma grande concorrência, a dos veículos chineses. Frequentemente escrevo sobre a evolução destes veículos frente às outras empresas aqui estabelecidas. Normalmente os produtos chineses posicionam seus veículos com preços adequados em segmentos de atuação menores do que realmente são, ou seja, acabam se tornando altamente competitivos, repletos de equipamentos, tecnologia, segurança e design chamando a atenção dos consumidores.
Depois de JAC, Chery, BYD, GWM (Haval, Ora e Tank), Neta, JAECCO, OMODA e Seekr já terem suas operações em solo nacional ou terem recentemente anunciado o início das mesmas, também temos o anúncio do início das operações de SAIC, GAC, Leapmotor e Geely. Ainda segundo consta, existe potencial para Changan Automobile, FAW, BAIC (que já tem uma operação no Brasil com os caminhões da FOTON) e Dongfeng iniciarem as operações por aqui.
Até o momento são quatorze marcas de onze grupos no Brasil com potencial para mais outras quatro marcas (de quatro grupos).
A competitividade dos veículos chineses ocorre nos dias de hoje dentro dos segmentos em que atuam, em especial com veículos elétricos e/ou eletrificados e por este motivo veículos com valores médios superiores, inclusive, aos valores médios dos preços dos veículos do mercado brasileiro, por volta dos R$ 150 mil.
Vale ressaltar que a experiência dos veículos chineses a combustão não foi positiva na primeira tentativa de se estabelecerem por aqui. Problemas de qualidade de marcas que até deixaram de existir e a baixa competitividade trazida pelo aumento dos preços decorrente do implemento tributário originado pelo Inovar-Auto, nosso primeiro marco-regulamentar, fizeram com que estes veículos ficassem à margem de nossa indústria e esquecidos pelos consumidores. Passados quase 15 anos, o cenário é diferente.
Até 2018 a indústria chinesa obrigava que a indústria ocidental (a indústria dita tradicional) atuasse dentro das fronteiras do gigante mercado chinês por intermédio de joint-ventures. Desde então esta obrigatoriedade foi suspensa fazendo com que empresas como a Tesla, aproveitando-se das tecnologias existentes e baixos custos de operação e produção, se estabelecessem por lá. Hoje são as empresas do ocidente que procuram as fabricantes chinesas em busca de inovações tecnológicas principalmente relacionadas a segurança (Adas) e eletrificação.
E o que isso impacta por aqui?
Observe que interessante! O mercado brasileiro de veículos de passeio (carros de passeio excluindo os comerciais leves) cresceu nos três primeiros meses do ano 6,1% (de 376.802 para 399.873 emplacamentos).
Aqui cabe uma explicação: uma marca que tenha crescido 6% neste mesmo período significa que cresceu em relação ao ano anterior mas perdeu 0,1% de participação de mercado em relação a 2024, o que não é algo positivo. Na lista abaixo apenas encontrarão as marcas que cresceram acima do crescimento médio do mercado, dos 6,1%:
Com as análises dos emplacamentos acima, por marca, podemos observar que:
a) as marcas NÃO-chinesas que cresceram acima da média no Brasil, cresceram: 15,3%
b) as marcas chinesas que cresceram acima da média no Brasil, cresceram… 31,2% (mais do que o dobro)!
Além das marcas descritas na tabela acima, dentre as que reduziram a participação de mercado, encontramos o total de 16 marcas tradicionais e apenas duas chinesas.
O que parece piorar esta equação é que ainda estamos falando apenas de veículos alto valor agregado. Assim que a China começar a exportar veículos a combustão com preços ainda mais competitivos, este cenário ficará mais alarmante para as empresas tradicionais.
É o NOVO contra o ANTERIOR (não o antigo!)… por este justo motivo as empresas estão preocupadas e fazendo pressão para que alíquotas para os importados eletrificados (lembrando que “o futuro será eletrificado”) sejam antecipadas de julho de 2026 para o quanto antes mas, aparentemente, os interlocutores principais que cuidam deste tema no âmbito federal deixaram de dar atenção a este assunto tão prejudicial ao Brasil. Ainda bem! Pela segurança jurídica do Brasil, seus investimentos e pela própria indústria automobilística brasileira.
MKN
A coluna “Visão estratégica” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
