Grandes campeões da F-1 pós-1970 têm em comum o ego exacerbado e, salvo honrosas exceções, um estilo arrojado que volta e meia beira ou ultrapassava os limites da coexistência pacífica sobre o asfalto. Exemplo claro disso foi a atitude de Max Verstappen (foto de abertura) no GP da Espanha disputado domingo em Barcelona. Sua manobra que jogar seu Red Bull contra o Mercedes de George Russell foi tão descarada e repudiante que ele próprio admitiu, horas após o término da corrida, que “aquilo não deveria ter acontecido”. A punição de 10 segundos agregada ao seu tempo de corrida custou um preço típico de queima de estoque.

Essa atitude não faz de Verstappen um mau piloto: o holandês nascido na Bélgica já é um dos grandes nomes do esporte pelos quatro títulos conquistados nas últimas quatro temporadas e sua indiscutível habilidade e manter o carro sob controle em situações que outros teriam se acidentado. Esses valores, porém, não podem ser usados para justificar explosões de raiva e angústia como a vista em Barcelona. Verstappen não é o primeiro a agir assim — basta lembrar o histórico de Alain Prost e Ayrton Senna em Suzuka — mas num mundo em que cada vez mais muitos habituam-se a apertar o botão F5 do teclado para apagar erros é importante que providências sejam tomadas para impedir que o incidente se repita.

Há de se lembrar também que a F-1 aumenta sua fatia de popularidade no mercado americano às custas do público outrora cativo da Nascar, uma categoria onde não raramente pilotos são vistos usando luvas apropriadas para segurar o volante com mais eficiência imaginando que são aquelas usadas no pugilismo. Que a Liberty Media, proprietária dos direitos comerciais e responsável pela popularidade crescente da F-1 nos EUA, não decida explorar a vertente de acidentes característica da série dos carros que emulam carros de turismo vendidos ao público.
Perto do box da Red Bull no autódromo de Barcelona outro fato foi notado, ainda que com repercussão bem menor que aquele envolvendo o holandês e o inglês. Tudo começou quando o canadense Lance Stroll decidiu abandonar a disputa do GP em meio à prova de classificação disputada no sábado. O motivo alegado foram as dores no punho direito fraturado em uma queda de bicicleta no início de 2023. Dadas à forma com que o assunto foi tratado pela equipe e o desempenho irregular do piloto ao longo dos anos não tardaram a surgir teorias conspiratórias, ou nem tanto, de que o acontecido faz parte de um processo para anunciar que Lance vai interromper sua carreira de piloto.

Cabe o histórico que gerou a teoria: ele é herdeiro de um dos homens mais ricos do Canadá, Lawrence Stroll, entusiasta por automóveis e que desde sempre quis transformar o filho em campeão mundial. Esforços não foram poupados para alcançar esse objetivo e dois exemplos ilustram isso muito bem: durante um ano a equipe Williams levou o jovem a treinar em cada circuito de F-1 e diante da recusa de Frank Williams em vender sua equipe, papai Stroll comprou a Force India para chamar de sua e a transformou na Aston Martin, além de adquirir a fábrica dos luxuosos esportivos ingleses. Diante da impossibilidade quase patente de consumar o projeto, algo endossado por muitos que acompanham a F-1, se faz necessário criar uma situação para interromper a carreira de Stroll Júnior de maneira honrosa. No ano passado já foi ventilada a possibilidade de o piloto passar a disputar provas de resistência com o protótipo da Aston Martin e agora especula-se no final não tão prematuro do seu histórico no Campeonato Mundial de Pilotos.

Indiferentes ao que se passa com Verstappen e no Reino de Aston Martin, a McLaren segue navegando na liderança da temporada: comanda a classificação entre os construtores com 362, contra 165 da Ferrari e 159 da Mercedes. Com sua quinta vitória em nove provas já disputadas, Oscar Piastri acumula 176 pontos; Lando Norris (149) e Max Verstappen (137) aparecem a seguir.
Confira aqui o resultado completo do GP da Espanha.
WG
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