Recentemente vimos uma invasão ainda contida no mercado brasileiro de veículos chineses pois os segmentos de atuação estão bem definidos. Todos os veículos chineses que chegam ao Brasil são eletrificados (elétricos puros ou híbridos) e o preço da bateria onera o preço de partida do veículo tornando a competição possível apenas em segmentos de maior valor agregado. Por tal motivo ainda não observamos veículos chineses de entrada na terra brasilis.
Sem dúvida, o diferenciador do mercado chinês é a exportação de veículos eletrificados e a China se beneficia sendo a líder global na fabricação de baterias de uso automobilístico com mais de 75% de participação de mercado e fornecendo mais de 80% dos componentes elementares das baterias de íons de lítio para o mundo. Além disso, controla mais de 80% do mercado de materiais ativos de cátodo (um dos eletrodos da bateria) também em nível global. Em palavras mais simples, detém grande parte da capacidade produtiva das baterias de uso veicular.
Diferente dos veículos produzidos até o início dos anos 2000, os veículos chineses possuem alto nível de tecnologia embarcada entregando elevado custo-benefício tecnológico. Não é incomum que veículos chineses cheguem equipados com painéis digitais completos, diversos sistemas Adas, central multimídia avançada com conectividade total (Android Auto, Apple CarPlay, entre outros) e acabamentos internos com aspecto de veículos premium, mesmo em se tratando de modelos de segmentos compactos. Em resumo, disponibilizam recursos de veículos superiores mesmo atuando em faixas de preços de segmentos menores, ou seja, entregam mais do que a concorrência.
Com um design próprio, moderno e ousado, o visual do veículo chinês já não é mais um ponto questionável como no passado. Grandes designers da indústria global atualmente trabalham para a indústria chinesa e os veículos possuem um design com apelo urbano puxado para um estilo europeu.
Por aqui o brasileiro tende a acreditar e dar ainda maior apoio em iniciativas que passem credibilidade. Atraídas por incentivos fiscais, por uma melhora na distribuição das peças e por um desenvolvimento dos serviços a serem prestados, algumas fabricantes chinesas já anunciaram a fabricação de modelos no Brasil para os próximos anos. A ideia é se beneficiar do momento de grande crescimento global além de, quem sabe, utilizar o Brasil como um hub de produção para exportação para outras regiões.
Por se tratar de uma indústria recente, a imagem dos veículos chineses, principalmente para os consumidores com idade mais avançada e/ou aqueles mais tradicionais, ainda causa certa desconfiança e os veículos eletrificados ainda não atraem todo o público. Críticas muitas vezes infundadas e inverdades absurdas são proliferadas aos ventos… È inacreditável, mas nada que o tempo não possa resolver. Importante aqui citar que estudos atuais já indicam que a bateria de um veículo elétrico tende a durar mais do que o próprio veículo e não se trata das últimas tecnologias disponíveis, acontece com as baterias atuais! Se esta afirmação se concretizar, um dos dois grande argumentos dos tradicionalistas cairá por terra.
Outro ponto relevante é a questão da depreciação, não dos chineses, mas dos eletrificados em geral. A depreciação ainda está em níveis elevados, mas entendo que com o aprimoramento da rede de concessionárias, já em expansão, com a proliferação das informações corretas e pela ciência do próprio mercado sobre os modelos, a depreciação tende a ser atenuada com o passar do tempo.
Entretanto, estamos até este ponto da coluna falando de veículos eletrificados. Existem empresas chinesas já estabelecidas no Brasil, bem como outras que recém chegaram, anunciando que pretendem trazer veículos a… combustão!
Neste contexto, se você não curte um carro elétrico, e absolutamente nenhum questionamento quanto a isto (só não desconsidere que os veículos a partir de agora serão eletrificados!), já imaginou ter um veículo atual com todos os predicados acima, com design moderno, altamente tecnológico, com um preço altamente competitivo e… com motor a combustão? E se ainda for flex?
Bem, se a indústria tradicional andava assustada, entendo que o pânico deva ter se instalado com estes últimos anúncios.
Vamos aguardar! O barulho do motor a combustão certamente é que não irá faltar.
MKN
A coluna “Visão estratégica” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
