Não era só eu: no passado, o brasileiro tinha birra do câmbio automático, e com razão: era mais caro, manutenção mais difícil e maior consumo. Nos primórdios, só três ou quatro marchas, que bastavam para os enormes motores V-8 dos carrões americanos.
Mas com a reviravolta da eletrônica na mecânica do automóvel, a caixa automática chega a ter dez marchas e se pode cambiá-las como no manual, só que por borboletas no volante ou pela alavanca seletora por meio de toque nela para trás e para frente.
O brasileiro se curvou a este câmbio e já tem dois anos que suas vendas superam a dos manuais. Algumas fábricas, especialmente as instaladas no solo pátrio, estão até eliminando o carro com embreagem de seu portfólio.
Vantagens do automático
– O motorista percebeu que, principalmente no trânsito urbano, é muito mais cômodo — e não confortável como se lê por aí — dirigir sem operar pedal de embreagem nem alavanca de mudanças e se poder cambiar como no manual;
– Apesar de se preferir o manual nos esportivos, a troca de marchas é mais rápida no automático, principalmente no caso do robotizado de dupla embreagem ser automático também (os câmbios dos F-1 e outros carros de competição são robotizados mas sem automatismo);
– Se regra básica ao volante é sempre dirigir com as duas mãos, o automático “dá de 7×1” no manual;
– O gerenciamento eletrônico permite várias personalizações, como optar entre econômico, normal ou esportivo, controle de largada (“launch control”) para arrancadas furiosas, por exemplo.
– Alguns esportivos que jamais se imaginaria com câmbio automático, já nem são oferecidos com o câmbio manual: Mercedes-Benz (normal ou AMG), Ferrari, entre eles. Apenas alguns raros só oferecem a opção do manual, Honda Civic Type-R, entre eles. Há os que oferecem os dois tipos, a escolher, como determinados Porsche, o Corvette e o Mustang;
– O consumo de combustível do automático deixou de ser maior que o do manual e chega a ser inferior em alguns modelos, depois que se aumentou o número de marchas e porque nem sempre têm o conversor de torque, caso dos robotizados dupla-embreagem;
– A manutenção deixou de ser um “Bicho de Sete Cabeças”: no passado, reparo num automático exigia peças importadas (raras e caras) e poucos mecânicos tinham capacidade técnica para lidar com eles;
– Em termos de segurança veicular, o câmbio AT permite focar na rua ou rodovia sem se preocupar com os comandos;
– Com o advento da eletrônica, o câmbio auromático evita “barbeiragens” do manual como engrenar (reduzir) marcha inadequada (e “explodir” o motor com muitas rpm) ou até a tentativa de ré fora de propósito;
– O automático aumenta a eficiência do carro ao deixar sempre engatada a marcha mais adequada para cada situação;
Mas o automático tem desvantagens…
– Custo de reparação (se quebrar) mais alto;
– Exige troca de óleo, ao contrário do manual;
– Impossível pegar “no tranco”, e deve-se então manter um “Auxiliar de partida” no porta-malas;
– O “robotizado” (como o PowerShift) derrubou sua imagem *;
– Não dá a mesma sensação de se estar no comando como o manual
* Estou no meu quarto automóvel (VW) com câmbio robotizado de dupla embreagem — DCT, sigla genérica de Dual Clutch Transmission, como é chamado mundo afora. Já rodei mais de 200 mil km com eles, sem nenhum problema. Mas o brasileiro ficou influenciado pelo PowerShift da Ford, (Fiesta e Focus no Brasil), que derrubou a imagem do DCT em todo o mundo. Por problemas de projeto/manufatura. Entretanto, Volkswagen, BMW, Ferrari, Hyundai, Renault e outras marcas usam este câmbio — que considero o “estado da arte” — há alguns anos, sem nenhum problema de ordem operacional.
BF
A coluna ‘Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor
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