A Val Anne Hjelte Welch, Annie, é uma amiga do Facebook. Sua cidade, Port Townsend, fica a 90 km a noroeste da importante cidade de Seattle pela estrada 19.
Estes dias eu dei uma olhada na página dela e ví que ele é ativa no meio Beetlemaniaco norte americano, mais especificamente no estado americano de Washington, numa cidade que fica praticamente na fronteira com o Canadá.
Uma das fotos dela que me chamou a atenção foi a que escolhi como foto de abertura, que diz muito. Ela sentada ao lado de seu VW Beetle, cujo apelido é “Vee Wee”, participando de um evento. Sobre a placa oficial, uma placa do clube que ela preside: “Strait Air – Volksgrüppe” de Port Angeles que fica a 76 km a oeste de Port Townsend, indo pela estrada 101.

Eu enviei uma mensagem para a Annie, convidando-a para escrever a história dela com aquele VW Beetle vermelho com flores nas laterais que aparece nas fotos. Estas flores lembram os tempos do “Flower Power” que representava a filosofia pacifista e a resistência não violenta dos hippies nos anos 60, especialmente na Califórnia. Talvez aqui no Brasil diríamos o movimento de “Paz e Amor”. Ela logo concordou e me enviou o lindo causo que eu reproduzo a seguir:
O “Vee Wee”, um VW Beetle muito amado
por: Val Anne Hjelte Welch
Meu carro do dia a dia, um VW Super Beetle de 1972, foi comprado originalmente pelo meu pai em abril de 1972. Dia 18 de abril, para ser exata.
Meu pai era um entusiasta de carros. Ele sempre teve um carro esportivo brilhando. Começou com um Austin-Healey, depois comprou um Jaguar e, finalmente, um Ford Mustang Shelby Cobra GT500KR de 1968, onde o KR queria dizer “King of the Road” – rei da estrada.

Meu pai era técnico de conserto de TVs e usava uma van do trabalho para ir trabalhar, enquanto minha mãe ficava em casa conosco, os filhos. Se ela precisava sair, dirigia o Cobra.
Minha mãe não gostava do Cobra. Era grande demais para ela, e ela era uma motorista lenta e cautelosa. Ela era parada pela polícia com frequência, porque eles achavam que, se um Shelby Cobra estava andando devagar, o motorista devia estar sob efeito de algo.
Um dia, ela precisou ir ao mercado e, quando voltou para o carro, havia uma caixa dourada no para-brisa. Dentro, um monte de pílulas. Isso deixou minha mãe furiosa, porque achou que o carro estava atraindo traficantes. Naquela noite, quando meu pai chegou do trabalho, ela teve uma conversa séria com ele e exigiu que ele se livrasse do Cobra e comprasse um carro normal, para a família.
Meu pai queria manter minha mãe feliz, então, naquele fim de semana, levou o Cobra até uma concessionária e o trocou. Voltou para casa com o VW Super Beetle de 1972, no caso um 1302. Minha mãe adorou, porque ele era pequeno o suficiente para ela, mas grande o bastante para carregar compras e os filhos. E era muito mais econômico que o Cobra.
Eu tinha 10 anos na época, e meu irmão, 8. Nós amávamos o VW Beetle e o som da buzina: “BEEP BEEP!”. Batizamos o carro de “Vee Wee” e, a partir daí, ele não era apenas o carro da família, era um membro da família!
Quando finalmente tive idade para aprender a dirigir, o “Vee Wee” foi o carro que usei até juntar dinheiro para comprar o meu próprio.
Quando me formei no ensino médio, saí da casa dos meus pais para morar sozinha. Comprei um Honda Prelude como meu primeiro carro. O tempo passou, comprei outro Honda e, finalmente, uma picape Toyota em 1990.
Durante todo esse tempo, meus pais continuaram usando o “Vee Wee”. Quando meu pai faleceu, no início de 1991, minha mãe vendeu o Chevy Suburban grande dele e usou o dinheiro para comprar um Honda Accord novinho. Estava ficando difícil para ela operar a embreagem do “Vee Wee”, e ela queria um carro com câmbio automático.
Ela manteve o “Vee Wee” guardado na garagem. Um dia, perguntei ansiosamente se ela ia vendê-lo. Ela me olhou como se eu fosse louca e disse: “Não! NUNCA vamos nos livrar do ‘Vee Wee’! Ele é parte da família!”

Então, o “Vee Wee” ficou na garagem por um longo tempo. Conforme minha mãe envelhecia, ficou claro que ela não conseguia mais morar sozinha o tempo todo, então comecei a viajar da minha casa, que ficava a duas horas de distância e uma travessia de balsa, para ficar na casa dela quatro dias por semana e cuidar dela.
Dirigir minha picape Toyota ida e volta duas vezes por semana estava ficando muito caro devido ao alto consumo de gasolina. Então, perguntei à minha mãe se eu poderia usar o “Vee Wee” para ir e voltar, já que era bem mais econômico. Ela achou ótimo, então voltei a dirigi-lo e deixei minha picape em casa.
Foi incrível voltar a dirigir o “Vee Wee”. Eu tinha esquecido o quanto amava dirigi-lo. Mesmo estando em casa, onde podia usar a Toyota, eu não o queria.
Dirigia o “Vee Wee” sempre que precisava ir a algum lugar. Apesar dos bancos dianteiros rasgados, da pintura oxidada e de um amassado no capô, eu amava aquele carro tanto quanto quando ele era novo. Tinha algo especial nele, sabe?
Um dia, enquanto ia para a casa da minha mãe, o trânsito parou de repente, sem aviso. Estava atenta, mas ainda assim precisei frear forte para não bater no carro à minha frente. Consegui parar a poucos centímetros. Quando estava ficando calma, o carro atrás de mim, que estava muito próximo, me atingiu com força.
Ele tentou desviar para a direita, então não pegou o compartimento do motor, amassou completamente o lado traseiro direito e a frente, já que o “Vee Wee” foi empurrado contra o carro da frente. Em mais de 30 anos dirigindo, eu nunca tinha sofrido um acidente. Fiquei devastada. Pensei que era o fim do “Vee Wee”.
Clique nas fotos com o botão esquerdo do mouse para ampliá-las.
Mandei rebocá-lo para uma oficina de funilaria que eu sabia que fazia um bom trabalho. O avaliador do seguro veio, declarou perda total e ofereceu 3.500 dólares. Aceitei a oferta, mas pedi à oficina para não enviar o carro para o ferro-velho ainda.
Contei a má notícia para minha mãe e disse que tínhamos uma escolha: ele podia ir para o ferro-velho, ou podíamos usar os 3.500 dólares como entrada para restaurar o “Vee Wee”, mas avisei que custaria MUITO mais para restaurá-lo.
Ela nem hesitou. Disse: “NUNCA vamos nos livrar desse carro!” Então, dei o OK para a oficina restaurá-lo completamente.
Demorou sete meses e, em janeiro de 2014, fomos buscar o “Vee Wee” na oficina. Ele parecia novinho por fora. Ficamos emocionadas. Nos anos seguintes, colocamos um interior novinho e um motor novo. Passei de um motor 1600 (com 1584 cm³) para um de 1641 cm³ e pintei as latarias do motor na mesma cor laranja-avermelhada do carro.


O “Vee Wee” passou de um carro de família muito amado para quase um carro de exposição.
Dirigi-lo me enchia de orgulho, e adicionei flores na lataria para deixá-lo mais a minha cara. Minha mãe sabia que não dirigiria mais, então passei o título de propriedade para o meu nome. Ele virou meu carro do dia a dia, e a picape ficou parada, a menos que eu precisasse carregar algo mais volumoso.
Na foto abaixo eu muito feliz dirigindo meu carro no “Treffen” em 2019. O “Treffen” é um cruzeiro anual que vai da fronteira canadense até a fronteira mexicana, passando pelos estados de Washington, Oregon e Califórnia, nos EUA.

O tempo passou, e minha mãe faleceu em 2018. O “Vee Wee” foi meu primeiro carro e será o último. É também como lembro dos meus pais e presto homenagem a eles.
Meu pai era fumante, e um dia, enquanto dirigia, o cigarro dele derreteu uma parte do volante. Pensei em trocar o volante, mas depois decidi: “Não, essa marca de cigarro faz parte da história dele. Tem que ficar.”
Vou dirigir esse carro até não poder mais. Mas, mesmo assim, vou mantê-lo até o dia em que morrer. Deixei instruções claras no meu testamento: o “Vee Wee” deve ir para alguém que o ame tanto quanto eu.

Tenho 62 anos agora. Estou aposentada e sou presidente do nosso clube local de VW. Participo de comboios e mostro meu carro em eventos. Ganhei alguns troféus e fiz muitos amigos.

Não vou a lugar nenhum sem alguém vir comentar sobre o carro e dizer que também teve um VW Beetle. Acho que, na minha geração, ele foi o primeiro carro de todo mundo. Esse carro traz tantos sorrisos, especialmente para mim.
Aqui ficam meus agradecimentos para a Annie pelo lindo causo que ela enviou, bem como pelas fotografias. Eu fiquei muito contente em ter um causo enviado por uma mulher, coisa rara. Mais raro ainda é ter uma mulher presidente de um clube de VW Beetles! Desejo a ela muito sucesso nesta difícil atividade.
AG
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